Insurreio
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte 5n5w1g
JOHNNY: A VIDA DO ESPIO QUE DELATOU A REBELIO COMUNISTA DE 1935
Sessenta e nove identidades. Heri para alguns, vilo para outros. A vida de Johnny de Graaf, agente fingindo trabalhar para o servio secreto sovitico enquanto colaborava com os britnicos do MI6, prova como a realidade muito mais interessante que a fico.
E muito mais intrincada. Longe do glamour e maniquesmo perpetrado por Hollywood e os Bond movies, Graaf era um personagem complexo.
Evitava os judeus, podia ser vingativo e provavelmente assassinou uma de suas mulheres. Tambm era teimoso e, muita vezes, inflexvel.
Mas o que fez pelo governo de Sua Majestade, e mais tarde pelos Aliados, supera as falhas e justifica contar sua histria.
Em JOHNNY: A VIDA DO ESPIO QUE DELATOU A REBELIO COMUNISTA DE 1935, sua trajetria ganha vida a partir de suas prprias palavras e reflete suas opinies e preconceitos. E as muitas aventuras e reviravoltas: assassinato, traio, intriga e violncia nunca estiveram longe de sua porta.
Apesar de em 1919 ter-se associado ao Spartacus Bund, do qual se originou o Partido Comunista Alemo, mais tarde se tornou um firme anticomunista e teve um papel chave no abalo dos esforos dos comunistas no Brasil para derrubar o governo de Getlio Vargas, em 1935.
Depois de se aposentar do MI6, ofereceu seus servios ao FBI de J. Edgar Hoover, em 1950. R. S. Rose iniciou a investigao sobre Johnny depois de se tornar o primeiro acadmico a ter permisso para examinar demoradamente os arquivos da policia poltica brasileira. Tambm procurou e entrevistou demoradamente os parentes de Johnny que restavam na Alemanha, bem como no Brasil.
Com base em documentos de vrios arquivos governamentais, assim como em muitas entrevistas — das quais as mais importantes foram uma srie que Gordon Scott fez com Johnny em 1975 e 1976 —, esta a histria da vida de um espio e sua exuberante carreira, uma eletrizante narrativa de espionagem e contraespionagem durante um perodo decisivo da histria poltica do sculo XX.
PorANGELA MENDES DE ALMEIDA*
Uma histria costurada com inverdades, mas que, muito tempo depois, acabaram por sair luz do dia
A tentativa insurrecional comunista de novembro de 1935 foi selada pela tragdia da represso policial do governo de Getlio Vargas. Represso que ceifou vidas e mutilou corpos, atravs da barbrie do Chefe da Polcia do Distrito Federal, Filinto Mller, e da pusilanimidade de Getlio Vargas, entregando Olga Benrio e Elise Ewert Gestapo,o que significou conden-las morte. Porm, enquanto a tragdia se desenrolava no Brasil, principalmente durante 1936, as intrigas do aparelho stalinista continuavam acontecendo. Em dezembro de 1935, o dirigente sovitico Krov foi assassinado em Leningrado, o que foi o sinal para iniciar o que se convencionou chamar de “Grande Terror”, com os processos de Moscou e a represso massiva daIejovschina.
Quanto tentativa de insurreio, seria intil repetir aqui o seu carter quimrico, expresso at mesmo nos ttulos dos livros que trataram especificamente desse acontecimento.[i]Iluso, sonho… Polmicas desnecessrias tm sido travadas em torno da questo de saber se esse movimento emergiu das lutas sociais especficas no Brasil, ou se aconteceu sob os ditames da Internacional Comunista que viabilizava a voz de Moscou.
Se o cenrio da insurreio de 1935 foi, ainda, o de uma rebelio tenentista, movimento que havia agitado o pas durante a dcada de 1920, os planos estratgicos para depois da insurreio vitoriosa tinham tudo a ver com a Internacional, inclusive em sua linha “frentista”. Esta ficou materializada na proposta de um “Governo Popular Nacional Revolucionrio”,[ii]da Aliana Nacional Libertadora, organizao criada em 23 de maro de 1935 por tenentistas e comunistas, que conseguiu grande adeso popular, mas que, ao ser suspensa, em julho, pelo governo Vargas, volatilizou-se.
A interveno da Internacional Comunista, pelo envio de quadros e fundos, bem como pelo acompanhamento detalhado do trabalho deles j est bem documentada. A questo saber como se deu o entrosamento entre uma estratgia predeterminada sob a forma de uma imposio doutrinria e a aplicao dessa estratgia face s circunstncias reais. Em relao forma das intervenes da Internacional Comunista, ao seu carter de ordem a ser cumprida quaisquer que fossem as circunstncias, a experincia da revoluo chinesa, durante os acontecimentos do fim da dcada de 1920, tm muito a mostrar.
Em 1927, a ordem de Stlin era sublevar Canto (Guangzhou), mesmo que no houvesse condies de vitria. A insurreio durou dois dias no ms de dezembro e cobriu de sangue a cidade, a represso contra os milhares de sublevados foi de uma violncia inaudita, todos os presos com vida foram executados pelas formas mais brutais.[iii]Essa dramtica experincia viria a ser lembrada pelos enviados ao Brasil.
