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Insurreio Comunista de 1935 em Natal e Rio Grande do Norte 715r45

Osvaldo Bertolino
Pesquisador

Rio Vermelho razes potiguares do Brasil democrtico e progressista desde o Levante de 1935

Em 23 de novembro de 1935, em Natal, Rio Grande do Norte, teve incio um dos mais importantes acontecimentos da luta popular da histria do Brasil


Captulo 1 do livroRio Vermelho – razes potiguares do Brasil democrtico e progressista desde o Levante de 1935
Um partido nascido para lutar. Guerrilha de Mossor projeta lideranas comunistas e impulsiona o Partido Comunista do Brasil

Ningum fazia a menor ideia de quem era aquele casal andando pelas ruas de Mossor, Oeste do Rio Grande do Norte. Ele um cego e ela sua guia, uma mulher de barriga volumosa, aparentemente perto de dar luz. Os disfarces escondiam o professor Raimundo Reginaldo da Rocha e sua filha, Amlia, de dezoito anos de idade, com a roupa com enchimento de pano, fingindo-se grvida. Fugiam das perseguies desencadeadas em Natal, onde participaram do Levante, de armas nas mos.
As ideias marxista-leninistas foram lanadas em Mossor por Raimundo, que iniciou a organizao do Partido Comunista do Brasil — ento com a sigla PCB — na regio em 1928. Incentivou os irmos a entrarem para o Partido, formando o grupo que ficou conhecido como irmos Reginaldo. Ingressaram no Partido, alm de Raimundo, Lauro Reginaldo – que ficaria conhecido como Bangu –, Jonas Reginaldo, Antnio Reginaldo e Glicrio Reginaldo.

Raimundo fora professor da Escola Paulo Albuquerque e um dos fundadores da Liga Operria de Mossor, em 10 de abril de 1921. Em 1926, um texto assinado por Jos Alves – possivelmente pseudnimo – n’A Classe Operria, informava que o movimento social no Rio Grande do Norte “sempre foi dos melhores que encontramos no norte do pas”. “As associaes operrias existentes na capital e no interior tem como preocupao primordial dar a necessria educao intelectual aos seus associados e aos filhos destes, cujo benefcio abrange tambm as crianas pobres que procuram frequentar as suas escolas”.
No menciona a Liga Operria de Mossor, mas fala da Liga Artstica Operria, que seria a decana das associaes existentes e sempre formou na vanguarda associativa, comparecendo a todos os certames nacionais. Num Congresso sindical, realizado no Rio de Janeiro entre 7 e 15 de novembro de 1912, foi a Liga Artstica Operria norte-rio-grandense, entre as setenta e cinco aderentes, a que melhor tese apresentou reivindicando direitos para os trabalhadores.

Meninos traquinas
Os irmos Reginaldo tomaram contato com o marxismo-leninismo por intermdio da professora Celina Guimares Viana – a primeira mulher a votar no Brasil e na Amrica Latina, nas eleies de 1928 –, que tinha chegado de Natal com o marido Eliseu para lecionar no Grupo Escolar 30 de Setembro.

No livroEliseu Viana – o educador, o jornalista e escritor Walter Wanderley relata o que seria a verso de Celina. Estudara Marx e Lnin e decidira se desfazer da sua coleo de livros. A professora teria chegado concluso de que as ideias socialistas no dariam certo no Brasil. Juntou num pacote obras comoO Capital,A ideologia alem,A luta de classes na Frana,A sagrada famlia,Manifesto Comunista,O desenvolvimento do capitalismo na Rssia,A teoria do Estado,Funo dos sovietes,Carta aos camaradase entregou ao menino Lauro Reginaldo.

Quando o casal de professores chegou em Mossor, foi morar perto da casa de dona Luiza Reginaldo, me de “meninos briguentos, atrevidos, rebeldes”. Celina foi chamada para ajudar dona Luiza numa situao de doena que exigia cuidados especiais. Providenciou-lhe remdios e boa alimentao, e em uma semana a sade estava restabelecida. Assim nasceu uma amizade que permitiu a dona Luiza contar a histria dos filhos, expulsos do Grupo Escolar.

No havia motivo para aquela atitude drstica contra meninos apenas traquinas, como toda criana. Seus nove filhos – oito meninos e uma menina –, todos inteligentes e com vocao para as artes, disse dona Luiza, gostavam de ler, mas estavam proibidos de estudar. Esperava que os professores vindos de Natal compreendessem a situao e reconsiderassem a expulso.
Celina se disse revoltada e compadecida. Prometeu conversar com o marido. Ficasse tranquila. Todos voltariam ao Grupo. Reeducar era tambm encargo deles, professores. Os meninos tomariam jeito. Assim foi feito, no relato de Walter Wanderley. Raimundo, o mais velho, Jonas, Rochinha, Glicrio, Antnio, Joo da Mata, Luis, Lauro e Maria de fato demonstraram muita inteligncia.

