Projeto DHnet
Ponto de Cultura
Podcasts
1935 Mapa Natal
1935 Mapa RN
ABC da Insurreio
ABC Reprimidos
ABC Personagens
ABC Pesquisadores
Jornal A Liberdade
1935 Livros
1935 Documentos
1935 Textos
1935 Linha Tempo
1935 em Audios
1935 em Vdeos
1935 em Imagens
Nosso Projeto
Equipe de Produo
Memria Potiguar
Tecido Cultural PC
Curso Agentes Culturais
Guia Cidadania Cultural
Direitos Humanos
Desejos Humanos
Educao EDH
Cibercidadania
Memria Histrica
Arte e Cultura
Central de Denncias
Rede DHnet
Rede Brasil
Redes Estaduais
Rede Estadual RN

O Sindicato do Garrancho Brasilia Carlos Ferreira PDF 25.1 MB 2n3h14

Baixe o Arquivo

Insurreio Comunista de 1935
em Natal e Rio Grande do Norte

O Sindicato do Garrancho
Brasilia Carlos Ferreira, Segunda Edio, Coleo Mossoroense, 2000


1 – Introduo

Este livro narra a luta dos operrios de salinas de Mossor, para se organizarem em sindicato, o “Sindicato do Garrancho”, tal como conhecido at hoje. A histria se desenrola entre os anos 1931, quando foi criada a “Associao dos Operrios do Sal” e 1946, quando enfim receberam a carta sindical.

Mas a saga dos operrios do sal no se limita a este espao de tempo. A fundao do “Sindicato do Garrancho” no se explica sem a referncia obrigatria criao da Liga Operria em 1921, na cidade de Mossor, pelo professor Raimundo Reginaldo da Rocha.
E a Liga Operria no pode ser compreendida, sem que se considere o surgimento da primeira clula do Partido Comunista, em 1928. O PC o elemento fundamental para a compreenso da luta desenvolvida pelos trabalhadores e dos inesperados rumos que ela tomou.

Isto porque, junto com a luta pelo reconhecimento do sindicato, os trabalhadores abraaram outras lutas – ou tero sido aspectos de uma mesma e grande luta? – foram perseguidos, pegaram em armar e embrenharam-se na clandestinidade forada, que est reservada aos que esto do outro lado da lei e da ordem.
E por qu? O que fez com que a luta pela organizao sindical, levada amplamente no pas pela classe trabalhadora, aqui se revestisse de uma inusitada violncia, capaz de jogar dezenas de operrios nas matas, percorrendo veredas noturnas, enfrentando os homens e as armas das foras mantenedoras da ordem, num desafio constante? O que fez com que esses homens de calo no ombro, rosto crestado de sol, trocassem o balaio e a enxada a que estavam habituados por armas e munies? Manoel Torquato, Sebastio Cadeira, Gonalo Izidoro, Feliciano, Marcelino, Sandoval, Jos Francisco e tantos outros... Por qu?
Desvendar este enigma o nosso objetivo. Reconstruindo a luta dos operrios do sal, queremos, a partir da anlise dos fatos, estabelecer os nexos entre o “o Sindicato do Garrancho” e a “guerrilha”. Na tentativa de buscar o fio condutor desse perodo histrico e na medida em que acompanhemos a trajetria do movimento, seremos levados a percorrer outros caminhos, a penetrar outras trilhas que possam nos aproximar de uma compreenso satisfatria para as questes que ele suscita.

At que ponto a prtica do “Sindicato do Garrancho” seria um caso singular no contexto do movimento sindical do ps 30? A extrapolao de marcos tradicionais apontaria para as terrveis condies de vida e trabalho a que estavam submetidos? Ou para o atrelamento do sindicato ao Partido Comunista Brasileiro? Ser suficiente explicar a “guerrilha” pelas orientaes do MCI ou do PCB? Como justificar o “deslocamento” evidente em vrios momentos, entre as orientaes do PCB e a prtica do ncleo comunista local? Pelas especificidades na constituio social do prprio PCB em Mossor? Ou essa radicalidade produto dos enfrentamentos de classe, potenciados pela ausncia de uma classe numerosa, capaz de amortecer os conflitos? E por ltimo, de que projeto o “Sindicato do Garrancho” portador? De um projeto que aponta para a emancipao da classe trabalhadora? Ou que se limita a coloc-la a reboque de projetos idealizados para e em seu nome, estando a a explicao para os rumos inesperados que o movimento tomou e as conseqncias que lhe seguiram?
Estamos longe de pretender responder satisfatoriamente a todas essas questes. De todo modo, parece importante ressalt-las, na medida em que elas foram emergindo durante a reconstruo histrica e refletem a teia complexa de elementos que a constituem. Quando menos, estaremos caminhando em direo a uma maior clareza, que nos leve a pensar criticamente os projetos polticos e – principalmente – a prtica decorrente dessas propostas, no interior dos movimentos.
Embora a luta dos trabalhadores das salinas por sua organizao sindical se desenrole entre 1931 e 1946, concentraremos nossa ateno no perodo que vai de 1931 a 1936. Este corte histrico demarca conjunturas distintas. o perodo de ascenso do movimento, no qual os trabalhadores se insurgem no cenrio mossoroense com uma presena pujante e vigorosa. A partir de 1935, com a represso que se seguiu ao Levante de Novembro, teria incio um longo perodo de descenso. De incio, o movimento recua, ficando ao grupo clandestino, que tentaria resistir, mas seria aos poucos encurralado, sendo a “guerrilha” finalmente derrotada em 1936.