Para colaborar na empreitada brasileira, que tinha como chefe Luiz Carlos Prestes, j mtico no Brasil, a Internacional Comunista enviou vrios militantes de peso, alguns das suas estruturas, outros ligados aos diversos servios secretos soviticos na qualidade de agentes. O mais importante deles era o alemo Arthur Ernst Ewert (“Negro”), que viajou para o Brasil usando um aporte americano falso, que j havia usado na China, em nome de Harry Berger. Veio com sua esposa, a alem Elisabeth Saborovski Ewert, conhecida como Sabo, que viajava com documentao americana falsa em nome de Machla Lenczycki.[iv]
Eles haviam ado os anos da Primeira Guerra Mundial no Canad, onde se tornaram fluentes em ingls. Voltaram para a Alemanha, e em 1920 Arthur Ernst Ewert aderiu ao KPD (Partido Comunista Alemo). Em 1925, foi eleito para o Comit Central.[v]Antes disso tinha sido da tendncia de esquerda liderada por Ruth Fischer e Arkdi Maslow, mas se afastou dela, juntamente com outros militantes como o austraco Gerhard Eisler, irmo de Ruth Fischer, e Heinz Neumann. Os trs confluram para a chamada tendncia dos “conciliadores”.[vi]
Em 1928, na 9 Plenria da Internacional Comunista, os dirigentes internacionais tomaram posio clara contra os “conciliadores” do Comit Central do KPD e eles foram excludos. Em seguida, fizeram a autocrtica protocolar e foram reintegrados. Mas no desistiram de se contrapor linha que considerava a social-democracia como o pior inimigo, dando pouco importncia luta contra o nazismo. Para isso, tentaram utilizar o “caso Wittorf”, a descoberta de um ato de corrupo de um cunhado do dirigente Thlmann, lder do Comit Central do KPD. No entanto Stlin interveio diretamente em favor deste e o caso de corrupo foi abafado. Em 1928, Ewert foi eleito deputado doReichstag, o Parlamento alemo, pelo KPD e atuou at 1930. No fim de 1928, ele foi tambm indicado como representante do KPD no Comit Executivo da Internacional Comunista.[vii]
Jan Valtin descreve seus vrios encontros com Arthur Ernst Ewert, um dos poucos comunistas a quem se refere com respeito e mesmo carinho. Primeiro o encontrou como professor na Escola Internacional Lnin, em Moscou, durante o inverno entre 1925 e 1926, querido pelos estudantes por sua “infatigvel serenidade”. Depois, em 1929, cruzou com ele em Paris. Ewert pediu que se encontrassem em particular e se abriu com ele. Disse que estava lhe falando porque ele era jovem e tinha a chance de poder voltar Alemanha.
Arthur Ernst Ewert estava em conflito com a linha aplicada no seu pas, que considerava que o maior inimigo era o “social-fascismo”. Ao contrrio, ele defendia que o maior inimigo era o nazismo e propunha uma frente com os sociais-democratas. Disse que estava sendo obrigado a fazer uma autocrtica, publicada depois na revistaInprekorr, da IC, em fevereiro de 1930. Confidenciou ainda que a direo internacional o estava isolando, enviando-o para a Amrica do Sul, sobre a qual no sabia nada. Como militante ento disciplinado, Valtin defendeu o partido alemo e a Internacional.
Logo em seguida, seu contato na Frana, Roger Walter Ginsburg, na verdade Pierre Villon,[viii]exigiu que ele relatasse em detalhes tudo o que Ewert tinha lhe dito. Em seguida, obrigou-o a ficar na casa onde estava alojado, sem possibilidade de transmitir a Ewert o que tinha revelado. Apesar de ter delatado a conversa, seu contedo ficou profundamente marcado em sua conscincia. Jan Valtin tambm foi enviado Amrica do Sul, em 1930, para levar encomendas para o Bur Sul-Americano em Montevidu e envelopes com dinheiro para Chile, Argentina e Uruguai, entregues aos mensageiros de Arthur Ewert.[ix]
Este tinha sido o responsvel, juntamente com o leto Abraham Ikovlevitch Guralski (“Rstico”), por ganhar Lus Carlos Prestes para o comunismo durante essa temporada em Buenos Aires e Montevidu. Em 1932, Ewert foi enviado China para ser o representante da Internacional Comunista no Partido Comunista Chins. Viajou com sua esposa Elise e ficaram nesse pas at 1934, voltando ento Unio Sovitica, de onde partiram para o Brasil.[x]
O segundo militante de peso era o argentino Rodolfo Ghioldi (“ndio”, “Altobello”), dirigente do Partido Comunista Argentino. Tinha sido do Bur Sul-Americano juntamente com Arthur Ernst Ewert. Veio com um aporte em nome de Luciano Busteros. Com ele veio sua esposa, Carmen de Alfaya Ghioldi, que ao contrrio das regras mnimas de conspirao, viajou com seu aporte pessoal onde constava o nome de Ghioldi.[xi]Veio tambm o casal de soviticos Pvel Vladimirovitch Stuchevski e sua esposa Sofia Semionova Stuchevskaia, que usava os aportes belgas falsos em nome de Lon-Jules e Alphonsine Valle, nomes pelos quais ficaram conhecidos na histria da insurreio de 1935 at a imploso da URSS, em 1991.