Bangu conta, em sua autobiografiaMemria de um militante, organizada por Braslia Carlos Ferreira, que os irmos Reginaldo criaram a primeira clula da Juventude Comunista “em fins de 1924 ou comeo de 1925”. Em Mossor surgiu tambm, no final dos anos 1920, o primeiro Comit Regional do PCB do Rio Grande do Norte, por iniciativa de Antnio Reginaldo.
Na mesma poca, Celina e o marido optaram por voltar para a capital, numa deciso combinada com o governador (presidente, poca) do Rio Grande Norte, Juvenal Lamartine. E, em 25 de junho de 1928, a transferncia foi oficializada. Ambos deixaram a Escola Normal Primria de Mossor para ingressar na Escola Normal de Natal. Deixaram tambm, mesmo que involuntariamente, as ideias marxista-leninistas assumidas pelos irmos Reginaldo.

Unio Feminina
A influncia de Raimundo Reginaldo logo chegaria a Natal, com a formao de um grupo de quatro sapateiros – Jos Praxedes, Aristides Galvo, Jos Pereira e Pedro Marinho – que se propunha a conhecer a Revoluo Russa de 1917 e a estudar o maximalismo (termo usado na imprensa operria brasileira a partir do incio da Revoluo), na verdade o marxismo.
Foi a primeira clula comunista organizada em Natal, segundo Praxedes. Em abril de 1935, realizou-se a I Conferncia Estadual do PCB. Marco fundante da histria do Partido no Rio Grande do Norte, elegeu a primeira direo estadual, formada por Jos Praxedes (sapateiro), Lauro Lago (diretor da Casa de Deteno), Francisco Moreira (sindicalista), Raimundo Reginaldo (sindicalista), Aristides Galvo (sapateiro) e Lauro Reginaldo “Bangu” (sindicalista).
A direo eleita deu impulso organizao do PCB no estado. Sob severa clandestinidade, as reunies ocorriam em residncias dos militantes, sempre noite, com mais frequncia na casa do jovem Joo Galvo Filho, tambm natural de Mossor, que seria um dos principais lderes do Levante em Natal.

s vezes as reunies aconteciam na padaria Palmeiras, propriedade do militante comunista Joo Fagundes, sempre tarde da noite, no sto. Ou nas ruas, noite, sob a iluminao pblica, com no mximo trs pessoas; um sistema que ficou conhecido como “grupos dos postes”. E assim as decises chegavam s clulas de base.

Outro ponto de apoio era a Unio Feminina Brasileira (UFB), poca organizada clandestinamente em vrias cidades do pas, que chegou a Natal tambm sob orientao do professor Raimundo, incumbncia que teria recebido de representantes da Aliana Nacional Libertadora (ANL) que foram ao Rio Grande do Norte tomar pulso da situao e incentivar a organizao aliancista. Ncleos da UFB se espalharam pela cidade, organizados por homens e mulheres comunistas. Na residncia de Raimundo, ocorreram as primeiras reunies, quando foram debatidas as ideias da ANL.

O PCB, que expandia sua organizao no Nordeste, recebeu em Natal dirigentes nacionais, entre eles um conhecido por Maranho, enviado pelo Comit Central, e Vicente dos Santos, responsvel pela ligao entre os comits regionais do Nordeste e a direo nacional.

Os dirigentes da ANL, Joo Cabanas – que teria sido preso em uma praia de Natal ao tentar organizar uma reunio e deportado para o Rio de Janeiro –, e Roberto Sisson tambm estiveram na capital e em Mossor, em abril de 1935, quando a organizao foi oficialmente criada no estado. Sisson voltou a Natal em junho, ento acompanhado do jornalista Horcio Valladares, ligado ao Comit Central do PCB, encarregado de ficar na cidade como assessor do Comit Regional.

Na formao da Unio Feminina Brasileira local, Raimundo Reginaldo, conhecido por Tom – seu nome clandestino –, foi auxiliado pela esposa, Luiza Gomes, e a filha, Amlia Gomes, com o nome clandestino de Clotilde. A organizao teria papel de destaque no Levante. Mas outra luta j se desenvolvia de forma dramtica na regio de Mossor.

Revolvimento poltico
O que parecia ser um episdio isolado fez dezesseis homens percorrerem a Vrzea do Assu, regio de terras frteis e injustias sociais, a pouco mais de duzentos quilmetros a Oeste de Natal, conclamando a populao luta armada. Um latifundirio expulsou o campons conhecido por Jos Fumeiro, homem idoso, de suas terras, reempossado por duzentos trabalhadores que se organizaram para reparar a injustia. A base foi o movimento dos carnaubeiros, reunidos num sindicato campons com mais de seiscentos associados.

Logo apareceu a polcia e desencadeou a represso. Os camponeses, reunidos na casa de Cndido Benedito, membro do sindicato dos trabalhadores rurais, foram surpreendidos pelo assalto policial. O lder do grupo, Manoel Torquato, acabou preso. Conseguiu fugir, reorganizou os camponeses e iniciou a luta armada.

