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O ENSINO
JURDICO DOS DIREITOS HUMANOS NA UFPB
Luciano Mariz Maia1
A Universidade Federal da Paraba
introduziu, de modo pioneiro, Curso de Direitos Humanos, a nvel
de ps-graduao (especializao), e de carter
multidisciplinar, no ano de 1995. O curso teve durao de 2
(dois) anos. Ali, o curso sustentava-se sobre fundamentos
histricos, filosficos e jurdicos, culminando com
experincia prtica, em tema de investigao de campo, a ser
desenvolvida pelo aluno.
Essa experincia estimulou o
surgimento, a partir do ano acadmico de 1998, do Curso de
Direitos Humanos, como disciplina optativa, no Curso de Direito.
Os antecedentes histricos e os fundamentos filosficos
permaneceram, mas com aspectos jurdicos e normativos das
declaraes, tratados, convenes e pactos internacionais, em
temas de direitos humanos.
O curso, portanto, trata dos
aspectos jurdicos e normativos das normas internacionais e
nacionais de direitos humanos.
O programa da disciplina vem assim
estruturado:
1 Parte
I. Antecedentes histricos e jurdicos
A. As primeiras declaraes de
direito, e seu contexto histrico
1. Declarao de Independncia dos Estados Unidos (1776) e
Declarao de Direitos de Virgnia;
2. Constituio Americana de 1787;
3. Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado (Frana)
1789;
4. O Manifesto Comunista (1848);
5. Encclicas Rerum Novarum e Populorum Progressio;
B. Conflitos armados internacionais
1. A 1 Guerra Mundial e a formao da Liga das Naes;
2. A 2 Guerra Mundial e a criao das Naes Unidas;
II. Sistema Internacional (da ONU)
de Proteo aos direitos humanos
A. Carta da Organizao das
Naes Unidas (1945);
B. Declarao Universal dos Direitos Humanos (1948);
C. Instrumentos internacionais (no mbito da ONU) de proteo
aos direitos humanos;
1. Conveno contra o Genocdio
(1948)
2. Pacto dos Direitos Civis e Polticos (1966);
3. Pacto dos Direitos Econmicos, Sociais e Culturais (1966)
4. Conveno sobre a Eliminao de todas as Formas de
Discriminao Racial (1965);
5. Conveno sobre a Eliminao de todas as Formas de
Discriminao contra a Mulher (1979);
6. Conveno sobre os Direitos da Criana (1989);
7. Conveno contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas
Cruis, Desumanos ou Degradantes;
8. Jurisdio da Corte Permanente Internacional de Justia (Haia)
e dos rgos baseados em tratados;
1 Estgio
III. O Sistema Interamericano de
Proteo aos Direitos Humanos
A. A Carta da OEA (Organizao
dos Estados Americanos);
B. Declarao Americana de Direitos Humanos;
C. Conveno Americana de Direitos Humanos (Pacto de San Jos
da Costa Rica);
D. Conveno Interamericana para prevenir e punir a Tortura;
E. Jurisdio dos rgos da OEA, ou baseados em tratados
regionais.
IV. A incorporao, no direito
constitucional brasileiro, dos direitos humanos.
A. Constituies de 1824; 1989;
1934; 1937; 1946; 1967.
B. Constituio de 1988.
2 Parte
VI. Alguns direitos garantidos
A. Direito No
-discriminao;
B. Direitos das Minorias tnicas, Lingsticas e Religiosas;
C. Liberdade de Expresso;
D. Preveno contra a Tortura;
E. Direito Reforma Agrria;
F. Direito Habitao;
G. Direito Sade;
H. Direitos da Criana e do Adolescente;
I. Direitos dos Idosos, e dos Portadores de Deficincia;
J. Direitos da Mulher.
2 Estgio
3 Parte
VII. Instrumentos de garantia dos
direitos humanos
A. Instituies incumbidas da
defesa dos direitos humanos:
1. governamentais: ouvidorias,
conselhos (comisses) de direitos humanos, ministrio pblico,
defensoria pblica;
2. no-governamentais: sociedades e associaes; partidos
polticos, OAB, Igreja, (Anistia Internacional, America's Watch,
Survival International); (Movimento Nacional de Direitos Humanos,
Movimento de Meninos e Meninas de Rua).
C. Remdios processuais.
1. Habeas Corpus
2. Habeas Data
3. Mandado de Segurana
4. Mandado de Segurana Coletivo
5. Direito de Petio (Representao por abuso de poder, e.g.)
6. Ao popular
7. Ao Civil Pblica
8. Ao de inconstitucionalidade por Omisso
9. Mandado de Injuno.
3 Estgio.
A primeira parte do curso aborda os
antecedentes histricos e jurdicos, e analisa os sistemas
internacionais de proteo aos direitos humanos, nos mbitos da
ONU e dos Estados Americanos.
O objetivo visado situar e
contextualizar os direitos humanos como fruto dos avanos do
pensamento das sociedades humanas, em torno do fortalecimento dos
conceitos de direitos universais, de todos os seres humanos. Da
dignidade da pessoa humana.
Os sistemas internacionais de
proteo so aqueles aos quais o Brasil est vinculado.