Pvel Stuchevski, de famlia judia, tinha nascido na Ucrnia e estudado em Genebra antes da Primeira Guerra Mundial, onde adquiriu um francs to perfeito que nem a polcia sa o reconhecia. Teve atuao em vrios pases como diplomata, porm pertencendo primeiro ao INO (Departamento de Inteligncia no Estrangeiro), do GPU,[xii]depois ao Quarto Departamento do Exrcito Vermelho (Inteligncia Militar), sendo enviado mais tarde como agente ilegal para a Frana, onde foi preso em 1931 e condenado a trs anos. Cumprida a sentena, foi deportado para a Unio Sovitica, integrado OMS (Seo de Ligaes Internacionais) da IC e enviado ao Brasil, com as funes de comunicaes, finanas e controle da rede sul-americana.[xiii]
Sua esposa, Sofia Semionova, tambm nascida na Ucrnia de famlia judia, estava empregada no Quarto Departamento. Tinham se conhecido durante a guerra civil russa, quando Pvel Stuchevski foi ferido e levado para um hospital, em Kharkov. Por ocasio da deportao de Pavel Stuchevski para a URSS, Sofia ficou mais um tempo, o suficiente para colocar seu filho, Eugne, em uma escola interna em Genebra. Alm desses, a Internacional enviou tambm um tcnico em radiocomunicaes formado em Moscou, o americano Victor Allen Barron, que veio com o nome James Martin e usou no Brasil o nome de guerra de “Raymond”.
Tinha a misso de montar um rdio emissor-receptor, que conseguiu completar pouco antes da insurreio e da represso que se seguiu. Enviaram, ainda, um especialista em explosivos e sabotagem, o alemo Johann de Graaf, chamado de “Jonny”, que usava o aporte austraco falso em nome de Franz Paul Gruber, simulando ser um industrial. Com ele veio a jovem alem Helena Kruger, sua companheira, que no era militante, qual foi dado um aporte falso em nome de Erna Gruber. Ficou conhecida no Brasil como “Lena”.[xiv]
Enviaram tambm como “instrutor militar” o militante italiano Amleto Locatelli, “Bruno”, indicado e defendido por Palmiro Togliatti face s crticas do partido italiano, de que ele “no era slido” o suficiente, eufemismo para designar a homossexualidade.[xv]Outros militantes enviados da Argentina participaram ocasionalmente, como o argentino-polons Marcos Youbmann, conhecido como “Arias” e entre os brasileiros como “Ramn”. Tinha a funo de mensageiro e teve um final dramtico.[xvi]
Por fim, como guarda-costas de Luiz Carlos Prestes, veio aquela que se tornaria depois sua esposa, a judia alem Olga Gutmann Benario. Era agente do Quarto Departamento do Exrcito Vermelho e j tinha feito uma ao corajosa e importante na libertao do dirigente Otto Braun, seu namorado na poca, da priso de Moabit, em Berlim, em 1928. Ela entrou no Brasil com um aporte portugus verdadeiro, combinando com o de Prestes, simulando ser sua esposa. Ele com o nome de Antnio Vilar e ela com o nome de Maria Bergner Vilar, aportes conseguidos no consulado portugus de Rouen, cidade do norte francs, graas generosidade do cnsul.[xvii]
A insurreio de 1935 foi um acontecimento de curtssima durao, centrado na efervescncia de militares, sobretudo os de baixa patente. Porm teve efeitos duradouros. Comeou espontaneamente, sem nenhuma consigna da direo do PCB, que havia escrito a Moscou, atravs de um telegrama enviado por Prestes e Ewert, que pensavam ar a “aes decisivas” somente entre dezembro e janeiro do ano seguinte. Alm disso, o partido havia recomendado que nada fosse empreendido sem uma ordem expressa sua.[xviii]Foi em Natal, capital do Rio Grande do Norte, em um clima j agitado por disputas eleitorais, que os militares do 21 Batalho de Caadores se rebelaram primeiro, no dia 23 de novembro, um sbado.
Em poucas horas, conseguiram tomar o quartel e rumaram para a cidade da qual ficaram senhores, com amplo apoio de populao. Houve comcios, agitao, saques em lojas, arrombamento de bancos. Criaram um Comit Popular Revolucionrio e constituram duas colunas enviadas em direes distintas ao interior do estado. Mas, apesar desse sucesso inicial, a rebelio ficou isolada pela chegada de diversas tropas de outros estados. Os combates duraram at o dia 27 de novembro.[xix]
O poder popular durou cerca de quatro dias. A notcia da rebelio em Natal chegou a Recife no mesmo dia, noite, e no dia seguinte, 24 de novembro, um domingo, rebelaram-se os militares da Vila Militar de Socorro, do 29 Batalho de Caadores. No houve apoio popular apesar de terem sido distribudas armas. Mas enquanto em Natal a rebelio foi espontnea, no Recife foi bastante influenciada pelo Secretariado do Nordeste do PCB.[xx]Apesar da pouca adeso, houve luta at quarta-feira, dia 27. Considerando o estado atrasado e precrio das comunicaes, as notcias das rebelies no Nordeste s chegaram ao Rio de Janeiro nesse domingo, dia 24, e os dirigentes brasileiros e internacionais s tomaram conhecimento delas pelos jornais, como todo mundo.