Assim nasceu um movimento guerrilheiro na regio, que lutaria por quase um ano, evoluo dos confrontos iniciados com a organizao dos trabalhadores para combater a opresso no campo e nas salinas de Mossor – a principal cidade da regio, distante de Assu quase setenta quilmetros – e da vizinha Areia Branca. As conquistas salariais, resultado da forte organizao sindical, levaram nimo luta dos camponeses. A reao do patronato e dos latifundirios causou choques violentos e consequente reforo da organizao dos trabalhadores.

Quando o grupo liderado por Manoel Torquato iniciou a guerrilha, a regio j havia ado por dois pontos altos de luta – a “eata da fome”, que percorreu Mossor e saqueou o Mercado Municipal, e uma greve geral que paralisou a cidade, puxada pelo sindicato dos operrios das salinas de Mossor, conhecido como “sindicato do garrancho”, assim chamado por ter nascido em reunies no emaranhado da mata intensa, distante dos olhos da polcia. Grupos de autodefesa foram organizados, uma proteo aos que sofriam perseguio. Muitos aram clandestinidade.

Em meados de 1935, uma reunio, realizada na casa do sindicalista e militante comunista Francisco Guilherme, debateu a situao de mais de trinta lideranas sindicais ameaadas pelas foras policiais do governo do estado, que se intensificou aps o episdio do posseiro Jos Fumeiro. As constantes refregas deram experincia aos trabalhadores na ttica de autodefesa. Organizaram os mais fortes e experientes para impedir agresses policiais, que s vezes resultavam em confrontos armados.
O estado estava envolto em uma contenda que vinha do revolvimento poltico da Revoluo de 1930. Mrio Cmara, indicado interventor em agosto de 1933 pelo presidente Getlio Vargas, tentou apaziguar os nimos ao dar guarida a setores das oligarquias locais que haviam perdido poder com a mudana de regime, mas no obteve sucesso.

Joo Caf Filho, importante personagem da poltica local malvisto pelas oligarquias, foi logo afastado da chefia de polcia “para que se criasse em torno do novo interventor uma atmosfera de grande simpatia e confiana”, segundo mensagem escrita por Mrio Cmara a Getlio Vargas.

Os oligarcas recuperaram fora nas eleies de 1934, para deputado estadual e federal, alm de governador, em um processo regido pela violncia. Fraudes motivaram a interveno do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aumentando o clima de tenso.
Os comunistas organizaram o Partido da Unio Operria Camponesa do Brasil e participaram das eleies, numa ao ousada para marcar presena e driblar o anticomunismo e a ilegalidade do PCB. Compam a chapa cinco nomes para a Cmara Federal – entre eles, Luiza Gomes, esposa de Raimundo Reginaldo, e Lauro Reginaldo, o Bangu – e vinte e quatro para a Constituinte estadual.

O PCB vinha de uma trajetria de relativo sucesso com a poltica de se inserir no cenrio poltico local, projetado por sua influncia entre os trabalhadores. No governo do interventor Herculino Cascardo – ex-oficial da Marinha e ex-membro da Coluna Prestes, que seria o presidente da ANL –, iniciado em julho de 1931, os comunistas atuaram com certa liberdade. O sucessor, Mrio Cmara, manteve a boa relao com o PCB, de olho nos votos dos trabalhadores para as eleies de 1934.
Havia rumores de que o capito Otaclio Lima, membro da ANL, estaria preparando uma conspirao; acusao que partira de Mrio Cmara. Silo Meirelles, tambm capito e dirigente aliancista, esteve em Natal no ms de agosto de 1935 para tratar do assunto. Informou o Partido sobre os rumores, o que motivou a divulgao de umManifestocontrrio precipitao do Levante e a designao de um representante, o dirigente Joo Lopes – conhecido como Santa –, para manter contatos com lideranas militares.
Santa explicou a posio do PCB ao sargento Quintino Clementino de Barros – msico do Exrcito – e ao cabo Giocondo Dias, principais lideranas do 21 Batalho de Caadores, que aram a organizar o Partido e a ANL entre os militares. Havia sido enviado pelo Comit Central, no incio de l935, com orientaes sobre a nova fase dos comunistas. Voltou para o Rio de Janeiro e retornou a Natal para auxiliar Horcio Valladares, outro enviado pela direo do Partido em junho.

Depois que a Assembleia Constituinte local elegeu Rafael Fernandes governador – uma derrota para o governo Vargas –, em outubro de 1935, os comunistas intensificaram o trabalho entre os militares. Ligado s oligarquias, assim que tomou posse o novo governador fez uma limpa, demitindo funcionrios e, na antevspera do Levante, extinguiu a Guarda Civil – criada por Caf Filho quando fora chefe de polcia na interventoria de Bertino Dutra –, acusada de abrigar cangaceiros e arruaceiros a servio do interventor Mrio Cmara.

Valendo-se da Lei de Segurana Nacional, logo batizada de “Lei Monstro”, promulgada por Vargas em abril de 1935, o governo Rafael Fernandes intensificou a represso, atingindo fortemente a regio de Mossor e do Vale do Assu.