A ausncia de qualquer registro sobre o assunto nos encaminhou para a reconstruo histrica, o que foi feito a partir de duas perspectivas. De um lado, pesquisando exaustivamente a imprensa da poca, os jornais publicados em Mossor e em Natal, capital do Estado, pudemos montar um quadro histrico do perodo. De outro lado, atravs de depoimentos de trabalhadores que participaram do movimento. Apesar da razovel distncia de mais de meio sculo, encontramos alguns poucos, capazes de ajudar nessa tarefa. Assim, a partir de longas e repetidas conversas fomos montando pouco a pouco, a sua histria, o seu tempo.
Apesar de extremamente dificultados pelas distncias e pelas seqelas naturais da vida, esses recursos revelaram-se extremamente produtivos, de modo que a carga de informaes a que tivemos o nos permitiu recuperar pelo menos os momentos mais significativos desse movimento.

Muito embora este livro seja uma resposta s exigncias de concluso do curso de Mestrado realizado na PUC-SP, gostaramos de explicar nosso interesse pelo “objeto de estudo”. A escolha do tema, bem como a realizao do trabalho, deveu-se menos a questes acadmicas e mais oportunidade de trazer luz um pouco da nossa histria, resgatar seus personagens e acontecimentos, a partir da tica de seus agentes: a classe trabalhadora.

Portanto, esse texto se circunscreve no veio de tantos outros que pretendem dar vez aos agentes de uma sociedade profundamente excludente e refratria idia de itir a sua existncia, na tentativa de – ignorando suas vozes, suas aes, seus anseios – elimin-los da histria, enquanto foras vivas e poderosas alavancas de transformao.

Este resgate histrico nos pe em contato com uma prtica sindical que embora nos aparea – a partir do distanciamento temporal e crtico – como reflexo de uma perspectiva poltica equivocada, inclui a ao e a existncia de atores de profunda grandeza humana e poltica, bem como de um idealismo beirando o pattico. Ao nos depararmos com tais atores e a carga de idealismo e ingenuidade que peram o contedo “revolucionrio” de suas aes, somos levados a lembrar a reflexo de Lnin sobre o sonho e a necessidade de concretiz-lo. E que coisa inspirou mais o homem para o sonho, o que o impediu luta, mais que o ideal de liberdade?

O tratamento dispensado ao tema reflete essa disposio interior e anterior. Parece-nos perfeitamente concilivel o trabalho de reconstruo histrica desse episdio da luta dos trabalhadores por sua organizao e a reconstituio das vidas que possibilitaram tais acontecimentos. Vidas humanas, ricas em sentimento, plenas de atitudes, emoes, virtudes, perplexidades, contradies.

O sindicalismo aqui registrado ter, portanto, gestos, odores, cores. Ter olhos, narizes e bocas. Ter nomes. Tentar apreender a deliberao poltica, compreender sua motivao e, ao mesmo tempo, captar a emoo que se esconde atrs dessas decises. Procurar falar da paixo que torna os homens capazes de dedicarem suas vidas a um interesse coletivo. Mostrar um episdio na luta da classe trabalhadora mossoroense pela sua emancipao, no deixando escapar o componente de beleza revolucionria, mas tambm a poesia que est subjacente ao ato humano de busca da liberdade.

^ Subir

Desde 1995 dhnet-br.diariodetocantins.com Copyleft - Telefones: 055 84 3211.5428 e 9977.8702 WhatsApp
Skype:direitoshumanos Email: [email protected] Facebook: DHnetDh
Busca DHnet Google
Tecido Cultural Ponto de Cultura Rio Grande do Norte
Linha do Tempo RN Rio Grande do Norte
Mem
Combatentes Sociais RN
Hist
Guia da Cidadania Cultural RN
Rede Estadual de Direitos Humanos Rio Grande do Norte
Redes Estaduais de Direitos Humanos
Rede Brasil de Direitos Humanos
Hist
Direito a Mem
Projeto Brasil Nunca Mais
Comit
Djalma Maranh
Othoniel Menezes Mem
Luiz Gonzaga Cortez Mem
Homero Costa Mem
Bras
Leonardo Barata Mem
Centro de Direitos Humanos e Mem
Centro de Estudos Pesquisa e A