A cpula, isto , a direo do PCB (Partido Comunista do Brasil) representada, no caso, por “Miranda” (Antnio Maciel Bonfim), secretrio-geral, e Prestes, juntamente com os dirigentes internacionais Arthur Ewert e Rodolfo Ghioldi, alm da presena incidental de Locatelli, reuniu-se na noite do dia seguinte, 25, segunda-feira, e decidiu, em apoio e solidariedade ao Nordeste, preparar em pouco mais de um dia uma insurreio no Rio de Janeiro, fixada para ter incio no dia 27, s primeiras horas da madrugada.[xxi]
Os centros da rebelio previstos no Rio eram o 3 Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, e a Escola de Aviao Militar, no Campo dos Afonsos, na zona oeste, onde a rebelio nem comeou. Na Praia Vermelha os rebeldes, comandados pelo tenente Agildo Barata, tomaram o quartel, mas este rapidamente foi cercado por diversas tropas mobilizadas pelo general Eurico Gaspar Dutra, feroz anticomunista, que atacaram, causando vrias mortes. A situao ficou pior entre as onze horas e o meio-dia, quando chegaram os avies do Campo dos Afonsos, metralhando, e o quartel foi arrasado. Os rebeldes tiveram que se render.
A tentativa durou cerca de 13 horas. Alm dos mortos em combate, milhares de pessoas foram presas: comunistas, tenentistas, parentes e vizinhos de presos. As prises ficaram cheias e foi preciso utilizar o navio “Pedro I”, ancorado na Baa da Guanabara, para receber mais gente.[xxii]Apenas no Rio de Janeiro foram presos imediatamente e nos meses seguintes mais de trs mil pessoas, boa parte delas militares.[xxiii]No Rio Grande do Norte, foram indiciados em processos cerca de mil e duzentas pessoas, enquanto em Pernambuco, 415. No Rio de Janeiro, foram indiciadas 839 pessoas, bem menos que o nmero de presos, pois muitos ficaram detidos “por mais de um ano sem culpa formada”. Cerca de uma centena de militantes que participaram do levante foram “fuzilados ao se render, assassinados na polcia ou enterrados sem nome”.[xxiv]
Nos dias seguintes rebelio sufocada, a cpula do partido e os militantes internacionais no tinham sido atingidos. E, apesar do susto da derrota e sobretudo do perigo que corriam, no houve uma conscincia clara da natureza do que tinha acontecido. Ressurgiu o mesmo nimo e a inteno de continuar aplicando a mesma linha. Prestes teria explicado, em entrevista bem posterior, historiadora Marly Vianna, que eles “achavam que mais adiante a coisa poderia tomar outro vulto”. Nos nmeros posteriores ao levante do jornal do partido, AClasse Operria, insistiam que a revoluo apenas comeara, a derrota “continha grandes premissas da prxima vitria”.[xxv]
oferta de um simpatizante de retir-lo do Brasil, Prestes respondeu que no podia, pois “esperava um novo levante da ANL”.[xxvi]O primeiro militante a conseguir chegar em Moscou, o arguto observador Amleto Locatelli disse, em sua narrativa, que ouvira Prestes comentar que no aceitava a proposta de Ghioldi de sair do Brasil, porque “dentro de um ms, a situao j podia ser outra e dentro de um ms j se teria surpresas”. Segundo essa mesma narrativa, Ewert “confessou-se surpreso tambm com a ‘falta de reao’ ao levante” por parte do governo.[xxvii]Talvez pensasse na brutal represso contra os sublevados em Canto, em 1927, imediatamente mortos com requintes de crueldade.
Depois da derrota da rebelio, dia 27 de novembro, Ewert e Sabo, bem como Prestes e Olga continuaram nas mesmas casas situadas no bairro de Ipanema, os primeiros na rua Paul Redfern, o casal Prestes na rua Baro da Torre, a poucas quadras uma da outra. Continuavam se visitando, como antes o faziam perigosamente, continuaram com as respectivas empregadas, amigas entre si. Os Ghioldi, bem como Barron, moravam na vizinha Copacabana e os Stuchevski pelas redondezas. S Pavel Stuchevski tomou a providncia, depois do dia da derrota, de alterar os endereos telegrficos e de correspondncia, mandando tambm Barron avisar Moscou e desligar o rdio.
Prestes e Ewert mantiveram nas suas residncias copioso material composto de documentos, declaraes, jornais comunistas, etc., o primeiro talvez acreditando que o dispositivo para a exploso do armrio onde estavam funcionasse, como prometido por Gruber, porm repetindo depois o erro quando se transladou para o bairro do Meier.[xxviii]Parecia como se andassem em um delrio tropical, entorpecidos pelo calor, caminhando beira do precipcio, em um Rio de Janeiro maravilhoso nos anos 1930.
Esse entorpecimento foi brutalmente interrompido com a priso de Ewert (Harry Berger) e sua esposa Sabo, no dia 26 de dezembro. Em pouco tempo, o saldo destas imprevidncias seria um militante internacionalista do calibre de Arthur Ewert, torturado at perder a razo. Filinto Mller, chefe da polcia do Distrito Federal, utilizou um membro daGestapopara prender e torturar Ewert e sua esposa Sabo com choques eltricos, unhas arrancadas com alicate e uso de maarico para ferir e queimar a pele. Ela foi estuprada na frente dele diversas vezes. Nenhum dos dois entregou qualquer dado.