Manifesto aos camponeses
Em agosto, a guerrilha declarou-se em ao e s terminaria depois de 16 de julho de 1936, quando seu comandante militar, Manoel Torquato, foi assassinado traio por um de seus homens de confiana, chamado Feliciano Cardoso, que pretendia, com o crime, escapar das represlias dos inimigos da guerrilha. O golpe no deu certo e Feliciano Cardoso acabou preso.
Dezessete dias antes, a guerrilha distribuiu populao local a seguinte carta:

Acampamento das Foras Libertadoras
29/06/36
Ilmo. Sr.
Mossor
Como sabido, ns nos achamos em armas, dando incio Revoluo Nacional Libertadora, que, como v.s. no ignora, uma fatalidade histrica e tem por fim libertar o Brasil da influncia nefasta do imperialismo estrangeiro, que to miseravelmente nos explora e oprime, dentro da nossa casa; acabar com o latifndio, que a grande propriedade territorial; proteger e desenvolver a pequena propriedade e o pequeno comrcio; assegurar a independncia e o bem-estar dos brasileiros.
O Brasil um pas escravizado ao estrangeiro, pelas dvidas imperialistas, que montam neste momento a 28 milhes de contos de ris, o que consome, s de juros, mais de um milho de contos de ris anualmente, e onera cada brasileiro com uma dvida de 700$000! Mais de trs milhes de contos de ris, so exportados anualmente do Brasil para o estrangeiro, como pagamento dos juros e amortizao dos emprstimos – j trs vezes pagos – e gordos dividendos das empresas imperialistas no pas! E s a Revoluo poder faz-lo!

Sabemos que o senhor, como bom brasileiro, no nosso inimigo, nem to pouco da Revoluo. Pelo que lhe dirigimos a presente, para pedir-lhe, em nome da Revoluo, um auxlio. Sabemos que o sr. no um grande rico, mas a importncia pedida no vai alm das suas possibilidades. Apesar das calnias dos nossos inimigos, ns at hoje no praticamos o saque e pedimos aos que simpatizam com a Revoluo que h de libertar o Brasil de todas as mazelas que nos afligem. O sigilo da presente e a segurana pessoal do portador so da mxima convenincia para v.s.
Sem mais, saudaes revolucionrias.

Pela Comisso Executiva das Foras Libertadoras, Miguel Moreira, Marcelino Pereira, Manoel Torquato.
Nem o reforo policial enviado pelo governador Rafael Fernandes conseguiu derrotar a guerrilha, que s seria vencida por foras numericamente muito superiores, aps o assassinato de Manoel Torquato. Com ele estava, no comando dos insurretos, Miguel Moreira, considerado o lder poltico do grupo, que sobreviveu a um brutal cerco policial, em 21 de julho de 1936, na localidade chamada Cigano e se tornou importante dirigente do PCB.

Acabou preso, mas antes divulgou um manifesto aos camponeses, com a esperana de que a guerrilha seria retomada. “Os guerrilheiros so os grupos do exrcito revolucionrio em formao”, proclamou. Sua priso no municpio de Angicos pelo destacamento policial comandado pelo capito Joaquim Moura foi comemorada pelo jornalDirio de Notcias, na edio de 31 de julho de 1936, numa pgina especfica para atos criminais e policiais, cuja chamada dizia:Extinto o ltimo grupo de extremistas no Rio Grande Norte.Foram presos os chefes Miguel Moreira e Marcelino Pereira.

A matria, em tom editorial e carregada de eptetos para caracterizar a ao policial como um grande feito contra a “ao destruidora dos elementos extremistas aliados a conhecidos bandoleiros, que o faccionismo partidrio atrara de outros estados”, lembrou os “apelos” do jornal para que providncias fossem tomadas, “acentuando os futuros e gravssimos perigos para a populao do serto nordestino”. “Nossos apelos, infelizmente, porm, no foram ouvidos”, lamentou o jornal.
Miguel Moreira, “um indivduo inteligente, professor e rbula (pessoa que advogava sem formao em Direito, autorizada pela Justia a exercer a funo) do interior”, orientava “a ao do extremismo cangaceiro”. “A priso dos dois perigosos agitadores representa um decisivo golpe contra o extremismo no Rio Grande do Norte, e um fato que muito exalta a capacidade das autoridades policiais norte riograndense”, asseverou oDirio de Notcias.

O prefeito de Mossor, Padre Luiz Ferreira da Motta – conhecido como Padre Motta –, nomeado por Rafael Fernandes, enviou ao interventor os seguintes telegramas:
Polcia prendeu em Angicos os chefes extremistas Miguel Moreira e Marcelino Pereira, os quais foram recambiados para Mossor.

Abraos, monsenhor Motta
Tenho prazer comunicar vossncia que bandidos Miguel Moreira e Marcelino Pereira, abandonaram, ontem, as armas no stio Umbuzeiro, no municpio de Assu, seguindo em direo quela cidade. Armas recebidas esto aqui em exposio pblica, com respectiva munio.

Devemos a ao eficiente do destemido e bravo capito Moura, seus colegas e demais soldados, o desbarato completo do banditismo que infestava nosso municpio.

