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Acervo
Livros
de Dom Nivaldo Monte
Gestos
de Fadrio
Edio do Autor, 2002

O
SIGNIFICADO DOS “GESTOS”
Este livro no quer ter maiores
pretenses literrias; quer somente fixar,
no tempo,
alguns momentos lricos de uma vida.
SONETOS
NATAL
Natal,
linda, como um sonho de ternura.
Fruto sazonado de um sonho bem sonhado.
Sobre
as ribas do alcantil est chantada,
s margens verdes do Rio Potengi.
Banhada de luz, ensolarada,
“A mais bela filha de Poty”.
Natal,
puro esplendor da natureza,
Tu nos encantas ao primeiro olhar,
Como bonito contemplar tua beleza
Nos cus, na terra, no azul do mar.
Teu
encanto nos arrasta e nos fascina
Com teu gesto, donaire, de menina
Faz-nos sonhar felizes por te ver.
Como
esquecer-te, sedutora amiga,
Tua beleza “to nova e to antiga”
Nos invade de emoo por te querer.
A
JANGADA
A
deslizar tranqila sobre as guas
Uma jangada o Potengi sulcando.
Ela parece meu peito soluando,
Chorando dores e curtindo mgoas.
E
se lanando pelo mar bravio
Em suas velas rompe a trovoada.
L vai ficando o rastro da jangada...
Deixando atrs a placidez do rio.
Se
o furor da tempestade alcana
Leve, jangada frgil, pequenina,
Ento s resta no peito uma esperana.
Os
cus contempla o pescador arfando,
A Me de Deus evoca, suplicando,
E o mar se amaina ao sopro da neblina.
FORTALEZA
DOS REIS MAGOS
Nas
rochas do arrecife, a mole avulta
Do Forte dos Reis Magos, foz do Rio.
Impvida custdia altiva oculta
Mistrios do ado; os desafios.
De
colossais muralhas patinadas
Do tempo ado, to antigo.
Guarda as notcias inda irreveladas
Da rendio do Forte ao inimigo.
Mesmo
ferido o Capito do Forte
Recusa, terminante, at morte,
Entregar a praa que incendeia.
Se
no fosse o labu que nos espanta,
Nunca, jamais, uma bandeira branca
Tremularia do Forte nas ameias.
O
SINO DA MATRIZ
A
bimbalhar no alto campanrio
O velho sino albores prenuncia.
Salpinta o ar em gestos de fadrio,
O fugir da noite, o alvorecer do dia.
Oh! velho bronze, quantas vezes, quantas,
Tu me relembras sonhos esquecidos.
Quanta tristeza tu, alegre, espantas
Os de saudades coraes curtidos.
Ouvindo-te agora quando a noite desce
De minha fronte os dilatados dias,
Vai-se evolando o pensamento em prece.
Embalas
tanto o corao da gente
De um ado que jamais se esquece
Quando da vida o sol sol poente.
PTALA
DE ROSA
Eu
era bem pequeno, bem me lembro,
Dum bonito presente todo meu.
O fado de uma linda bonequinha,
Que lutou c’o gigante e o venceu.
Ptala
de Rosa era a linda histria
De Quita que lutou a noite inteira,
Por sua dona que aos seus pais fora raptada
Por uma velha e feia feiticeira.
No
te ires por eu ser to velho
De fazer, como eu fao, eu te aconselho:
Nunca deites, cansado, pra dormir
procura de um justo e bom repouso.
Nunca feches os olhos sem abrir
Um livrinho com fados de Trancoso.
O
CAJUEIRO
No
fim do ano florescem cajueiros
Da minha terra, embalsamando o ar
Das ruas, da cidade, e tabuleiros.
Tudo recende aroma de pomar.
Da
minha infncia meu primeiro amigo,
Em tua sombra tanto eu traquinei.
Comigo tu sonhaste e eu contigo,
Os mais belos sonhos que sonhei.
Ainda
hoje quando o vento leste
Refresca o ar em tardes de vero
que relembro os sonhos j sonhados.