Outra vtima dos verdugos de Getlio e dessas imprevidncias foi Victor Allen Barron, torturado at a morte e “suicidado”, jogado do segundo andar do prdio da Polcia Central. Tinha 26 anos. O argentino “Arias”, Marcos Youbmann, simplesmente desapareceu, tendo sido publicado, semanas depois, em jornais de So Paulo, que ele tinha se “suicidado” quando se encontrava sob a guarda da polcia.[xxix]Em setembro de 1936, Olga Benario e Elisabeth Saborovski Ewert foram deportadas pelo governo Vargas para a Alemanha nazista.
Assim relata Margarete Buber-Neumann, uma dos militantes comunistas alemes presos na Unio Sovitica e entregues por Stlin a Hitler: “Foi no campo de Ravensbrck que chegou, em um certo dia de 1941, uma mulher alta, com cabelos castanhos e com grandes olhos azuis. Eu me lembrava de t-la encontrado em Moscou, no restaurante do “Lux”. Era Olga Prestes-Benario que, junto com Elisabeth Sabo, mulher de Arthur Ewert, tinha sido entregue Alemanha depois de sua priso no Rio de Janeiro. Elisabeth Sabo tinha morrido em 1940, em Ravensbrck, pouco antes de minha chegada ao campo. Olga foi vtima, em 1941, da primeira campanha de exterminao dos “indivduos racial e biologicamente inferiores”. Foi assassinada, juntamente com todas as judias que tinham sido internadas em Ravensbrck por razes raciais e polticas”.[xxx]
Na verdade, as execues por cmeras de gs se realizavam no hospital de Bernburg, embora as mortes fossem anunciadas como tendo acontecido em Ravensbrck, por uma causa mdica inventada. No caso de Olga, a razo alegada foi “insuficincia cardaca causada por ocluso intestinal e peritonite”. Quanto a Elisabeth Sabo, j estava tuberculosa quando chegou ao campo, em 1939, e pesava cerca de quarenta quilos. Apesar disso, foi colocada em uma turma de trabalho que carregava pedras pesadas. No inverno de 1939-1940, contraiu pneumonia e faleceu.[xxxi]
Por sua vez, Ewert havia sido to maltratado durante o seu tempo de priso que o famoso criminalista Herclito Sobral Pinto, advogado de Prestes, invocaria a Lei de Proteo aos Animais para defender para ele um tratamento digno. Ele denunciava que Ewert (Harry Berger) era mantido “debaixo de um socavo de uma escada, na Polcia Especial”. Estava h meses “sem instalaes sanitrias, sem cama, ar fresco ou luz do sol, sem roupa para troca ou espao para se mover, sem material de leitura ou de escrita”.[xxxii]Em 1936, quando Ewert se tornou um morto em vida, tinha 46 anos.
Ao final da guerra mundial, em 1945, todos os comunistas presos foram anistiados por Getlio, inclusive Prestes e Ewert. Este, no entanto, nunca mais recobrou a razo. Nos ltimos anos, estava internado no Manicmio Judicirio do Rio de Janeiro,[xxxiii]conhecido local para fabricar loucos. Depois da anistia concedida foi levado para a RDA (Repblica Democrtica Alem, ou seja, a Alemanha Oriental). L permaneceu at a sua morte, em 1959, internado por problemas mentais.
Alguns autores dizem que a priso de Ewert, no dia 26 de dezembro de 1935, o primeiro acontecimento que desencadeou uma trgica sucesso de outros, no est esclarecida. Ou ento atribuem essa priso de dois membros do PCB capturados um pouco antes. Isso apesar de insistentes indcios conhecidos desde a poca, de que o governo de Vargas tinha informaes gerais, fornecidas pelos servios secretos ingleses atravs de embaixadores, sobre uma ao doKominternno Brasil por aqueles dias. OBritish Intelligence Service citado at como tendo ajudado o DOPS, em dezembro de 1935, a estudar relatrios e interrogatrios.[xxxiv]
Esse desconhecimento permaneceu, mesmo depois que uma suspeita, sempre repetida por vrias fontes ao longo do tempo, veio a se confirmar. A suspeita voltava-se para um agente infiltrado nos servios secretos soviticos, chamado equivocadamente de “agente duplo”, quando na verdade era um agente ingls no seio do servio secreto sovitico. A confirmao veio com a publicao da biografia do prprio infiltrado, o suposto austraco Franz Paul Gruber, na verdade, o alemo Jonny de Graaf. claro que se Jonny era um agente ingls, quem, seno ele, teria fornecido o endereo exato de Ewert? Quem seno ele poderia dar tambm o endereo preciso de Victor Allen Barron, com quem se encontrava sempre? Afinal, estava ali para fazer isso. Sua priso e a de “Lena,” por uma noite, sua libertao com um pedido de desculpas e sua volta polcia para conseguir visto de sada, obtido facilmente, j falavam mais do que alto.[xxxv]
Voltando um pouco no tempo: depois da priso dos participantes no levante e dos militantes e simpatizante pblicos da ANL, o aparelho do partido e os internacionais ainda no tinham sido atingidos, quando, em meados de dezembro, foi preso “Bag” (Jos Francisco de Campos). Sabe-se que mencionou ter visto, em uma reunio, um estrangeiro que falava em ingls. No era informao que levasse a um endereo preciso. Depois foi preso um militante no identificado que tinha levado, juntamente com o membro da direo, “Martins” (Honrio de Freitas Guimares), as granadas no utilizadas no levante para o “arsenal” do partido, “uma casa de famlia no Graja”, onde moravam o militante espanhol, vindo de So Paulo, Francisco Romero, sua mulher e cinco crianas.