Agradecemos ao governo a solicitude que empregou na defesa do regime, tranquilizando nossa zona.
Cordiais saudaes, Padre Luiz Motta, prefeito.

Em quase um ano de combates, a guerrilha venceu batalhas heroicas, como o ataque de tropas da 7 Regio Militar, sediadas em Recife. Adaptados s condies locais, os guerrilheiros atacavam com audcia, pegando o inimigo de surpresa. Foi assim que combateram em vrias localidades. Numa delas, chamada Canto Comprido, entrincheirados em um aude, fizeram debandar mais de duzentos capangas de um latifundirio chamado Arthur Felipe, morto no tiroteio.

Miguel Moreira liderou outra ao de bravura ao organizar um comando guerrilheiro que libertou mulheres de revolucionrios que estavam em poder de uma escolta policial e seriam torturadas. A Associao das mulheres trabalhadoras de Mossor e a Associao de empregadas domsticas, organizadas pelo PCB, eram apoio fundamental guerrilha.
As mulheres revelavam aos guerrilheiros conversas dos patres e at a existncia de armas escondidas. Destacavam-se entre elas Francisca Clara de Souza e Anita, respectivas esposas de Francisco Guilherme e Joel Paulista, lideranas sindicais dos trabalhadores das salinas de Mossor. A cidade tinha a tradio de mulheres combatentes, marca que viera da revolta de 4 de setembro de 1875, quando saram s ruas e fizeram uma guerra contra a obrigatoriedade do alistamento militar feminino.

Lderes militares
Enquanto a guerrilha avanava no oeste do estado, a guerra estourou em Natal. Foi uma iniciativa prpria dos revoltosos, sem aval da ANL – pouco organizada no Rio Grande do Norte, dirigida pelo militante comunista Adamastor Pinto –, antecipando em quatro dias a data prevista para o Levante. Aproveitaram as condies propcias de 23 de novembro de 1935, um sbado, quando sargentos, cabos e soldados se viram em condies favorveis para a revolta no 21 Batalho de Caadores.

A direo local do PCB estava reunida, tarde, com o enviado do Comit Central Joo Lopes, o Santa, quando Giocondo Dias e Quintino Clementino de Barros chegaram com informaes de que a tropa preparava uma rebelio. A direo, inicialmente hesitante, aps intenso debate, decidiu apoiar a revolta.

A verso de Giocondo Dias. Santa diz que estavam com Quintino dois jovens sargentos, dizendo que levantariam o movimento s quatro horas da tarde. “Eu combati muito esta atitude deles, dizendo que esperassem mais dois dias, ao menos. Eles no aceitaram a minha proposta e me informaram que (hoje) na parada da manh tinham sido desincorporados vinte e oito militares, inclusive sargentos, cabos e soldados, todos da confiana dele”, relatou em uma carta ao Comit Central.

Aceitaram postergar o incio da revolta por duas horas, enquanto a direo do Partido decidiu enviar um emissrio a Recife, sede do Secretariado do Nordeste, de avio. E seguiram tentando demover os lderes militares da ideia da revolta precipitada. No houve acordo e acertaram o incio do Levante para as oito horas da noite. Mobilizaram mais de cento e cinquenta homens e mulheres, orientados por ele, Santa, e Quintino deflagrou a rebelio s sete horas e quarenta e cinto minutos.
Giocondo informa que quando retornaram ao Batalho, ele e Raimundo Tarol – codinome do sargento Raimundo Francisco de Lima, tambm msico, que recebera a denominao de Tarol em aluso ao nome do instrumento que tocava, uma espcie de tambor – dominaram os oficiais governistas e prenderam-nos, chamando os soldados a ingressar no Levante. Alm dos soldados, participaram ex-membros da extinta Guarda Civil, demitidos pelo governo Rafael Fernandes, e civis.

Jos Praxedes, ento o principal dirigente do PCB no estado, havia retornado a Natal fazia dez meses. ara os ltimos dois anos no Rio de Janeiro, para onde fora deportado aps ser preso em Natal. Na chegada ento capital federal, com ajuda de marinheiros comunistas, conseguiu ludibriar a polcia e fugiu. Depois seria enviado pelo Partido a So Paulo para participar de um curso com durao de seis meses. Terminado o curso, recebeu orientao de retornar ao Rio de Janeiro para reunir-se com Lauro Reginaldo, o Bangu, e Antnio Maciel Bonfim, o “Miranda”, dirigentes do PCB. Soube que o Levante estava em preparao no Rio Grande do Norte. Fosse correndo pegar o navio para Natal. Partiu em 6 de janeiro de 1935 e desembarcou oito dias depois.
Interesses do povo
A forma como o Levante foi deflagrado permitiu a resistncia mais prolongada em relao aos demais pontos da insurreio. Os nimos estavam to calmos em Natal naquele dia que o governador Rafael Fernandes participava de um evento no Teatro Carlos Gomes quanto tomou conhecimento da rebelio e refugiou-se na residncia do cnsul italiano, Guilherme Letire, prxima de onde estava.
O novo governo foi anunciado no primeiro decreto do Comit Revolucionrio, “aclamado demoradamente em praa pblica” s dez horas de 25 de novembro. Determinou a demisso do governador, por no ser encontrado em parte alguma, e destituiu a Assembleia Constituinte “por no consultar mais aos interesses do povo”.

