Comit
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Repressores
RN
Militantes Reprimidos no Rio Grande do Norte
Mailde Pinto Ferreira Galvo
Livros
e Publicaes
1964.
Aconteceu em Abril
Mailde Pinto Galvo
Edies Clima
1994
Concluso
das investigaes
No
dia 3 de setembro “A Tribuna do Norte”
divulgou o encerramento do inqurito
que apurava a subverso no Estado
informando que outro inqurito viria,
com novas prises. O terrorismo contra
os perseguidos e suas famlias continuava,
com a seguinte notcia:
“CONCLUINDO O PRESENTE
INQURITO, OUTRO VIR
COM NOVAS PRISES DILIGNCIAS.
Novo inqurito para prender novos
implicados de subverso no Rio
Grande do Norte para apurar novas denncias
surgidas e diligncias que no
tm cessado desde o incio
da revoluo, ser
instaurado to logo se encerre
o presentemente em fase final sob coordenao
do Veras e Domingos. Esse outro inqurito
ser aberto to logo o
primeiro seja entregue ao governador
Aluzio Alves, afirmando Jos
Domingos que no precisa de outra
requisio para o reincio
dos trabalhos porque “de bom grado
continuarei em Natal pata fazer a limpeza
total dos elementos comprometidos com
o movimento subversivo brasileiro.”
No dia 15 de setembro, o mesmo jornal noticiou,
depois de criar longa expectativa atravs
de sucessivos anncios, a entrega
dos autos do processo ao governador do Estado.
HOMENS E AUTOS.
O senhor Carlos Veras e Jos
Domingos, juntamente com os autos do
inqurito, fizeram a entrega
ao governador Aluzio Alves de
um relatrio de mais de vinte
folhas datilografadas e ofcio
em duas laudas, sob o nmero
W40. Ao chegar para o encontro com o
governador potiguar, Carlos Veras estava
de roupa de linho branco, gravata vermelha,
sapato marrom, enquanto Jos
Domingos trazia roupa azul, gravata
preta e sapato marrom, uma maleta na
mo se saberia trazer no seu
interior os autos da subverso."
O provincianismo da notcia descrevendo
a vestimenta dos gals do inqurito
estadual evidenciava a ateno
especial que os delegados recebiam de alguns
rgos da imprensa.
Os relatrios elaborados por Carlos
Veras e Rodolfo Pereira, presidentes das
duas comisses do Estado e Municpio,
so extensos, repetitivos e direcionam
as acusaes contra o programa
cultural da Prefeitura, indicando os principais
responsveis.
Apresentam como crimes praticados pelos
estudantes o fato de haverem pertencido
Unio Nacional dos Estudantes,
presidirem diretrios estudantis,
organizaram-se nas reivindicaes
da classe e proferirem palestras a convite
dos sindicatos sobre assuntos de sade,
educao e reformas de base.
Acusava, tambm, de haverem se reunido
no dia l de abril. As provas materiais
dos crimes eram os livros apreendidos nas
bibliotecas de cada um.
O crime cometido pelo jornalista Leonardo
Bezerra foi o de possuir livros marxistas
em sua vasta biblioteca. O do poeta Nei
Leandro de Castro o de abordar, com poesia,
os problemas sociais.
Os lderes sindicais foram enquadrados
pelos crimes da organizao
sindical por reivindicarem as reformas de
bases, promoveram greves e pertenceram ao
Partido Comunista Brasileiro. Somente uns
poucos confirmaram a filiao
partidria.
RELATRIO DA COMISSO
MUNICIPAL.
“DJALMA MARANHO - Quando
no exerccio de Prefeito, organizou
na Prefeitura – setor da educao
- um trabalho de politizao
e conscientizao de carter
puramente extremista, isso atravs
da Diretoria de Documentao
e Cultura, Centro de Formao
de Professores, por meio de visitas
ao setor de educao de
pessoas extremistas, como podemos citar:
Francisco Julio, Padre Alpio
de Freitas, deputado Almino Afonso,
estudantes e jornalistas cubanos e outros.
