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Militantes Reprimidos no Rio Grande do Norte
Mailde Pinto Ferreira Galvo
Livros e Publicaes

1964. Aconteceu em Abril
Mailde Pinto Galvo
Edies Clima 1994

Os que no sobreviveram

Aos que no sobreviveram ao sofrimento e crueldade da ditadura militar de 1964, particularmente aos companheiros do Rio Grande do Norte, apresento aqui a minha comovida homenagem e o respeito o mais profundo.

LUIZ IGNCIO MARANHO FILHO, advogado, professor, deputado estadual e militante do Partido Comunista.

Integrante da cpula nacional do Partido Comunista Brasileiro, foi preso em Natal, logo nos primeiros dias de abril e encarcerado no quartel do Ro, de onde foi levado, no ms de agosto, para a priso da ilha de Fernando de Noronha. Libertado por habeas-corpus, voltou a Natal seguindo, depois, para o Rio de Janeiro, onde ou a viver na clandestinidade e continuou a militncia poltica. Luiz no reapareceu, depois de divulgado o decreto de anistia aos punidos e condenados polticos. A nica informao sobre o seu destino foi publicada na revista "Veja", edio de 18 de novembro de 1992, em uma entrevista concedida ao editor Expedito Filho, pelo ex-sargento e ex-agente do Destacamento de Operaes Internas ( DOI - CODI ) de So Paulo e do Centro de lnformaes em Braslia, Marival Dias Chaves.

Na entrevista, o ex-agente declara a morte de "Luiz Igncio Maranho Filho, preso em So Paulo, em 1974: Levado para Itapevi, Maranho Filho morreu com a injeo para matar cavalo". Em Itapevi, situada na regio da grande So Paulo, existia uma casa que, segundo o ex-agente, havia sido transformada “em centro de torturas e execues.”


LUIZ GONZAGA DOS SANTOS, esportista, funcionrio pblico, vice-prefeito de Natal, eleito com Djalma Maranho, morreu de infarto em uma priso do Recife, quando cumpria pena de um ano de recluso, por condenao da IV Auditoria Militar.


DJALMA MARANHO, esportista, funcionrio municipal, professor do Atheneu Norte-Rio-Grandense e primeiro prefeito eleito de Natal, morreu no exlio em Montevidu, no dia 30 de julho de 1971. comum, nas trs mortes, o isolamento da famlia, dos amigos e a solido. ou com dignidade e coragem todo o sofrimento e humilhao que lhe impam nas prises da ditadura mas sucumbiu ao isolamento e solido do exlio. Entre os companheiros das prises por onde esteve, deixou a marca da sua liderana, coerncia poltica e resistncia moral. De acordo com o testemunho deles, entre os quais o jornalista Raimundo Ubirajara de Macedo e o empresrio Carlos Lima, causava irao o equilbrio de humor com que ele istrava a tenso emocional da presso que sofria. Em alguns momentos, brincava com os companheiros e levantava a fora moral dos demais prisioneiros.

Omar Pimenta, que se encontrava preso no quartel do Regimento de Obuses, foi surpreendido, um dia, pela chegada do ex-prefeito que para l fora levado para prestar mais um depoimento. Entrou no alojamento sorrindo, cumprimentando a todos e repetindo: Vai ar...vai ar..." Os oficiais retiraram-no, rapidamente. Ubirajara lembra apenas um momento em que Djalma entristeceu: aconteceu quando o prprio Ubirajara, que fora libertado dias antes pelo capito Lacerda, foi novamente preso pelo simples fato de haver ado no Grande Ponto, para comprar jornais. Denunciaram-no como se estivesse participando de conversas polticas. Sua liberdade havia levantado o nimo dos demais presos; a nova priso trouxe o desnimo e a confirmao do endurecimento do regime. No reencontro, a decepo dos presos foi geral e Djalma, com ansiedade, cobriu-lhe de perguntas sobre a situao do pas. Informado de que continuavam as prises em todo o territrio nacional, no escondeu a tristeza e depresso.

Outras lembranas de Djalma Maranho so relatadas pelo seu filho Marcos, que no o acompanhou ao exlio mas visitou-o quatro vezes, com agens oferecidas pelo ento senador Dinarte Mariz. Marcos recorda a enorme saudade que ele sentia e a ansiedade com que aguardava o fim da ditadura. Cada ano esperava que fosse o ltimo; o tempo ava e a ditadura continuava. Para ele, nunca acabou.