O o seguinte seria a formao da junta governativa, segundo Praxedes presidida por Santa. Com ele, compam o governo revolucionrio Lauro Cortez Lago, ex-diretor da Casa de Deteno, secretrio de Interior e Justia; Jos Macedo, funcionrio dos Correios e Telgrafos, secretrio de Finanas; Quintino Clementino de Barros, secretrio de Defesa; Jos Praxedes de Andrade, secretrio de Abastecimento; e Joo Baptista Galvo, poeta, advogado, secretrio do Colgio Estadual do Atheneu, secretrio de Viao.
A proclamao oficial do novo governo foi lida por Praxedes na Praa do Mercado, em frente ao 21 Batalho de Caadores.
Ao povo
O Rio Grande do Norte, desafrontado dos dias amargos em que viveu tiranizado por um governante forjado na prostituio dos princpios republicanos de outrora, hasteia-se soberbo, como flmula redentora no setentrio brasileiro, abrindo caminho largo no solo abenoado da Ptria entrada triunfal do Cavaleiro da Esperana – Luiz Carlos Prestes.
Ao seu lado, erguem-se, at agora, como mais duas esplndidas victrias j conquistadas com sangue, como dois gigantes invencveis – Pernambuco e Parayba. Po, Terra e Liberdade o nosso lema. a victria do socialismo sobre a decantada Liberal-Democracia dos polticos profissionais; a victria da Aliana Nacional Libertadora; a victria de Carlos Prestes; a victria do direito do mais fraco, que nunca ter direito! Direito ao que seu, usurpado pelo mais forte; direito ao Po com suficincia; direito s terras; direito liberdade.

E com este postulado, com estas trez palavras escritas com fogo na grandeza do nosso idealismo – Po, Terra e Liberdade, com essa bravura comprovada no antemanh esplendente de hoje, marcharemos confiantes para o abrao fraternal dos irmos do Sul. Nas nossas pegadas, seguindo o nosso o e o nosso exemplo, viro a legendria Amaznia, o valente Gro-Par, o Maranho da inteligncia, o Piauhy heroico, o Cear escaldante de sol e de idealismo.

Soldados, cabos e sargentos do 21 BC, que fostes valentes com as vossas prprias armas no incio edificante da derrubada de um regime que apodreceu de todo, o Rio Grande do Norte tudo espera de vossa bravura.

Mulheres operrias, trabalhadores, gente simples e boa que experimentastes, hontem e hoje, a vossa resistncia na barricada, continua como indmitas sentinelas na defesa santa das reivindicaes nacionais.

Povo! Conquistastes com sangue um direito; Rio Grande do Norte, sois o marco iniciante, a f, o orgulho de uma gerao redimida.

A Aliana Nacional Libertadora assegura garantias plenas a todos os cidados, sem distino de credo poltico ou religioso, recebendo de braos abertos a todo aquele que deseje de boa f cooperar na grande obra reconstrutiva que se alicera.
Natal, 24 de novembro de 1935
Por meio de boletins, a populao tomava conhecimento da existncia do novo governo. “Acham-se no interior do estado foras do 21 Batalho de Caadores, mantendo a ordem. Viva o general Luiz Carlos Prestes, chefe da nao”, dizia um deles. UmComunicado do Comit Revolucionrioalertou que “alguns elementos terroristas, a servio dos inimigos do povo, andam espalhando pela cidade boatos alarmantes no intento de atemorizarem as famlias, e nos incompatibilizar com o povo”.
Diante do fato, prosseguiu oComunicado, algumas medidas estavam sendo tomadas, como punio “com o mximo rigor” a todos que fossem pegos espalhando boatos. Atos “atentatrios moral e ao decoro pblico” tambm seriam severamente punidos. “Ser preso todo e qualquer indivduo que transite pelas ruas em visvel estado de embriaguez”, alertou.

Os comerciantes foram igualmente advertidos para que normalizassem suas atividades, “a fim de que o povo no sofra mais tempo a falta de gneros de primeira necessidade”. Sob o ttuloAos senhores comerciantese assinado por Jos Praxedes, o panfleto dizia que o Comit esperava ser atendido “neste apelo, mesmo porque, de outro modo, ns nos sentiramos impotentes para conter o povo nos assaltos que porventura tenha necessidade de fazer ao comrcio para munir-se do necessrio sua vida”.
O “apelo” vinha acompanhado de garantias de livre funcionamento de todo o comrcio, caso fosse atendido, e de diminuio de impostos “de comum acordo com os senhores comerciantes, que oportunamente convidaremos para nos dar sugestes sobre o assunto”.

Em 26 de novembro, outroBoletim informativo, intituladoA marcha da revoluo libertadora, dizia que cumpria “o grato dever de, com alegria verdadeiramente revolucionria, comunicar ao povo deste estado a marcha ascensiva da revoluo”. Podiam fazer aquele comunicado porque estavam de posse do telgrafo e dos rdios, controlando todas as informaes que chegavam. “Ns sabamos que o Brasil era um imenso ‘barril de plvora’ e que bastaria uma centelha para que ele explodisse; ns fomos essa centelha”, prosseguia.