Mantinha, tambm, o ex-prefeito,
o Frum de Debates que tem seu
nome, onde recebia todos os elementos
extremistas que visitavam esta capital,
fazendo ali palestras, comcios
e conferncias.
Sobre sua responsabilidade circulava,
tambm, o jornal “Folha
da Tarde”, que fazia a linha puramente
extremista.
No dia primeiro de abril de 1964, Djalma
Maranho instalou na Prefeitura
o QG da Legalidade, isto em represlia
a revoluo de 31 de maro
ltimo.”
”MOACYR DE GES - Quando
exercia o cargo em comisso de
secretrio de Educao,
Cultura e Sade do municpio,
foi o autor intelectual de todo o movimento
subversivo que se processou naquela
secretaria, atravs da Diretoria
de Documentao e Cultura
e do Centro de Formao
de Professores”.
O relatrio continua com as mesmas
acusaes e encerra dizendo
o seguinte sobre Moacyr de Ges:
“Finalmente, acobertado no
manto da religio que diz praticar,
pela sua inteligncia e com dotes
oratrios, pode ser considerado
o crebro do movimento subversivo
que se processou no setor de educao
da Prefeitura.”
“MAILDE PINTO - Foi a responsvel
pela aquisio dos livros
subversivos destinados s bibliotecas
que serviam ao Centro de Formao
de Professores, Concha Acstica,
Postos de Emprstimo das Rocas
e Quintas e s Bibliotecas Ambulantes,
que eram distribudas por meio
de caixas aos acampamentos.
Grande parte desses livros foram apreendidos
pelo Exrcito e o restante retirado
das bibliotecas pelo atual diretor da
Diretoria de Documentao
e Cultura.”
O
diretor referido no relatrio, advogado
Digenes da Cunha Lima, substituiu-me
no cargo de Diretor da Documentao
e Cultura da Prefeitura de Natal.
Do relatrio apresentado pela Comisso
Estadual retirei o seguinte:
O presente inqurito policial
de natureza e investigao
singular foi instaurado por fora
do decreto de 17 de abril do corrente
ano, publicado no Dirio Oficial
do dia 18 e republicado no mesmo rgo
oficial dia 29 do mesmo ms, atravs
do qual O Exmo. Senhor Doutor Governador
do Estado nomeou esta autoridade para
como delegado de polcia, especial,
apurar, com jurisdio
em o Estado, a prtica de atos
contra a segurana do pas
e regime democrtico, probidade
da istrao pblica
ou crime contra o Estado e seu patrimnio,
a Ordem Poltica e Social ou
atos de guerra revolucionria.
(Ato Institucional, art. 7, pargrafo
1 e art. 8)
O histrico do relatrio discorria
sobre a atuao do partido
comunista no mundo, citava Lenin em linguagem
panfletria e, em alguns trechos,
dizia:
“Apesar de se encontrar na ilegalidade;
o Partido Comunista do Brasil, de forma
aparentemente legal, vinha liderando
toda a propaganda que visava a arregimentao
das massas atravs de campanha
de fundo nacionalista, tais como: "Campanha
Anti-imperialista", "Campanha
para Aumento de Salrio",
"Campanha Contra a Carestia"
e, atravs de rgos
existentes, como U.B.E.S. - Unio
Brasileira dc Estudantes - e U.N.E.
- Unio Nacional de Estudantes
- e, ultimamente, atravs das
chamadas “Frentes", como
Frente de Libertao Nacional,
Frente Parlamentar Nacionalista, Pacto
de Unidade e Ao - P.U.A.-
C,G.T.- Comando Geral dos Trabalhadores
e F.M.P. - Frente de Mobilizao
Popular - , as quais se uniam, em determinadas
ocasies para seguir o fim que
lhes fora determinado pelo partido.”
O
relatrio continua, cheio de chaves
e sem um nico fato concreto para
fundamentar juridicamente as prises.
