Comit
Estadual pela Verdade, Memria e
Justia RN
Centro
de Direitos Humanos e Memria Popular
CDHMP
Rua Vigrio Bartolomeu, 635 Salas
606 e 607 Centro
CEP 59.025-904 Natal RN
84 3211.5428
[email protected] 1y4a60
Envie-nos
dados e informaes: |
 |
 |
 |
 |
 |
 |
Comisses
da Verdade Brasil | Comisses
da Verdade Mundo
Comit
de Verdade Estados | Comit
da Verdade RN
Inicial
| Reprimidos
RN | Mortos
Desaparecidos Polticos RN |
Repressores
RN
Militantes Reprimidos no Rio Grande do Norte
Mailde Pinto Ferreira Galvo
Livros
e Publicaes
1964.
Aconteceu em Abril
Mailde Pinto Galvo
Edies Clima
1994
Os
que no sobreviveram
Aos
que no sobreviveram ao sofrimento
e crueldade da ditadura militar de 1964,
particularmente aos companheiros do Rio
Grande do Norte, apresento aqui a minha
comovida homenagem e o respeito o mais profundo.
LUIZ IGNCIO MARANHO
FILHO, advogado, professor, deputado
estadual e militante do Partido Comunista.
Integrante da cpula nacional do
Partido Comunista Brasileiro, foi preso
em Natal, logo nos primeiros dias de abril
e encarcerado no quartel do Ro, de onde
foi levado, no ms de agosto, para
a priso da ilha de Fernando de Noronha.
Libertado por habeas-corpus, voltou a Natal
seguindo, depois, para o Rio de Janeiro,
onde ou a viver na clandestinidade e
continuou a militncia poltica.
Luiz no reapareceu, depois de divulgado
o decreto de anistia aos punidos e condenados
polticos. A nica informao
sobre o seu destino foi publicada na revista
"Veja", edio de
18 de novembro de 1992, em uma entrevista
concedida ao editor Expedito Filho, pelo
ex-sargento e ex-agente do Destacamento
de Operaes Internas ( DOI
- CODI ) de So Paulo e do Centro
de lnformaes em Braslia,
Marival Dias Chaves.
Na entrevista, o ex-agente declara a morte
de "Luiz Igncio Maranho
Filho, preso em So Paulo, em 1974:
Levado para Itapevi, Maranho Filho
morreu com a injeo para
matar cavalo". Em Itapevi, situada
na regio da grande So Paulo,
existia uma casa que, segundo o ex-agente,
havia sido transformada “em centro
de torturas e execues.”
LUIZ GONZAGA DOS SANTOS,
esportista, funcionrio pblico,
vice-prefeito de Natal, eleito com Djalma
Maranho, morreu de infarto em uma
priso do Recife, quando cumpria
pena de um ano de recluso, por condenao
da IV Auditoria Militar.
DJALMA MARANHO,
esportista, funcionrio municipal,
professor do Atheneu Norte-Rio-Grandense
e primeiro prefeito eleito de Natal, morreu
no exlio em Montevidu, no
dia 30 de julho de 1971. comum,
nas trs mortes, o isolamento da famlia,
dos amigos e a solido. ou
com dignidade e coragem todo o sofrimento
e humilhao que lhe impam
nas prises da ditadura mas sucumbiu
ao isolamento e solido do exlio.
Entre os companheiros das prises
por onde esteve, deixou a marca da sua liderana,
coerncia poltica e resistncia
moral. De acordo com o testemunho deles,
entre os quais o jornalista Raimundo Ubirajara
de Macedo e o empresrio Carlos Lima,
causava irao o equilbrio
de humor com que ele istrava a tenso
emocional da presso que sofria.
Em alguns momentos, brincava com os companheiros
e levantava a fora moral dos demais
prisioneiros.
Omar Pimenta, que se encontrava preso no
quartel do Regimento de Obuses, foi surpreendido,
um dia, pela chegada do ex-prefeito que
para l fora levado para prestar
mais um depoimento. Entrou no alojamento
sorrindo, cumprimentando a todos e repetindo:
Vai ar...vai ar..." Os oficiais
retiraram-no, rapidamente. Ubirajara lembra
apenas um momento em que Djalma entristeceu:
aconteceu quando o prprio Ubirajara,
que fora libertado dias antes pelo capito
Lacerda, foi novamente preso pelo simples
fato de haver ado no Grande Ponto, para
comprar jornais. Denunciaram-no como se
estivesse participando de conversas polticas.
Sua liberdade havia levantado o nimo
dos demais presos; a nova priso
trouxe o desnimo e a confirmao
do endurecimento do regime. No reencontro,
a decepo dos presos foi
geral e Djalma, com ansiedade, cobriu-lhe
de perguntas sobre a situao
do pas. Informado de que continuavam
as prises em todo o territrio
nacional, no escondeu a tristeza
e depresso.