Vou
recordando o amor que tu me deste,
Em dias to felizes, to lembrados,
Enchendo-me de paz o corao!
A
MANGUEIRA
Trazida
pela mo de um menino,
A mangueirinha com trs folhas, to bonita,
Estava “se amostrando”, bem catita,
Esperando feliz o seu destino.
Ao primeiro olhar me cativando,
No demorou muito e foi dizendo:
-Leva-me contigo, estou sonhando,
Abrindo-me as mos se oferecendo.
Leva-me contigo, repetia,
Com medo talvez de eu me esquecer.
Eu vou florir bem depressa, assim espero,
Fazendo
do pomar um paraso.
Minha presena ser como um sorriso
Dizendo-te a ti quanto te quero.
A
MANGABEIRA
No
fim do ano, eis que, de repente,
A mangabeira flora por primeiro.
Pelo odor que trescala se pressente
Estar florindo o jasmim do tabuleiro.
Dentre
as frutas do mato a mais gostosa
No tem rival por seu sabor sem par.
No s gosto, linda, veludosa,
Ela , sem dvida, rainha do pomar.
Eu
gostava tanto, nas manhs de rosa,
Colher a fruta dos campos, generosa,
Pensando os velhos dias j fanados
Da
meninice. Ah!, recordo tanto!
Cobrindo-me a saudade como um manto
De nostalgia, de sonhos to sonhados.
O
MAMOEIRO
Qual
marco milenar no meu quintal
Se alteia um majestoso mamoeiro.
De folhas espalmadas, sem igual,
Enche de sombra e paz o meu terreiro.
As
formas de seus frutos nos encantam:
Bojudos, compridos, estrelados.
Da polpa seus matizes nos espantam:
Vermelhos, cor-de-rosa, amarelados.
Sua
flor to bonita faz lembrar,
Pelo cheiro que recende do pomar,
Jardins floridos em tarde de vero.
Aucenas,
jasmins, de to cheirosos
Vo-nos fazendo suspirar, saudosos,
Enchendo-nos de sonho o corao.
COMPOSIES MUSICADAS
PELO AUTOR
SAUDADES
DA SERRA
Saudades
que tenho da serra formosa
Onde inda criana, pequeno eu brinquei.
Recordo saudoso nas tardes de rosa
As lindas campinas que eu tanto amei.
Recordo,
saudoso, a serra sem par,
Madeixas ao vento bailando no ar.
A
serra to bela, to linda a campina,
Balindo, correndo, cordeiros, enfim.
O campo esmaltado de cor purpurina
De lindas boninas sorrindo pra mim.
Recordo,
saudoso, a serra sem par,
Madeixas ao vento bailando no ar.
Agora
bem longe da serra bonita
J no mais criana eu sou, j cresci.
Ainda no peito, saudoso, palpita
A serra to linda que nunca esqueci.
Recordo, saudoso, a serra sem par,
Madeixas ao vento bailando no ar.
A CASCATINHA
Ao
murmurinho doce da cascata
Ciciam folhas ao sabor do vento.
So como dores que o peito desata,
So como prantos glidos lamentos.
Na
fronde altiva da palmeira agreste,
Cantam dolentes meigos arinhos.
Sobre os lajedos, ramos de ciprestes
Projetam sombras tristes nos caminhos.
Dos cus debruam nuvens alvadias
Por sobre os picos contemplando a terra.
O sol desmaia, tarde... A nostalgia
da saudade que meu peito encerra.
ACALANTO
Quando
ns somos criana,
Vivemos sempre a sonhar.
Sonhamos com a esperana
Das cores verdes do mar.
Se
brinco beira da praia
Nos mares cantam sereias.
Se a verde vaga desmaia
Saltam espumas na areia.
Debaixo
dos coqueirais,
Se canta e ri sem cessar.
Ao sabor dos vendavais,
Danam cabelos no ar.
As
dunas eram meu leito,
De alva areia o lenol,
Onde a dormir satisfeito,
Vinha beijar-me o arrebol.
Jangadas lindas singrando
O alto mar, de alvadias
Velas aos cus acenando
Em vesperais de alegria.