Portanto, suas normas obrigam o Estado Brasileiro, e informam e
interagem com o direito domstico.
Alguns instrumentos so vistos em
perspectiva, de modo a chamar a ateno dos estudantes para os
temas ali versados, e realizar um convite a uma anlise mais
profunda.
A primeira parte constituda
com o estudo do impacto desses direitos humanos sobre o direito
constitucional brasileiro, tambm analisado em sua perspectiva
histrica. As disposies relativas aos direitos e garantias
fundamentais previstas desde a primeira Constituio do Brasil,
a de 1824, at a de 1988, so estudadas e comparadas com os
tratados, pactos, e convenes internacionais.
A segunda parte do curso consiste
em exame aprofundado de um grupo selecionado de direitos humanos,
merecedores de ateno mais exigente, em razo do impacto que
realizam no dia-a-dia da sociedade brasileira, hoje.
Desse modo, temas como Direito
No-discriminao; Direitos das Minorias tnicas;
Lingsticas e Religiosas; Liberdade de Expresso; Preveno
contra Tortura; Direito Reforma Agrria; Direito
Habitao; Direito Sade; Direitos da Criana e do
Adolescente; Direitos dos Idosos, e dos Portadores de
Deficincia; e Direitos da Mulher; so estudados nos seus
aspectos normativos de direito internacional dos direitos humanos,
e de direito constitucional positivo brasileiro, e analisados
luz dos precedentes das cortes internacionais, e das cortes
nacionais.
Nesse ponto, o curso deixa de ser
um esforo unicamente terico, para se converter em exame
crtico do sistema jurdico nacional, quando as opinies e
posicionamentos e pronunciamentos de juristas estrangeiros, tendo
por base o mesmo instrumental normativo.
Por outro lado, o estudante
convidado a se debruar sobre a realidade em que vive, e
verificar se as respostas do nosso sistema jurdico produzem
solues compatveis com o nvel de desenvolvimento normativo
dos direitos humanos vlido e aplicvel s naes ditas
civilizadas.
Na terceira e ltima parte do
curso, so examinados instrumentos de garantia dos direitos
humanos, incluindo tanto as instituies incumbidas da
promoo, proteo e defesa dos direitos humanos quanto os
remdios processuais disponveis para fazer valer os direitos
previstos em tratados e convenes internacionais, ou
dispositivos constitucionais.
Particularmente a apresentao de
instituies no-governamentais, e de remdios processuais
como o habeas corpus, o direito de petio e a ao popular,
faz lembrar aos estudantes que a luta em defesa dos direitos
humanos no deve se restringir aos rgos oficiais encarregados
de sua proteo, mas tarefa de cada um cidado, de cada um
indivduo.
Um ponto forte no modo de
desenvolvimento do curso o estmulo a que os temas abordados
sejam vivenciados. Assim visitas a acampamentos de sem-terra;
acampamentos de sem-teto; redaes de rdios e jornais;
anlise de noticirios jornalsticos ou programas de
entretenimento, em rdios e televises; exame de dados
estatsticos, sobre conquistas e participao feminina ou de
populao negra, no mercado de trabalho, nos ganhos salariais e
na riqueza social, e na sociedade como um todo; tudo faz parte do
cotidiano dos estudos de direitos humanos, que aliam uma rigorosa
anlise cientfica do direito, a investigaes de campo, em
que se fundem abordagens de sociologia e antropologia jurdica,
com a prpria crtica do sistema normativo.
As dificuldades para ministrar um
curso de direitos humanos, nos moldes em que apontado, e na
realidade da universidade pblica de hoje, so enormes.
Primeiramente, h escassez de bibliografia, em portugus, para
os temas ventilados no programa. E, como se sabe, a exigncia de
lngua estrangeira s se d para estudos a nvel de
ps-graduao.
A bibliografia em portugus ainda
generalista. No h aprofundamento temtico de direitos
humanos, que consiga realizar cobertura completa do programa
previsto.
Para superar essas dificuldades, os alunos so estimulados a
colaborar, produzindo material acadmico para os demais colegas
do curso em desenvolvimento, e para os colegas das classes
vindouras. Isso se d a partir do estmulo aos que dominam
outros idiomas, a realizarem pesquisa em bibliotecas de algumas
outras entidades e organizaes, que no a UFPB; no acervo
particular de alguns professores e membros do Conselho Estadual da
Defesa dos Direitos do Homem e do Cidado; e em bibliotecas
virtuais, pela Internet.
A propsito, est no prelo uma
publicao conjunta de professor do Curso de Direitos Humanos, e
alunos da primeira turma, do turno da manh, cujo ttulo,
bastante sugestivo, "Curso de Direitos Humanos - uma
construo coletiva", onde o que se constri tanto o
saber terico, como sua aplicao prtica, pela insero
daqueles jovens em projetos e atividades conduzidos em parceria
pela UFPB e pelo Conselho de Direitos Humanos.
H ainda muito o que fazer. Muito
o que ensinar, mas ainda o que aprender. Mas os primeiros os
j esto sendo dados. E muitos esto sendo convidados, e
aceitando, realizar essa caminhada pela promoo, proteo e
defesa dos direitos humanos.
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