Sem vaidade e sem orgulho, que os rio-grandenses do Norte no tinham, informava oBoletim, podiam dizer ao Brasil, extasiados, que foram eles “a primeira pedra desse grande edifcio que vai ser o governo popular”. “Ao eco da nossa metralha j responderam os companheiros da Paraba do Norte, Pernambuco, Alagoas, Esprito Santo”, exaltava. Rio de Janeiro e Maranho j estavam “nas mos dos nacionais libertadores”.

So Paulo estaria insurrecionado, “com o povo em armas e o proletariado em greve revolucionria, tudo indicando que o governo no se sustentar por muitas horas”. Mais para o Sul, “o proletariado se atira a greves combativas, aclamando o nome de Luiz Carlos Prestes”. “A gloriosa Marinha brasileira tambm j virou seus canhes contra a tirania, estando revoltada na Bahia e Guanabara e bem assim no Par. Santa Catarina levantou-se h poucos minutos, sob o comando do valente companheiro Herculino Cascardo (o ex-interventor que presidia a ANL)”, concluiu.
A participao das mulheres no Levante foi marcante. Em panfleto com o ttuloConvite, o diretrio da Unio Feminina do Brasil, com “seo no Rio Grande do Norte”, convidou as excelentssimas famlias “a tomarem parte na Unio Feminina, a nica que luta por Po, Terra e Liberdade”, o lema da insurreio. Como todos os boletins, oConviteterminou com proclamaes de “viva” a Luiz Carlos Prestes, Aliana Nacional Libertadora, ao 21 Batalho de Caadores “e ao povo em armas” – alm, claro, Unio Feminina.

Leonila Felix – segundo Graciliano Ramos, na obraMemrias do crcere, uma mulher branca, nova, bonita –, esposa de Epifnio Guilhermino, motorista de txi responsvel por reunir carros e caminhes para os revoltosos, participou do Levante fardada e portando arma. Outra participante ativa, Amlia Gomes, a filha do professor Raimundo Reginaldo, tambm fardada, assumiu a importante funo de coordenadora da correspondncia com as demais cidades insurretas – Rio de Janeiro e Recife –, falando em nome do Comit Revolucionrio, que havia se instalado na Vila Cincinato, sede do governo.
De acordo com a denncia do procurador criminal da Repblica no Rio Grande do Norte, Carlos Gomes de Freitas, Amlia e outras mulheres invadiram o 21 Batalho de Caadores fardadas e portando armas pesadas. Como secretria do Comit Popular Revolucionrio, contribuiu na edio do jornalA Liberdade, o rgo oficial do Levante. Foi a nica condenada, das mulheres que participaram do Levante, e recebeu pena de cinco anos de recluso. Sua priso foi decretada em 4 de setembro de 1936.

Jornal catlico
Os boletins foram impressos nas oficinas do jornalA Ordem, pertencente Unio dos moos catlicos – tomado pelos revolucionrios –, que se dizia “propriedade” de um tal “centro de imprensa”. ou a se chamarA Liberdade, sob a direo do professor Raimundo Reginaldo e participao dos redatores da Imprensa Oficial Othoniel Menezes e Gasto Corra da Costa, alm de Horcio Valladares, o jornalista enviado pelo Comit Central do PCB. Mas teve s uma edio, de trs mil exemplares, que circulou em 27 de novembro como “rgo oficial do governo popular revolucionrio”.Sob a aleluia nacional da liberdadeeDelenda fascismo!eram as manchetes principais.

Trouxe comunicados e informes. Um deles, com o ttuloProclamao do Comit Revolucionrio do Rio Grande do Norte sobre o direito reunio e associao, dizia:
Ao proletariado e ao povo revolucionrio.
Nascidos da revoluo, apoiados na massa trabalhadora e nossos irmos fardados, os soldados, fugiramos ao cumprimento de nossa palavra empenhada nos comcios, manifestaes e em todo o material de propaganda dos nossos ideais se no concretizssemos na prtica aquilo que teoricamente oferecamos.
Neste sentido, queremos dar ao proletariado e ao povo revolucionrio aquilo a que tm direito, direito este conquistado custa de ingentes sacrifcios, arriscando a prpria vida, pela conquista da liberdade.
A liberdade a vida, sem aquela esta nada vale e por isso que ns jogamos esta nas ruas para conquistar aquela… ou a morte.
Pensando assim, resolvemos dar amplo direito de reunio e manifestao do pensamento falado ou escrito a todas as organizaes estritamente trabalhistas e s organizaes de massa verdadeiras e reconhecidamente revolucionrias.
Assim, convidamos os trabalhadores em geral para que se renam livremente nas suas organizaes de classe ou nas praas pblicas se mais lhes convier, enviando a este Comit todas as suas reclamaes para que sejam atendidas de conformidade com seus desejos e na medida que por eles forem defendidas.