Outras lembranas de Djalma Maranho
so relatadas pelo seu filho Marcos,
que no o acompanhou ao exlio
mas visitou-o quatro vezes, com agens
oferecidas pelo ento senador Dinarte
Mariz. Marcos recorda a enorme saudade que
ele sentia e a ansiedade com que aguardava
o fim da ditadura. Cada ano esperava que
fosse o ltimo; o tempo ava e
a ditadura continuava. Para ele, nunca acabou.
O empresrio Jos Pacheco
e sua esposa Nenen guardam recordaes
desde quando o conheceram como professor
de Educao Fsica
no Atheneu, ainda jovem e esportista, e
j entusiasmado pelo nacionalismo
puro, com o qual defendia solues
brasileiras para os problemas brasileiros.
fidelidade e a amizade resistiram
a toda a perseguio, calnias
e perseguio vividas em 1964.
Pacheco e Nenen visitaram Djalma em todas
as prises por onde esteve, inclusive
na embaixada do Uruguai, no Rio de Janeiro,
exceo para Fernando de Noronha.
No quartel do 16 RI receberam de Djalma
um pedido para que divulgassem que ele estava
sofrendo ameaa de tortura fsica.
No explicou quem ameaava
nem as condies em que o
fizeram. Pacheco tentou, ento, fazer
um “abaixo-assinado”, pedindo
transferncia do clero, para que os
comandantes militares concedessem-lhe um
tratamento mais humanitrio. Entre
os supostos amigos, pessoas de prestgio
social a quem procurou, conseguiu apenas
uma : a do escritor Verssimo
de Melo.
No conseguindo s para
o “abaixo-assinado”, Pacheco
recorreu Assembleia Legislativa
e encontrou receptividade no deputado Erivan
Frana, filho de um amigo do ex-prefeito.
O deputado apresentou denncia em
plenrio e, talvez, evitou a consumao
da tortura.
A ltima lembrana do casal
Pacheco vem do ltimo encontro no
exlio de Montevidu, em 1967.
Encontraram-se no local onde Djalma cumpria
a obrigao de se apresentar
diariamente, na condio de
exilado. Abatido e emocionado, Djalma os
abraou e chorou; no conseguiu
conter a exploso dos sentimentos.
aram juntos quinze dias, at
se acabarem os recursos e serem obrigados
a voltar. No momento da despedida, o ex-prefeito
prope voltar com eles e entrar,
clandestinamente, no Brasil. Pacheco fez-lhe
vrias advertncias sobre o
risco de voltar e ser novamente preso; mas
ele estava cheio de vontade e desespero.
Finalmente, despediram-se; e despediram-se
pela ltima vez.
Outro casal que visitou Djalma Maranho
no exlio de Montevidu foi
seu ex-auxiliar e companheiro de priso
Josem Azevedo com a esposa Joana
d’Arc. Eles falam da saudade imensa
que Djalma sentia. Nos trs dias que
aram juntos, Djalma procurava disfarar
a emoo mas se traa
nas indagaes sobre os amigos,
os conhecidos e sobre a cidade que amava
muito. Josem enftico
e incisivo em afirmar: “Djalma
Maranho morreu de saudades.”
O mais longo convvio no exlio,
com amigos de Natal, Djalma teve com o mdico
Lenidas Ferreira e esposa, quando
o mesmo fazia especializao
no Hospital Pereira Roussel, de Montevidu.
Lenidas, que era amigo pessoal do
prefeito, com ele dividiu todos os momentos
disponveis daqueles oito meses.
Em alguns dias em que era obrigado a permanecer
no hospital, Djalma o procurava, quase sempre
angustiado e tenso. Lenidas, dispondo
de carro prprio, levava-o sempre
a eios para ver o mar. Ele falava do
sonho de voltar ao Brasil e residir na praia
de Ponta Negra.
Como ocupao, Djalma mantinha
uma pequena representao
de revistas e turismo, instalada na casa
comercial de um judeu, com quem fez amizade.
O comrcio com revistas no
apresentava lucro real mas lhe impunha uma
obrigao diria.
Permanentemente vido por notcias
do Brasil e de Natal, inquietava-se quando
no as recebia nos dias previstos.
Mantinha bom relacionamento e constante
convvio com os outros exilados polticos
e com alguns comemorava, em seu pequeno
apartamento, as datas cvicas brasileiras.
Na distncia do tempo, Lenidas
analisa a luta intensa que Djalma desenvolvia
para adaptar-se ao exlio sem, portanto,
conseguir vencer a angstia, solido
e saudade.
Algumas pessoas podem surpreender-se com
a sensibilidade de Djalma Maranho,
mas, quem o conheceu de fato, quem assistiu
a seus transbordamentos emocionais nos momentos
de luta, de agressividade, generosidade
e afeto para com os amigos, sabe bem que
escondia uma sensibilidade profunda.
Quase sempre s no exlio,
porque a esposa no se adaptava ao
clima de Montevideo, a saudade que sentiu
foi devastadora. A ditadura durou vinte
anos; ele resistiu a apenas seis.
^
Subir
<
Voltar |