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Comit Estadual pela Verdade, Memria e Justia RN - Rio Grande do Norte Centro de Direitos Humanos e Memria Popular CDHMP Rua Vigrio Bartolomeu, 635 Salas 606 e 607 Centro CEP 59.025-904 Natal RN 84 3211.5428 [email protected] 5wr5y

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Relat

Subverso no RN - Relatrio Veras
Coleo Represso no RN - Volume 01

Prefcio

Comit Estadual pela Verdade, Memria e Justia RN
Dos anos 60 Ditadura: Memrias preliminares

Dermi Azevedo*
24/05/2012

Quando o barulho dos avies da FAB j se tornava ensurdecedor, ao sobrevoarem Natal, na manh de 31 de maro de 1964, o reitor do Seminrio de So Pedro, Cnego Lucilo Alves Machado, convocou os seminaristas para uma breve reunio na sala de rdio. Um dos jovens perguntou-lhe o que estava acontecendo.

Ele respondeu que os militares estavam derrubando o comunismo no Brasil. Este seria um dia diferente – terrivelmente diferente - para centenas de famlias que haviam votado no prefeito Djalma Maranho ou que tinham sido consultadas gratuitamente pelo mdico Vulpiano Cavalcanti ou ainda que se alfabetizaram debaixo das barracas da campanha “De p no cho tambm se aprende a ler”.

Os polticos norteriograndenses que haviam participado da conspirao pr-golpe estavam eufricos. Entre eles Dinarte Mariz, um cacique da regio do Serid, em cujo curriculo constavam discursos e atitudes sempre marcadas pelo anticomunismo rudimentar. Outros, mais novos, buscavam freneticamente adaptar-se nova situao. Um deles era Alosio Alves, um carismtico jornalista de Angicos, que levou s ruas multides vestidas de verde, como sinal da esperana em dias melhores.

O modelo hegemnico de poltico populista nos anos 60, em nvel mundial, era o de John Kennedy, o jovem presidente norte-americano que, ao lado de sua esposa Jacqueline, personificava o ideal do homem pblico. Demorou muito tempo para que a opinio pblica descobrisse os vnculos entre Kennedy e os grupos mafiosos dos Estados Unidos. No se pretende aqui fazer qualquer comparao indevida, mas simplesmente demonstrar que muitos dolos tm ps de barro. Muito se esperava de Alusio Alves, em termos de renovao da classe poltica estadual, no entanto, logo aps o golpe, iria tornar-se o nico Governador de Estado, na federao brasileira, a decretar a punio em massa de servidores pblicos acusados de “subverso”.

Publicou no Dirio Oficial um decreto com a demisso sumria de 82 funcionrios pblicos, acusados de “subverso”. Para “justificar” esse e outros atos, o governador contratou, em Pernambuco, dois delegados da Polcia Federal. Jos Domingos da Silva e Carlos Moura de Moraes Veras, selecionados em parceria com o 4 Exrcito. Eles produziram o “Relatrio Veras” e fabricaram, em tempo recorde, um dossi, com 67 pginas, com o ttulo “Subverso no Rio Grande do Norte”. Seus alvos preferidos foram a Rede Ferroviria Federal, as reas cultural e sindical, estudantil e a Prefeitura Municipal de Natal.

Alves nomeou uma comisso de inqurito, com o objetivo de “apurar, com jurisdio em todo o Estado, a pratica de atos contra a segurana do Pas, e regime democrtico e a probidade da istrao pblica ou crime contra o Estado e seu patrimnio, a ordem poltica e social e os atos de guerra revolucionria”.

Nessa lista, h vrios nomes conhecidos: o prefeito natalense Djalma Maranho, que morreria, em plena ditadura, no Uruguai; o coordenador da campanha “De p no Cho tambm se aprende a l”, professor Moacyr de Ges, o pastor Jos Fernandes Machado, o jornalista Ubirajara de Macedo e o mdico Vulpiano Cavalcanti. Todos eles eram apontados pelos meios de comunicao, como “subversivos” e “indivduos perigosos a serem evitados”.

A gerao de lderes estudantis de 1968 estava sendo forjada, nessa poca. Aprendeu muito com esses homens e mulheres do povo. A primeira lio aprendida foi a de colocar-se disposio das causas populares e a de colaborar com iniciativas que favorecessem as reformas de base, a grande bandeira da poca pr-golpe.

Depois do Relatrio Veras, a segunda lista de “inimigos pblicos” foi publicada em 1968, pelo Exrcito, nas emissoras de rdio de Natal. ramos “convidados” a comparecer (eu, Juliano Siqueira, Jaime Ariston, Rinaldo Barros, Emmanuel Bezerra, Jos Silton Pinheiro e outros colegas do movimento estudantil) ao quartel general do Exrcito. A mensagem radiofnica “convidava” os lderes do movimento para irem ao quartel “para tratarem de assuntos de seu interesse”. Os companheiros que atenderam ao chamado, foram interrogados e presos. Optei por viajar para o sul do pas e iniciei assim um longo perodo de semiclandestinidade e de exlio, s concludo em 1974, quando voltei a Currais Novos, com a minha famlia.