O empresrio Jos Pacheco e sua esposa Nenen guardam recordaes desde quando o conheceram como professor de Educao Fsica no Atheneu, ainda jovem e esportista, e j entusiasmado pelo nacionalismo puro, com o qual defendia solues brasileiras para os problemas brasileiros. fidelidade e a amizade resistiram a toda a perseguio, calnias e perseguio vividas em 1964. Pacheco e Nenen visitaram Djalma em todas as prises por onde esteve, inclusive na embaixada do Uruguai, no Rio de Janeiro, exceo para Fernando de Noronha.

No quartel do 16 RI receberam de Djalma um pedido para que divulgassem que ele estava sofrendo ameaa de tortura fsica. No explicou quem ameaava nem as condies em que o fizeram. Pacheco tentou, ento, fazer um “abaixo-assinado”, pedindo transferncia do clero, para que os comandantes militares concedessem-lhe um tratamento mais humanitrio. Entre os supostos amigos, pessoas de prestgio social a quem procurou, conseguiu apenas uma : a do escritor Verssimo de Melo.

No conseguindo s para o “abaixo-assinado”, Pacheco recorreu Assembleia Legislativa e encontrou receptividade no deputado Erivan Frana, filho de um amigo do ex-prefeito. O deputado apresentou denncia em plenrio e, talvez, evitou a consumao da tortura.

A ltima lembrana do casal Pacheco vem do ltimo encontro no exlio de Montevidu, em 1967. Encontraram-se no local onde Djalma cumpria a obrigao de se apresentar diariamente, na condio de exilado. Abatido e emocionado, Djalma os abraou e chorou; no conseguiu conter a exploso dos sentimentos.

aram juntos quinze dias, at se acabarem os recursos e serem obrigados a voltar. No momento da despedida, o ex-prefeito prope voltar com eles e entrar, clandestinamente, no Brasil. Pacheco fez-lhe vrias advertncias sobre o risco de voltar e ser novamente preso; mas ele estava cheio de vontade e desespero. Finalmente, despediram-se; e despediram-se pela ltima vez.

Outro casal que visitou Djalma Maranho no exlio de Montevidu foi seu ex-auxiliar e companheiro de priso Josem Azevedo com a esposa Joana d’Arc. Eles falam da saudade imensa que Djalma sentia. Nos trs dias que aram juntos, Djalma procurava disfarar a emoo mas se traa nas indagaes sobre os amigos, os conhecidos e sobre a cidade que amava muito. Josem enftico e incisivo em afirmar: “Djalma Maranho morreu de saudades.”

O mais longo convvio no exlio, com amigos de Natal, Djalma teve com o mdico Lenidas Ferreira e esposa, quando o mesmo fazia especializao no Hospital Pereira Roussel, de Montevidu. Lenidas, que era amigo pessoal do prefeito, com ele dividiu todos os momentos disponveis daqueles oito meses. Em alguns dias em que era obrigado a permanecer no hospital, Djalma o procurava, quase sempre angustiado e tenso. Lenidas, dispondo de carro prprio, levava-o sempre a eios para ver o mar. Ele falava do sonho de voltar ao Brasil e residir na praia de Ponta Negra.

Como ocupao, Djalma mantinha uma pequena representao de revistas e turismo, instalada na casa comercial de um judeu, com quem fez amizade. O comrcio com revistas no apresentava lucro real mas lhe impunha uma obrigao diria.

Permanentemente vido por notcias do Brasil e de Natal, inquietava-se quando no as recebia nos dias previstos. Mantinha bom relacionamento e constante convvio com os outros exilados polticos e com alguns comemorava, em seu pequeno apartamento, as datas cvicas brasileiras.

Na distncia do tempo, Lenidas analisa a luta intensa que Djalma desenvolvia para adaptar-se ao exlio sem, portanto, conseguir vencer a angstia, solido e saudade.

Algumas pessoas podem surpreender-se com a sensibilidade de Djalma Maranho, mas, quem o conheceu de fato, quem assistiu a seus transbordamentos emocionais nos momentos de luta, de agressividade, generosidade e afeto para com os amigos, sabe bem que escondia uma sensibilidade profunda.

Quase sempre s no exlio, porque a esposa no se adaptava ao clima de Montevideo, a saudade que sentiu foi devastadora. A ditadura durou vinte anos; ele resistiu a apenas seis.

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