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O Jornalista Ubirajara Macedo
Conta a Histria da Sua Vida
Nelson Patriota, 2010
8.
Uma parceria com Carlos Lima
Foi
por esse tempo que comecei a pesar alternativas
e reavaliar meus projetos mais “consensuais”.
Esse perodo coincidiu com o incio
da contagem regressiva para a minha aposentadoria
no servio pblico. Nesse
longo perodo de 30 anos de servios
prestados aos Correios, coubera de tudo:
aprendizado, maturidade, dvidas
existenciais e certezas polticas,
seguidas da contraparte da represso
fascista ps-64, quando mergulhei
numa roda-viva que colocou em xeque tudo
o que eu pensava saber da vida. A srie
de delaes feitas por colegas
de repartio contra mim serviu
para que eu reconsiderasse minhas relaes
de trabalho e asse numa peneira fina
o que restara das minhas amizades.
Eu no poderia deixar de mencionar
tambm a reviravolta que sucedeu
longa crise do meu casamento com
Doralice: a separao seguida
do divrcio e, finalmente, sua partida
para o Rio, com nossos filhos e, mais tarde,
seu retorno solitrio para Natal.
Finalmente, chegou a minha vez de tambm
cogitar de um retorno minha cidade
de adoo. Mas eu no
tinha planos de me entregar ao dolce far
niente, que faz as delcias dos ricos
ociosos. Primeiro, porque eu no
estava rico. A aposentadoria no Brasil,
com pouqussimas excees,
na minha poca, no tornava
ningum rico. Segundo, porque o cio
tambm no me atraa.
Pelo contrrio, medida que
se aproximava a aposentadoria, mais eu dava
tratos bola na busca de alternativas
de trabalho. Assim, retomei o dilogo
com Carlos Lima, meu fraternal amigo de
infortnios e temores de prises,
mas tambm o amigo querido das rondas
dos bares, onde se reacendia a chama da
esperana no nosso castigado pas
que nunca esquecamos, sobretudo
para vaticinar-lhe dias melhores, pois desejvamos
ardentemente que isso acontecesse.
Numa das nossas conversas por telefone,
Carlos, que j se instalara como
mdio empresrio do setor
grfico na Rua Doutor Barata, da
“Ribeira velha de guerra”, contou-me
que havia ocupado um prdio de especial
significado para a cidade: onde funcionara
a Junta Comercial do Estado durante muitos
anos. Com os negcios estabilizados
e com tendncia a crescerem, Carlos
queria dar sua cota de contribuio
para duas reas da cultura: a literatura
e o jornalismo. O primeiro, atravs
de uma coleo que trazia
o sobrescrito das Edies
Clima. Nela, perfilhava obras da novssima
gerao de poetas e prosadores
potiguares, como o contista Tarcsio
Gurgel, os cronistas Valrio Mesquita
e Augusto Severo Neto, as poetisas Maria
Clia da Trindade e Maria Lcia
Brando, o teatrlogo Racine
Santos e o poeta Dailor Varela. Mas foi,
mesmo, o poeta Celso da Silveira, com suas
coletneas de glosas fesceninas, cujas
reedies se sucediam ininterruptamente,
quem consagrou a coleo das
Edies Clima, lhe garantindo
vendagens recordes que, de certo modo, compensavam
os investimentos em ttulos encalhados
que se deixavam ficar na estante dedicada
aos autores norte-rio-grandenses.
Faltava o vis jornalstico
aos projetos de Carlos. Foi a que
eu entrei, logo aps desembarcar
em Natal, em janeiro de 1972, cumprindo
deciso que eu tomara ainda em So
Paulo, enquanto sonhava com o cio
que os Correios finalmente me concederiam,
e a disponibilidade de tempo que agora eu
poderia dispor para o jornalismo. Eu combinara
com Carlos Lima que faramos inicialmente
uma publicao mensal que
portaria o nome de “Cadernos do Rio
Grande do Norte”. Com ela, visvamos
dar uma contribuio que espervamos
que fosse significativa para a discusso
dos grandes problemas do Estado, e quando
dizamos “grandes problemas”,
queramos de fato dizer os problemas
da economia, da poltica, mas tambm
da cultura, dos esportes, do lazer etc.
Ao mesmo tempo, tnhamos planos de
abrir com os “Cadernos” uma
janela para a promoo das
grandes solues que porventura
viessem a surgir numa das suas reas
de abrangncia. Para isso, nos cercamos
de alguns profissionais experientes, em
regime “free lance”. O jornalista
Joo Gualberto Aguiar cuidaria da
frente da cultura, enquanto o verstil
Sebastio Carvalho aria o pente
fino nos textos redacionais, garantindo-lhes
qualidade e uniformidade jornalstica.
O primeiro nmero se enquadrou melhor
na primeira opo, mas faltou
uma reportagem de impacto que alavancasse
a edio. Em compensao,
tivemos um razovel xito na
rea comercial ao garantirmos uma
matria promocional da Caern, atravs
de contato que fiz com Fernando Pereira,
diretor istrativo da estatal.
O segundo nmero veio mudar radicalmente
essa situao. Edio
caprichada, em policromia, impressa numa
moderna grfica da Paraba,
se enquadrou perfeitamente na alternativa
“janela das solues”,
com a capa exibindo uma imensa foto, que
continuava na contracapa, do novo estdio
de esportes da cidade, oficialmente chamado
de Estdio General Castelo Branco,
o “Castelo”, homenagem
meio forada da Cmara de Vereadores
de Natal ao ento presidente Humberto
de Alencar Castelo Branco.
As edies dos “Cadernos
do RN” se sucederam num ritmo intenso
ao longo de um ano e meio, totalizando 36
nmeros, quando renomeamos a revista
de Folha dos Municpios, em homenagem
ao ex-prefeito Djalma Maranho (em
aluso sua Folha da Tarde,
onde eu e Carlos demos a nossa colaborao
atravs de crnicas dirias).
A retaguarda do jornal contava com nomes
fortes do jornalismo natalense, como Sebastio
Carvalho, Isa Maria Freire e colaboradores
do nvel de Verssimo de Melo,
Hlio Galvo, Jos
Melquades e o casal Camilo Barreto
e Ana Maria Cascudo. Em determinado estgio
da revista, amos a contar com a colaborao
do jornalista Francisco das Chagas Oliveira,
que se revezava entre a redao
e o setor comercial.
Nesse ltimo ano de circulao
dos “Cadernos do RN”, Jorge
Amado e Zlia Gattai aram uma
semana em Natal e a revista deu uma ampla
cobertura presena do ilustre
casal baiano cidade, com direito
a festas patrocinadas pela prefeitura, entre
outras badalaes, algumas
de ordem cultural. Jorge Amado visitava
a redao da Folha dos Municpios
com frequncia, e nos divertia com
suas histrias bonitas, cheias de
verve. Zlia era mais calada, mas
quando resolvia falar sempre dizia coisas
interessantes. O casal de escritores se
constituiu o episdio mais brilhante
de toda a existncia da revista.
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