Perdendo
o sol seus fulgores
No vs criana a sorrir?
Pois j so horas em que as flores
Se fecham para dormir.
TROVAS
A beleza do encontro
Est na procura, porfia.
Quem procura com amor
Encontra com alegria.
***
A morte chegou porta
De um velho esperto e bateu.
A morte esperou tanto
Que de raiva ela morreu.
***
Um dia tu me disseste:
lindo te querer bem!
Pois s o amor nos revela
A beleza que se tem.
***
Manac flor do mato,
Nome bonito de flor.
Roxa lembra saudade,
Branca fala de amor.
***
O
“malmequer” quis crescer
Na palma da minha mo.
Transformei em “bem-me-quer”
Nas dobras do corao.
***
Eu plantei no meu quintal,
No pomar do bem-querer,
Uma frutinha gostosa
Pensando s em voc.
***
Tua carinha pintada
fruto da mangabeira.
S tu sabes quanto eu gosto
Dessa carinha brejeira.
***
Ontem eu vi um pau-d’arqueiro
Todo coberto de flores.
Eu vi logo estar chegando
A estao dos amores.
***
Amar
no gostar,
Amar querer bem.
Mas eu gosto do sabor
Do gosto que o amor me tem.
***
A misria disse um dia
preguia, em confidncia:
No trabalhes, te garanto
A minha eterna assistncia.
***
Partir no ausentar-se,
Nisto, bem sei, tens razo.
Vai-se o corpo e a alma fica,
No se ausenta o corao.
***
Muita gente como o coco:
Fibra grossa e casca dura.
Rasgue a fibra e quebre o casco
E vers quanta doura.
***
Se
o amor nunca se cansa.
Como pode o amor cansar?
Se cansa porque no ama,
Se se cansa no sabe amar.
***
Muita gente reclama
Desta vida a solido.
No problema estar s,
Mas vazio o corao.
***
Se tu amares um dia,
No tentes saber por qu.
No entender para amar,
Mas amar para entender.
***
No fiques triste porque
Teu trabalho foi em vo.
No o fruto do trabalho,
Deus procura o corao.
***
Se
tens medo da velhice,
Eu vou te dar um conselho.
Ela s tem cara feia
Para quem dela tem medo.
***
A velhice muito boa
Pouco mal ela nos faz.
S no gosto da velhice,
por ser curta demais.
***
No tenhas medo em ser velho:
Nem todo velho lel.
Preserva a tua cabea:
Sers feliz, te dou f.
***
Se amas, fazes o que queres:
Nos disse um dia Agostinho.
Porque quem ama tem certo
Qualquer que seja o caminho.
***
Seremos
um dia julgados
Pelo amor, tenho certeza.
No cu s julga quem ama:
Foi que nos disse Teresa.
***
Se tu tens medo da dor,
No penses nunca em amar.
O amor nos faz sofrer,
S depois pode salvar.
***
Quando te vi soluando,
Com as mos no carao.
Eu vi Cupido sorrindo,
Inda c’o arco na mo.
***
VERSOS SOLTOS
MEU PRIMEIRO VERSO (1926)
Osvaldo quis me lograr,
Num caso to complicado.
Ento eu fiz um negcio
E ele ficou logrado...
***************************
Bendito
sejas, Deus, que a dor nos deste
Que do pecado o homem purifica.
Prola santa qual fogo assim quiseste
Fazer da dor o fel que santifica.
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Ah!
Quem me dera voltar a ser criana
Viver contente, viver sempre a sorrir.
Fazer da vida um bero de esperana
E da esperana um jardim sempre a florir.
***************************
Mar, meu irmo, na profundeza
Dos mistrios que guardas em teu seio.
Mar, meu irmo, a natureza
Me deu de tuas vagas os anseios.
**************************
CAMINHOS
DA VIDA
Guiados
por uma estrela,
Eles foram bater gruta de Belm.
A estrada se alongava
At se perder nos horizontes de areia.
As noites eram escuras
E se perdiam nos labirintos das dunas.
Quando o vento soprava, ao pr do sol,
Havia frio de enregelar...