IGREJA

No Rio Grande do Norte, nos anos 60, a Igreja Catlica Romana foi a principal instncia de mobilizao popular. No, evidentemente, em favor das reformas de base propostas pelo presidente Joo Goulart e pelas foras de esquerda, mas no sentido de concretizar as propostas desenvolvimentistas, amparadas nas decises do Conclio Vaticano II. O personagem central dessa mobilizao no Estado foi o Apostlico de Natal, d. Eugnio de Arajo Sales, que seria depois nomeado Cardeal Arcebispo do RJ. A massa crtica que dava apoio poltico e tcnico a d. Eugnio constitua o Movimento de Natal.

Tratava-se de uma conjuno terica e prtica de homens, mulheres, tcnicos e trabalhadores rurais e urbanos, todos voltados para a ideia de que “o desenvolvimento o novo nome da paz” (cf. os documentos do Conclio Vaticano II). Falar do Movimento de Natal significa lembrar figuras como d. Antnio Soares Costa, bispo auxiliar de Natal, d. Nivaldo Monte, que seria depois nomeado arcebispo, d. Heitor de Arajo Sales, Monsenhor Expedito Medeiros, vigrio de So Paulo do Potengi, do missionrio redentorista holands Pe. Pio Hensgens, do Dr. Otto de Brito Guerra, de seus filhos e filhas, de Otomar Lopes Cardoso, dos professores da Escola de Servio Social, do Pe. Otto Santana irmo de d. Eugnio e das integrantes das pastorais especializadas entre as quais, Terezinha Vilar, uma das lideres da Juventude Feminina Catlica.

indispensvel lembrar o papel do SAR (Servio de Assistncia Rural) e da Emissora de Educao Rural, pioneira no ensino radiofnico do Brasil e baseada no modelo da Rdio Sutatenza, da Colmbia.

O modelo de igreja predominante era o de uma Sociedade Perfeita e no o do Povo de Deus, refletido nos documentos conciliares. Nesse sentido, o principal interlocutor da Igreja era o Estado e as elites, apesar das iniciativas populares apoiadas pelo Movimento de Natal. O contexto scio-poltico dessa poca era cheio de contradies. D. Eugnio interagia com o Estado assumindo, ao mesmo tempo, seu papel de pastor e de prncipe da igreja. Consta que sempre defendeu a liberdade e o respeito aos direitos humanos, tendo assumido, por exemplo, vrias iniciativas pela libertao de presos polticos. Paradoxalmente, nos anos 80, d. Eugnio tornou-se um dos principais articuladores das iniciativas do Vaticano contra a Teologia da Libertao e colaborou para a condenao ao silncio do telogo Leonardo Boff.

No fundo, a Igreja estava empenhada em impedir que o avano da luta pelas reformas significasse a eventual implantao de um regime socialista no pas.


DESAFIO

Talvez o maior desafio dos sobreviventes dessas geraes seja o de abrir os olhos das geraes de hoje para que conheam toda a realidade histrica do pas, em todas as suas pocas. A verdade histrica revelar quem esteve e quem est, efetivamente, ao lado do povo. Retirar a mascara daqueles que, ou abandonaram a luta ou persistem em acreditar que outro mundo possvel.


VERDADE

Recolher os testemunhos dos atingidos pela represso ditatorial do Rio Grande do Norte significa percorrer a trajetria de vida de todos esses e outros militantes. Muitos deles, como Emmanuel Bezerra, Jos Silton Pinheiro, Lus Maranho Filho e Virglio Gomes da Silva pagaram com o prprio sangue o seu compromisso com a democracia, com a justia e com a verdade.



* Dermi Azevedo, nascido em Jardim do Serid, RN, estudou nos seminrios do Caic de Natal. Foi o primeiro presidente do Diretrio Acadmico d. Hlder Cmara, da ento Escola de Servio Social da UFRN. Foi preso poltico em Ibina/SP e em So Paulo/1974. Esteve exilado no Chile. Em Natal, foi presidente da Comisso Justia e Paz, da Arquidiocese de Natal e da Cooperativa dos Jornalistas de Natal/COOJORNAT. Foi reporter e redator da tribuna do Norte e do dirio de Natal. Trabalhou tambm na Editora Vozes, na Universidade Metodista de Piracicaba, alm de exercer sua profisso no ltima Hora, nos Jornais Folha S. Paulo, o Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e nas revistas Veja, Isto , Manchete e Revista de Cultura Vozes, recebeu do CDH/MP em Natal o Prmio Estadual de Direitos Humanos. Formado em jornalismo na UFRN com especializao em Relaes Internacionais/ Mestrado e Doutorado em Cincia Politica pela USP.

Lanado em Novembro de 2012

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