Sobre a responsabilidade da Prefeitura foi
dito o seguinte:
“Foi para o setor de alfabetizao
que o ex- prefeito Djalma Maranho
do seu staff de funcionrios
escolheu cuidadosamente um grupo dela
encarregado. Formou este grupo tirando-o
de foras esquerdistas em quase
sua totalidade... "A subverso
educacional que sob o nome e slogan
de Campanha de P no Cho
Tambm se Aprende a Ler, era
dirigida e supervisionada pela Secretaria
de Educao, Cultura e
Sade da Prefeitura de Natal,
contou com a participao
direta dos seguintes elementos, todos
indiciados no presente inqurito:
Djalma Maranho, ex-prefeito
de Natal, Moacyr de Ges, (ex-secretrio
de Educao, Cultura e
Sade, Margarida de Jesus Cortez,
ex-diretora do Centro de Formao
de Professores da “Campanha”
Maria Diva da Salete Lucena, ex-vice-diretora
do Centro de Formao
de Professores, Omar Fernandes Pimenta,
ex-assessor tcnico de ensino
da Prefeitura de Natal, Mailde Ferreira
Pinto, ex-diretora da Diretoria de Documentao
e Cultura, Luiz Gonzaga dos Santos,
ex-vice-prefeito do municpio
de Natal bem como outros que deram o
seu apoio, colaborao
e esforo a esta que tornou-se
a maior obra de subverso no
ensino do Rio Grande do Norte.”
O relatrio final, com acusaes
feitas pelas trs comisses
de investigao e o indiciamento
de oitenta e trs pessoas, foi remetido
7a. Auditoria Militar do Recife
pelo governador Aluzio Alves e pelo
Comandante da Guarnio no
Rio Grande do Norte. No final do exerccio
de 1965, comeamos a receber as intimaes
para identificao e posterior
julgamento naquela corte.
O relatrio da Comisso Estadual
foi, em seguida, publicado com fotografias
dos indiciados retiradas dos arquivos do
DOPS, impresso em plaquetas nas oficinas
da Editora O Dirio Associados e
distribudas s autoridades
civis, militares e pessoas de prestgio
social.
“A Tribuna do Norte” de 10 de
outubro publica o ato do governador com
as demisses dos empregos dos considerados
subversivos e concesso de penso
s famlias. Com esse ato
o governador Aluzio Alves completou
a execuo civil da ditadura
militar no Rio Grande do Norte.
A penso concedida pelo percentual
do tempo de servio correspondia
a 10% em mdia sobre os salrios
dos demitidos que cantavam, em sua maioria,
com pouco tempo de exerccio no quadro
de funcionalismo. Um exemplo da humilhante
e insignificante penso era a importncia
que recebia a esposa do professor Omar Pimenta:
do salrio de seiscentos mil cruzeiros,
ou a receber sessenta mil cruzeiros
para a manuteno de cinco
filhos. Baseado no mesmo Ato Institucional,
o governador demitiu, tambm, funcionrios
nomeados pelo senador Dinarte Mariz, sem
acusaes de subverso,
entre os quais Descartes de Medeiros Mariz,
jornalista Joanilo de Paula Rego e engenheiro
Roberto Freire.
ATO DE DEMISSO -
Despacho do Governador.
Em processos diferentes que mandei anexar,
a Comisso de Aplicao
do Ato Institucional indica os responsveis
sobre processo de subverso que
se desenvolvia no Estado, de par com
atos de improbidades apuradas em longas
e penosas investigaes
que abrangeram, tambm, o perodo
do governo anterior.
Constituda de pessoas da maior
probidade e da maior iseno
de nimo para esse rduo
e delicado trabalho, a Comisso
se esmerou nas investigaes
a que procedeu para evitar injustias
ou omisses e aponta os indiciados
afinal encontrados como incursos nas
sanes do Art. 7, pargrafo
primeiro do Ato Institucional.
Nessa conjuntura, tenho que considerar
de um lado o dever que a lei me impe
para proferir a deciso final.
Por outro lado, se devo cumprir este
dever, devo igualmente considerar a
situao das famlias
dos indiciados, muitos deles presos
e entregues a incertezas e as dificuldades
a que foram sbita e inesperadamente
largados.