Mas uma estrela brilhou no firmamento!
Os membros cansados se tornaram fortes.
Os olhos anuviados divisaram os caminhos...
E o fogo crepitou nos coraes...
E eles foram bater gruta de Belm.
Assim a nossa vida:
O amor uma estrela...
............................................................................................
Se
o amor brilhar em nossos coraes,
Chegaremos meta de todos os destinos.
VOZES DOS SERES
Agradecido,
Senhor,
Pelas vozes dos Seres que criastes,
Seres de todo o mundo.
Pelo crepitar do fogo na lareira,
Brincando de esconde-esconde
Nas achas de lenha seca.
Pela voz engraada da gua
No gargalho da quartinha ao cair no copo.
Pelo rumor do vento inquieto
Nos ramos do cajueiro.
Pelo estalar das frutinhas do ficus benjamim,
Calcadas pelos ps
Ao longo das caladas.
Pelo tinir das taas e porcelanas
Nas festas de aniversrio.
Pelo bater bulioso da chuva
No telhado antigo
Nas noites frias de inverno.
No ringir cadenciado da rede
Adormecendo crianas.
Pelo cantar estridente do galo
Dentro da madrugada.
Do gado mugindo, triste,
Voltando para o curral.
Pelo ruflar dos tambores,
Tambores de minha infncia, nas paradas militares.
Mas, antes de tudo,
Agradecido, Senhor,
Pela voz da pessoa amada,
Misturada com sorrisos,
Enchendo-nos o corao!
CORDEL
UMA MENTIRA DE VIS
Seu
moo, preste ateno
Pri estria que vou contar
Que assucedeu no serto
Pras bandas de Camet.
A histria de uma mentira
Daquelas de arrepiar.
Eu ainda era menino
Foi meu pai que me contou,
Ele mesmo havia ouvido
Da boca do seu av.
Havia naquelas bandas
Um famoso fazendeiro
Ele era muito lorde,
Gordo, bonito e faceiro.
Ele tinha muito gado,
Era louco por dinheiro.
Quando montava a cavalo,
Parecia um brigadeiro.
De casimira era o fraque,
De couro era o gibo,
As calas eram de mescla,
As meias, de algodo,
De couro cru, os sapatos,
As esporas, de lato.
S andava de cartola
Com seu rebenque na mo.
Ele tocava viola
Nas festas da procisso.
Danava que s carrapeta
Abraando um rabeco.
No perdia um forr
Por longe que fosse a funo.
O homem tinha um cumpadre
Besta que s aru.
A mulher mandava nele,
No tinha como opinar.
Tudo que lhe pedissem
No sabia recusar.
O velho tinha uma filha
Muito bonita e formosa,
Seus cabelos cacheados
Com as faces cor-de-rosa.
Ela era muito bonita,
Ainda hoje eu sustento,
Gesticulando c’ os braos
Parecia um cata-vento.
Falava pros cotovelos
E quando estava de lua
Era aquele desmantelo.
Se comeava a falar,
A zoadeira era tanta,
Mais parecia matraca
Durante a Semana Santa.
Seu nome era Flor do Mato,
Nome bonito de flor,
Pois era mesmo bonita
A menina, sim, senhor.
Mas o que chamava ateno
No era a beleza dela
Mas por ser muito ladina
A todos ela enrolava
E ainda pisava em cima.
Mesmo pobre de J,
Ela tinha uma vaquinha
Muito bonita e formosa,
Do modo que lhe convinha.
Toda riqueza do mundo
Por ela no tinha prosa.
A menina era afilhada
Deste rico fazendeiro,
Que um dia vendo a malhada
Ficou todo lampeiro,
Espichando os olhos nela
Acendeu um candeeiro.
Para ter bom resultado,
Preparando uma esparrela
Pra enganar o cumpadre
E ficar com a vaca dela.
O safado do padrinho
S pensava na seqela.
Por isso ficava assuntando
De manh noite inteira.
No pensava noutra coisa
Mesmo que fosse faceira.