Na poca, havia ainda no local grande quantidade de dinamite, detonadores e armas. Era bvio que o aparelho tinha que ser desmontado. Conseguiram para isso um pequeno caminho que ficou estacionado a certa distncia, enquanto arrumavam a mudana. Era 24 de dezembro, vspera de Natal. Um militante no identificado, que ajudava na mudana, ao descer uma escada, foi atingido por uma exploso que o jogou longe, no jardim. A exploso feriu a esposa e duas crianas de Romero. Os vizinhos acorreram para ajudar, mas quando viram armas e munies em quantidade chamaram a polcia. O militante que foi jogado no jardim fugiu, quase sem roupa e chamuscado, mas conseguiu avisar o partido. Romero e a famlia foram presos.[xxxvi]
Que melhor especialista que Jonny de Graaf/ Franz Paul Gruber poderia preparar os explosivos de tal maneira que explodissem facilmente em hora indesejada? Mais de uma vez j tinha havido pequenos acidentes nos cursos de sabotagem que ele dava, queimando rosto e mos de um aluno e dele prprio, Romero perdera trs dedos.[xxxvii]E quem estaria mais capacitado para preparar para Prestes um armrio para guardar documentos que, se aberto por outra pessoa, explodiria, mas que no explodiu? Romero e a famlia foram muito torturados, porm, embora conhecessem Ewert, estavam longe de saber o seu endereo, pelo que se sabe.[xxxviii]Todas essas concluses lgicas partem do pressuposto de que o agente ingls estava l para isso, o seu trabalho era sabotar a insurreio comunista.
Na poca, as suspeitas sobre Jonny de Graaf/Franz Paul Gruber foram muitas. Conforme a historiadora Marly Vianna, o dirigente “Miranda” (Antonio Maciel Bonfim), preso, mandara dizer atravs de Elza, sua companheira, que “um estrangeiro foi preso e logo solto”, o que ele achava muito estranho. Mais adiante, Elza repetiu que “Miranda” mandara dizer que “um estrangeiro fornecera muitas indicaes polcia e que parecia ser que fosse alemo”.[xxxix]Com efeito, o casal Gruber ficou apenas 12 horas preso.[xl]Pouco antes de cair nas mos da polcia, Prestes recebeu um recado da escritora Eneida de Moraes, avisando que Caio Prado vira no gabinete de Macedo Soares, ministro da Justia, um relatrio de doze pginas sobre o PCB.
Macedo Soares teria dito que o autor era algum que se ligava diretamente a ele. Caio julgava que o autor era estrangeiro, parece que alemo.[xli]Pvel Stuchevski tambm desconfiava de Jonny/Gruber e no caminho de volta a Moscou, na Argentina, armou-lhe uma cilada, perguntando-lhe se chegara a se encontrar com Barron antes de sua priso. Pela resposta, percebeu que estava mentindo e concluiu, em telegrama enviado para Moscou, que se tratava de um espio. Em relatrio apresentado depois a Moscou, qualificou-o de espio, porm dos russos brancos.[xlii]
O historiador americano Robert Levine citou, pela primeira vez, em 1970, cpia de um telegrama do embaixador do Brasil em Londres, Sousa Leo, a Getlio, mencionando um pedido do consultor doForeign Officeingls para que se evitasse, em 1940, a deportao de Gruber para a Alemanha nazista.[xliii]O jornalista Waak, que cita este dado, considera-o impossvel, porque, confiando no ltimo registro sobre o interrogatrio de Jonny/Gruber em Moscou, deduziu, com bastante probabilidade, que ele tivesse desaparecido nos expurgos sangrentos do Grande Terror.[xliv]Mas o agente ingls “renasceu das cinzas” em 2010.[xlv]
A dvida instalada na dcada de 1930 permaneceu, e as prises continuaram a ser atribudas a confisses de militantes brasileiros brutalmente torturados, sobretudo “Miranda”. Muitos chegaram concluso de que esse mistrio nunca seria esclarecido. Por isso surpreendeu a publicao nos Estados Unidos, em 2010, de uma biografia de Jonny de Graaf, com trechos autobiogrficos. O livro foi rapidamente traduzido e publicado no Brasil.[xlvi]Na historiografia dedicada aos servios secretos ingleses, o nome do agente “Jonny X”, sem h, como tambm o na historiografia brasileira, o que no acontece na biografia.[xlvii]
Seu principal autor o acadmico D. S. Rose, que partiu de descoberta feita nos arquivos da polcia poltica brasileira, em 1991. O segundo autor o escritor Gordon D. Scott que, em menino, conviveu com o ilustre espio ingls em Montral, no Canad, maravilhou-se com a sua histria e, entre 1975 e 1976, gravou artesanalmente entrevistas, conseguindo “uma montanha de fitas”, cuja transcrio perdeu-se parcialmente. Jonny morreu com 86 anos.