Devo tambm considerar como elementar
princpio de justia o
grau ou a intensidade das atividades
desenvolvidas por cada um dos indiciados
para que no resulte aplicao
uniforme e penalidade a atividades desiguais
ou menos intensas.
Assim considerando, determino que aos
demitidos, ocupantes de cargos efetivos,
o ente pblico respectivo (Estado
ou Municpio) providencie pelos
meios legais adequados a concesso
de uma penso na base de 50%
sobre o vencimento padro, contado
proporcionalmente o tempo de servio
a ser apurado pelo rgo
competente.
Em conseqncia resolvo,
na forma do Art.7, pargrafo
primeiro do Ato Institucional, demitir:”
Segue-se
a relao dos demitidos com
os respectivos cargos. A lista
encabeada pelo ex-prefeito Djalma
Maranho, que ocupava o cargo efetivo
de Diretor da Diretoria de Documentao
e Cultura e o de Professor do Atheneu.
Alguns companheiros, demitidos dos empregos,
sem meios de sobrevivncia e acossados
pela delao e perseguio
local, ao sarem da priso
procuraram refgios em outros Estados
e at fora do pas: Laly Carneiro
e Marcos Guerra conseguiram fixar residncia
em Paris; Djalma Maranho exilou-se
no Uruguai: Moacyr de Ges, Hlio
Vasconcelos, Diva Lucena, Berenice Freitas,
Tereza Braga, Luiz Gonzaga dos Santos, Luiz
Maranho Filho, Aldo da Fonseca Tinoco,
Margarida de Jesus Cortez, Ubirajara de
Macedo, Geniberto Campos, Francisco Ginani
seguiram para o Rio de Janeiro, So
Paulo e Braslia.
Poucos dos que saram retornaram
para morar em Natal e a cidade perdeu alguns
de seus melhores valores intelectuais e
polticos.
Recm-sados das prises,
enfrentvamos preconceitos e o afastamento
de muitas pessoas com as quais convivamos.
O medo, a insegurana e a covardia
explicavam essas atitudes. Acostumei-me
aos olhares de curiosidade e rejeio
e nem sei explicar por que me sentia to
forte. Da experincia de enfrentar
cinco comisses e ser questionada
na reviso dos atos como diretora
da Diretoria de Documentao
e Cultura e da luta contra a invaso
de minha vida privada, adquiri uma forte
segurana de cidadania.
Entre as dezenas de pessoas indiciadas por
terrorismo, encontravam-se seis mulheres:
Maria Laly Carneiro, Maria Diva da Salete
Lucena, Margarida de Jesus Corts,
Tereza Braga, Berenice Freitas e eu.
Como os demais subversivos, fui intimada
a comparecer ao Departamento de Ordem Poltica
e Social (DOPS) para ser fichada como indiciada
por crimes cometidos contra a segurana
nacional. Submeteram-me ao mesmo ritual
empregado para fichar criminosos comuns.
O fotgrafo trabalhava automatizado
pelo atendimento a tantos e no se
alterou com um rato, enorme, que saiu de
um mvel de onde tirava alguns objetos.
O rato corria entre ele e a porta e eu fiquei
parada, num canto da sala. Estava assustada
mas no pude deixar de rir de minha
prpria situao, acuada
por um rato numa dependncia da polcia.
Viver sob a tenso daqueles tempos
e conservar o bom humor j era um
exerccio de autodefesa e at
de proteo sade.
Muitas vezes consegui rir de situaes
que considerava ridculas mas que
me envolviam nos males da ditadura. Assustava-me
e muito quando via uma viatura militar e
ria de mim mesma quando as encontrava.
As associaes de lembranas
de alguns acontecimentos de 1964 surgem
inesperadamente, s vezes emocionam
sem tristeza, mas sempre incomodam. Chegam,
outras vezes, carregadas de ternura como
no fim de uma visita priso
na qual Iaponi Arajo despediu-se
com lgrimas nos olhos e tanta tristeza
que precisei sorrir afirmando que “apesar
de tudo, a vida boa e eu gosto
de viver”. Foi o comentrio
que me ocorreu naquele instante e valeu
para os dois.