Por isso, mesmo dormindo,
Ele armava uma tranqueira.
Ele falou com o cumpadre
Para comprar a vaquinha;
Se no quisesse vend-la
Ele propunha uma rinha:
Quem contasse uma mentira
Que fosse mais de vis
Ou ganhava a vaca, em paga,
Ou pagava cem mirreis.
O cumpadre ficou triste,
Pois no podia faltar
Ao padrinho da menina
Neste rude pelejar.
Assim foi logo pra casa
Comeando a manquejar.
A menina notou logo
A tristeza do seu pai
E foi ento perguntando:
Mas o que houve demais?
O velho lhe contou tudo
Da conversa do patro.
Ela ficou assanhada,
Os olhos como um tio:
Meu pai no se aperreie,
Eu entro na confuso.
Eu falo com meu padrinho
E vou ar-lhe um sermo.
Quando o padrinho chegou
Diante da porta dela
procura de seu N,
Ela pulou da janela
Com uma mo no quadril,
A outra mo na cancela.
E foi assim repetindo:
Meu padrinho, no lhe conto
Que assucedeu logo cedo,
Eu ainda t tremendo.
Estou morrendo de medo,
Eu conto toda a verdade,
No posso fazer segredo:
Como sabe o meu padrinho
O meu pai gosta de abeia,
E logo, manh bem cedo,
Ele saiu com a candeia
Para contar com certeza
Quantas tinham na colmia.
Logo notou que faltava
Uma delas na corvia.
Ento meu pai saiu logo
Pra procurar l no mato
Aquela abeia fujona
Descobrindo o desacato.
Com uma foice afiada,
Um machado catatau,
Encontrou ela ferrando
L no alto de um pau.
E como era muito alto
E no podia subir,
S lhe restava um caminho
Para aquele pau aluir.
Era botar tudo abaixo
Para a abeia no fugir.
Quando bateu l no pau,
O machado resvalou,
Dando uma volta no ar
Na lagoa se afundou.
O meu pai que arfabeto,
Mas ele no bobo no:
Tacou fogo na lagoa
Com pedao de tio
E foi procurar o machado
Por ser grande a preciso.
S restou um cabo torto
No meio da confuso.
Tinha o ferro do machado
Se derretido no cho,
Fazendo um anzol do cabo
Do que restou do machado
Foi logo pescar adiante
Numa gamboa ao seu lado.
Enterrando os ps na lama,
A corda logo esticando,
No anzol vinha uma besta
Dando coice, esperneando.
Era uma besta bonita,
Muito gorda e luzidia.
Estava toda empinada
Com ares de galhardia.
Bonita daquele jeito
Muito tempo no se via.
Mas ela tinha um defeito:
No lombo da dita cuja,
Havia tanta gafeira
Que lhe faltava o respeito.
Meu pai no se assustou
Vendo aquela confuso,
Pegou logo duas favas
Que trazia no gibo,
Fazendo um pozinho mido,
ando no lombo com a mo.
Mas quando olhou onde estava,
E olhou por primeiro,
Viu um faveiro crescendo
Todo cheio de fava.
Era fava pra todo canto,
Que era aquele esparrameiro.
Ento meu pai foi buscar,
L no fundo do terreiro,
Enchendo dois cao
E um surro de couro inteiro,
Levando um pra cozinha
O outro pro copi.
Para provar a verdade,
Eu vou agora buscar
Um bocado desta fava
Pra meu padrinho jantar.
Eu no gosto de mentir,
Muito menos de enganar.
Ela encheu um balaio
Naquele mesmo instantinho,
Foi lanando o contedo
Na frente do seu padrinho.
O velho todo espantado
Com aquela toda ingrezia
No podia fazer nada
Diante do que ele via.
Viu ter perdido a aposta
E se viu todo encrencado,
Dizendo em voz fanhosa
Todo desconsolado:
Basta, menina, basta,
Eu j me dou por vencido.
Toma l seus cem mirris,
J me vejo combalido.
Se voc moa j mente
Desse jeito sem gemido,
Que ser teu pai que velho
Que muito mais aprendido.
FIM
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