D. S. Rose, que escreve a “Introduo”, reconhece que o biografado tem um percurso complicado. “Evitava os judeus, podia ser vingativo e provavelmente assassinou uma de suas mulheres. […] mas o que fez pelo governo de Sua Majestade, supera as falhas e justifica contar a histria”.[xlviii]Tanto respeito por Sua Majestade faz da biografia uma narrativa hagiogrfica dos fastos memorveis do agente ingls.
O livro tem essencialmente por base as entrevistas gravadas por Rose e o interrogatrio a que Jonny foi submetido pelo FBI, em 1952, em Montral, quando desempregado do MI 6 ingls (Military Intelligence– 6), ofereceu seus servios aos americanos. Tem o mrito de elucidar a cronologia das viagens de Jonny. Fora isso a narrativa indigesta do agente ingls um amontoado de mentiras e bobagens, onde transparece o lado imoral da personagem: vingativo, mercenrio, intrigante, com tendncias pedfilas, partidrio sempre do lado do mais forte, autoelogiando-se em todos os episdios narrados.
Foi pela primeira vez URSS, em 1930, e desde ento nasceu o seu dio ao regime comunista, mantra que ele repete a cada ocasio, talvez para bem impressionar os interrogadores do FBI.[xlix] Depois de algumas tentativas para se tornar “agente duplo”, finalmente encontrou na embaixada inglesa de Berlim, em junho de 1933, o servio secreto que o empregaria at pouco depois da Segunda Guerra Mundial: o MI 6 – SIS (Secret Intelligence Service), na figura do agente do SIS, Frank Foley, que formalmente exercia a funo de controle de aportes.[l]
Jonny tinha muitas vinganas a executar, especialmente contra Artur Ewert. Historiando suas desavenas com ele, como a se justificar de t-lo entregado a uma polcia sanguinria, Jonny menciona episdios de confronto na Alemanha, em 1923, depois na China, para onde tambm tinha sido enviado. Aproveita para fazer vrias acusaes graves a Ewert sobre esse perodo, inverificveis, relativas a complicaes de dinheiro e tentativa de seu assassinato.[li]Para quem ainda duvide que a queda de Ewert deveu-se a Jonny/Gruber, ela est assinalada at na historiografia dedicada aos servios secretos ingleses.[lii]
Alm de Ewert, Jonny tambm entregou “Miranda”, comunistas chineses e o Comit Central do Partido Comunista Argentino.[liii]As indisfarveis tendncias pedfilas de Jonny de Graaf/Gruber no conseguem ser esmaecidas, apesar da condescendncia de seus bigrafos. Contado por ele a Scott, Jonny, com 33 anos, em 1927, viu, em um comcio, a menina Helena Krger, de 9 anos. Deu um jeito de ficar ntimo da famlia, remotamente ligada ao KPD, mediante somas em dinheiro. Levou-a para a Inglaterra como companheira, quando ela tinha apenas 14 anos. Como que justificando moralmente o posterior assassinato dela, vai pontuando o seu cansao de “Lena” e sua inclinao pela irm mais nova, Gerti, tambm de 9 anos, que comeou a seduzir em 1931.
Entretanto acaba ficando com “Lena” para o empreendimento Brasil. Logo depois da tragdia das prises que se seguiram ao levante de 1935, Jonny e “Lena” foram para a Argentina, ainda em janeiro de 1936. Instalaram-se com luxo em uma casa naCalle Florida. Em novembro desse mesmo ano Jonny recebeu ordem de Moscou para voltar com Helena. Em 3 de dezembro, segundo seu relato, ela se suicidou com o seu rifle Winchester. Ou melhor, ele a matou com seu rifle, como se pode concluir por elementos da prpria biografia, a seguir relatados. Em suas memrias, recolhidas pelo autor Scott, ele no fala sobre a morte de Helena. Com estudantes universitrios de Montral, disse, certa vez, que matou uma mulher que Moscou tinha infiltrado para espion-lo.
Em seu interrogatrio pelo FBI, em 1952, Jonny no ia falar nada aos investigadores, quando foi surpreendido com a pergunta deles sobre se Helena tinha se suicidado. A verso mais citada, entre as diversas que deu, foi que ela tinha se suicidado depois de ele ter descoberto que ela tinha um amante, um mdico do exrcito argentino. A explicao no tem nenhuma lgica como causa de um suicdio. Os seus bigrafos fazem piruetas para contar todas as verses estapafrdias que circularam e chegar concluso de que Jonny “pode ter matado” Helena. Ela tinha 19 anos. Nisso tudo permanece o mistrio de como as autoridades argentinas engoliram a histria do suicdio, apenas pedindo que ele sasse do pas, como nada foi publicado sobre esse caso em qualquer jornal e como os registros policiais correspondentes foram queimados.[liv]So milagres que s podem ser atribudos fora do MI 6 – SIS ingls naquele pas.
Se tivesse chegado a Moscou, “Lena” teria muita coisa interessante a contar comisso que interrogou Jonny, formada, segundo ele, por Stella Blagoeva, Gevork Alikhanov e outro membro do Departamento de Quadros do Comit Executivo da Internacional Comunista. Afinal, ela foi a motorista de Prestes antes e durante o levante de 1935. Jonny chegou a Moscou em 5 de maro de 1937. Houve muitos interrogatrios e meses de espera, segundo ele. S conseguiu sair em 18 de maio de 1938. Alikhanov chegou a apontar dez pontos inverossmeis na trajetria de Jonny, conforme documentos russos.
