Insurreio Comunista de 1935 em Natal e Rio Grande do Norte 5n5w1g

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O Tempo e Eu
Luis da Cmara Cascudo

Na noite de 23 de novembro de 1935 irrompeu um movimento comunista em Natal. Todas as autoridades estavam no teatro Carlos Gomes assistindo uma festa escolar de premiao. O governador Rafael Fernandes e os mons. Joo da Mata era os mais procurados pelas patrulhas vermelhas, enchendo a cidade com o estridor das descargas e a confuso dos gritos alarmadores. As pessoas mais influentes conseguiram refugiarem-se nas moradas da av. Sachet, inclusive mons. Mata que encontrara guarida em prdio prximo. Durante o resto da noite, aproveitando o tumulto e o tiroteio incessante, o cnsul do Chile, Carlos Lamas, pregou na fachada de sua residncia um cartaz anunciando Consulado do Chile, apregoando o direito de exterritorialidade respeitado pelos chefes comunistas. Convenceram ao mons. Mata que deveria mudar de roupa e transferir-se para o Consulado, duas casas alm. Depois de alguma hesitao, mons. Mata vestiu o traje civil, deixando o hbito talar na cama, depois de beij-lo respeitosamente. Ao sair, da porta, teve uma exclamao de revolta e protesto: - Eu estou abandonando Nosso Senhor ! Estou traindo o meu Deus ! Sou seu ministro ! Devo morrer por ele!

Desvestiu-se. Calou as meias roxas, envergando a batina negra de orla e botes lilazes, meteu na cabea o chapu eclesistico, e, de o firme, decidido, impvido, atravessou o corredor e saiu rua, disposto ao sacrifcio. Felizmente a Sachet estava quase deserta. Ningum notou a agem lenta daquele padre, vice-governador do Estado, que calmamente alcanou a casa de Carlos Lamas e a permaneceu at a manh de 27, quando os comunistas dispersaram-se ante a aproximao das foras militares, vindas da Paraba.

No negara a Jesus Cristo em hora suprema e cruel. Essa atitude define o Homem e consagra o Sacerdote.

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