A todas as organizaes verdadeiramente revolucionrias ser tambm garantido o livre funcionamento e o inconteste direito de sugerir medidas acauteladoras dos interesses do povo e do Estado.
Esta liberdade se estende a todos os cultos e religies que podem livremente funcionar desde que seus chefes ou representantes no se sirvam delas para fazer campanha derrotista contra esse movimento que do povo e para o povo.
O formato imitava o jornalA Repblica, rgo oficial do governo deposto.
Dizia o cabealho:

Enfim, pelo esforo invencvel dos oprimidos de ontem, pela colaborao decidida e unnime do povo, legitimamente representado por soldados, marinheiros, operrios e camponeses, inaugura-se no Brasil a era da liberdade, sonhada por tantos mrtires, centralizada e corporificada na figura legendria onipresente no amor e na confiana divinatria dos humildes – de Luiz Carlos Prestes, o “Cavaleiro da Esperana”.
A tomada do jornal foi uma ao ousada.A Ordem, ligada fascista Ao Integralista Brasileira, liderada nacionalmente por Plnio Salgado, pregava sistematicamente contra o “comunismo”.

Quando os donos retomaram o jornal, disseram que “os comunistas tiveram a ousadia de transformar essa folha em rgo da Aliana Nacional Libertadora, pretendendo humilhar a populao catlica do estado, que viu seu jornal transformado, de momento para outro, em centro de irradiao vermelha”. “Aqueles tipos e aquelas mquinas, sempre por ns utilizados em defesa de Jesus Cristo e de sua Igreja”, aram a ser cinicamente empregados “pelos agentes de Moscou”, para divulgar ideias “comunistas”, “contra as quais tivemos assestados as nossas baterias”, protestou.

Os “invasores”, diz a matria, queimaram a edio de domingo, quando consolidaram a tomada do poder, que trazia “o Evangelho de So Matheus (24,15-35) referente aos ‘falsos profetas que faro prodgios e coisas espantosas, a ponto de seduzir os prprios escolhidos”. “Falsos profetas, sim, porque vm anunciando um paraso irreal, na terra, para os operrios e pequenos”. A apostasia se agravou com a atitude dos revolucionrios, nos primeiros instantes do domingo, “distribuindo com os proletrios custosas iguarias, vinhos caros, cdulas e moedas de valor”.

SegundoA ordem, a ocupao ocorreu s cinco horas da madrugada de 24 de novembro, quando operrios da oficina foram conduzidos ao 21 Batalho de Caadores, juntamente com o chefe do servio de reviso. “Mudados os dsticos e emblemas das nossas placas para ‘Tipografia da Aliana Nacional Libertadora’ com a ‘foice e o martelo’ do comunismo, os rebeldes fizeram funcionar as nossas mquinas, publicando centenas de milhares de boletins extremistas.”
Assim que retomaram o jornal, os antigos donos distriburam um boletim anunciando que oA Ordemfora ocupado por “um grupo armado a fuzil”. “Podemos antecipar a nossa condenao ao golpe dos extremistas, sem esquecer que o fenmeno comunista uma resultante de erros que diariamente combatemos, dos quais participam tambm os defensores das chamadas ‘liberdades modernas’. O erro geral e s se salvar quem ouvir a palavra sempre nova e eterna da Igreja de Jesus Cristo”, pregou.
Segundo o boletim, para comemorar a retomada at o governador Rafael Fernandes esteve no jornal, assim como o monsenhor Joo da Matha Paiva, presidente da Assembleia Constituinte, que fora vigrio-geral da Diocese de Natal.

Vapor Santos
Aps o fim do Levante, circularam nos jornais do Rio de Janeiro informaes de que o vapor Santos, do Lloyd Brasileiro, fundeado no porto de Natal, teria sido ocupado pelas foras rebeldes. O almirante Graa Aranha, diretor do Lloyd no Ministrio da Marinha, emitiu ordens por rdio para que os cruzadoresBahiaeRio Grande do Sulsassem caa do navio. Avies da Fora Area da regio tambm receberam ordens para vasculhar a costa em busca doSantos.
A informao fora ada por Getlio Vargas, por telegrama, revelado pelo governador paulista, Armando de Sales Oliveira, para anunciar o fim do Levante. “Os revoltosos do Rio Grande do Norte abandonaram a capital do estado, onde a ordem foi restabelecida. Diante da impossibilidade de oferecer resistncia s foras que se aproximavam, embarcaram no vapor ‘Santos’, em nmero de quinhentos, mais ou menos, seguindo rumo ignorado”, dizia o texto.
Na madrugada de 28 de novembro, uma comunicao emitida pelo diretor regional dos Telgrafos em Recife dizia: “O major Flvio, chefe do Estado-Maior da regio, acaba de informar-me que o vapor ‘Santos’ continua ancorado no porto de Natal, disposio da regio. Assim, quem tiver famlia a bordo tranquilize-se”. Alguns revolucionrios que conseguiram fugir, na verdade, usaram recursos bem mais simples, como fizeram o professor Reginaldo e sua filha Amlia.

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