Fomos todos muito magoados e ofendidos em
1964. Perdemos mais do que dizemos ter perdido.
Vivemos uma incrvel experincia
do conhecimento humano; vimos o bem e o
mal sem limites e conhecemos, tambm,
a solidariedade humana em gestos da maior
grandeza.
Houve gestos como o do Dr. Alvamar Furtado,
chegando nossa casa, numa hora
do almoo, meio encabulado, oferecendo-se
para fazer uma coleta entre os amigos e
conseguir agens areas para devolvermos
a Conceio e Moacyr, quela
altura refugiados no Rio de Janeiro, os
cinco filhos que haviam ficado conosco.
Conseguiu as agens com a ajuda dos empresrios
Walter Pereira e Geraldo Santos e as crianas
puderam partir ao encontro dos pais.
O mdico Pedro Coelho teve uma atitude
de corajosa solidariedade naqueles tempos
de medo; informado da minha priso,
dirigiu-se ao Quartel-General, solicitou
e conseguiu audincia com o comandante,
apresentou o seu depoimento sobre a minha
vida, que conhecia como mdico e
amigo, demonstrando estranheza pela minha
priso. Repetiu o mesmo gesto quando
da priso de um estudante, igualmente,
seu conhecido. Sua atitude no mudou
os acontecimentos das nossas vidas mas,
sem dvida, foi um testemunho importante
num momento em que muitos outros se afastavam
dos perseguidos.
Em 1964 havia muito dio mas havia
muito amor. Na noite em que sa da
priso a minha casa encheu-se de
ternura, a ternura da famlia e dos
amigos. Paulo de Tarso Correia de Melo chegou
com rosas vermelhas e exuberante de alegria;
Cla e Nsia Bezerra, Nadja
Amorim, Moacy Cime, Iaponi Arajo,
Dailor Varela e outros abraaram-me
com um calor humano impossvel de
descrever.Entregaram-me um livreto com provrbios
chineses preparado por eles e um drago,
smbolo da resistncia, desenhado
na capa por Newton Navarro.
At mesmo os oficiais que trouxeram,
naquela noite, os seus cumprimentos, demonstraram
que a solidariedade humana pode existir,
tambm, dentro dos quartis.
Um destaque especial deve ser dado
famlia do Dr. Joo Maria
Furtado que, desde os primeiros dias da
ditadura, assumiu a paternidade de todos
os presos, a quem deu assistncia
jurdica e moral. Roberto Furtado,
que escapou da priso por interferncia
do coronel Ulisses Cavalcanti, conforme
afirmao do mesmo, advogou
gratuitamente todos os perseguidos; Dora
Furtado dedicava-se especialmente aos que
no tinham famlia em Natal.
Dona Jacira era considerada a me
de todos.
Os gestos de solidariedade, hoje lembrados,
ainda sensibilizam e emocionam; em 1964
eles atenuavam o sofrimento e a solido.
O Dr. Otto de Brito Guerra, apesar de ter
a sua residncia cercada por militares
nas diversas ocasies em que prendiam
seu filho Marcos, assumiu, com destemor
e gratuitamente, a defesa de diversos presos
polticos. Em uma nica noite,
na residncia do Dr. Joo Maria
Furtado, datilografou, ele mesmo, assessorado
por Roberto Furtado e Odete Roselli, esposa
de Luiz Maranho Filho, dezenas de
requerimentos para solicitao
de habeas-corpus dirigidos ao Superior
Tribunal Militar. Na madrugada daquela noite,
Dora Furtado e Odete Roselli comearam
a recolher das famlias
dos presos.
Por todo o dia, enquanto procurava s,
Dora foi seguida por um jipe do Exrcito.
Na residncia de Omar Pimenta e Albaniza,
sua esposa, assinou o requerimento, vendo
um jipe parado a uns dez metros de distncia
de Dora. Todos sentiam medo mas no
estavam vencidos.
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