O mais instigante o fato de ele s ter relatado o suicdio de “Lena” ao chegar l. Alm disso, os soviticos se impressionaram com o fato de seu aporte, em nome de Gruber, no ter visto de sada da Argentina.[lv]Mas Jonny conseguiu livrar-se de todos os questionamentos e sair da URSS. um milagre, ainda maior que o da Argentina, que Moscou tenha deixado escapulir-lhe pelos dedos um agente do MI 6 – SIS infiltrado no comunismo, que arruinara o partido brasileiro. Como que Moscou, to exigente e detalhista com o casal Stuchevski,[lvi]diante das histrias retorcidas e aberrantes contadas por Jonny, caiu nessa esparrela?
Tudo o que Jonny conta dessa estadia na URSS serve mais para ingls ver. At as personagens que ele cita como seus protetores j tinham sido engolidas pelo Grande Terror. Segundo ele, funcionaram como referncia positiva para o seu caso Pvel Vassliev, seu professor na escola de sabotagem na URSS, e o general Berzin, que esteve com ele desde os primeiros dias de sua estadia at o ltimo, conforme alega. Ora, Berzin estava na Espanha e foi chamado de volta, como j dissemos, em maio de 1937. Foi condecorado com a Ordem de Lnin mas logo em seguida foi envolvido pelo Grande Terror. Em novembro seguinte, estava preso e foi fuzilado em julho de 1938.[lvii]
Quanto a este Pvel, deve tratar-se, na verdade, de Boris Afanssevitch Vassliev, que desde 1925 atuava no aparelho doKominterne que dirigiu, at 1935, o departamento de organizao, tambm se ocupando de formao militar tcnica. De fato, ele participou dos preparativos para a insurreio brasileira, juntamente com Pitnitski e Sinami (pseudnimo de Georgi Vasslievitch Skalov). Mas foi atingido pelo Grande Terror, no processo que levou queda em desgraa de Piatnitski, em 1937. Sinami foi fuzilado antes, em 1936.[lviii] bastante difcil imaginar que a liberao de Jonny tenha acontecido por causa de seus dois supostos protetores, j presos.
Foi depois dessa sobrevida oferecida por Moscou que Jonny voltou ao Rio de Janeiro, agora a servio apenas do MI 6 ingls, para atuar como provocador dentro dos grupos nazistas do Brasil. Foi dessa vez que experimentou, em 1940, um pouco da tortura esmerada a que tinha arrastado Ewert, nas mos do feroz torturador Cecil Borer.[lix]Foi salvo pelo SIS, que interveio diretamente junto ao presidente Getlio Vargas, atravs de seu embaixador em Londres.
Por outro lado, duas personagens se destacam no conjunto de acontecimentos dramticos da represso do governo de Vargas, que se seguiu derrota do levante de 1935: “Miranda” (Antonio Maciel Bonfim), que usava os nomes de Adalberto de Andrade Fernandes, “Amrico”, ou “Keirs” na URSS, secretrio-geral do PCB, o posto mais importante nos partidos comunistas; e sua companheira “Elza Fernandes” (Elvira Cupello Calonio), a “Garota”, uma mocinha com idade variando, conforme a fonte, entre os 16 e os 21 anos, analfabeta ou precariamente alfabetizada, irm de trs militantes operrios de Sorocaba[lx]e que o secretrio-geral levava a todas as reunies e encontros.
Em 13 de janeiro de 1936 o casal foi preso. Era a primeira priso importante entre os comunistas brasileiros. A partir dessa data o resto do Secretariado Nacional se comunicava com Lus Carlos Prestes, vivendo em uma pequena casa no Meier, bairro ento afastado do Rio de Janeiro, atravs de cartas e bilhetes vrias vezes ao dia. O tema principal era o caso “Garota”. E isso continuou at a priso de Prestes, em 5 de maro, e a confiscao pela polcia do seu arquivo, inclusive dessa correspondncia.[lxi]
O que aconteceu nesse interregno permaneceu, e em certa medida permanece ainda, envolvido no maior mistrio. a, nesse perodo de medo, incerteza e incompreenso, que os procedimentos stalinistas de militncia chegaram ao paroxismo. Durante muito tempo, os acontecimentos relativos ao caso “Garota” foram omitidos por uma histria que se quer sria e no trata de crimes da vida cotidiana, ou por um corporativismo de partido prprio do mtodo stalinista de apagar fotos e reescrever histrias. Esses acontecimentos tambm foram, quando era difcil ocultar, revelados aos pedaos, consolidando inverdades que se repetiram ao longo de dcadas. Nessa trajetria das histrias, “Miranda” foi escolhido como bode expiatrio, procedimento tpico do stalinismo.
Ele no era um tipo fcil. Depois da sua priso as caracterizaes as mais diversas possveis choveram. Em Moscou, onde participou na chamada “Conferncia dos Partidos Comunistas da Amrica do Sul,” impressionou pela capacidade de argumentar em francs sobre a maturidade da revoluo no Brasil.[lxii]Os julgamentos internos eram severos. Para uns era “fanfarro”, “parlapato, baiano demais”, “parlapato, bem-falante, vaidoso e aventureiro”.[lxiii]
Na priso, Graciliano Ramos se impressionou com o alarde que “Miranda” fazia das marcas de suas torturas, um “profissional da bazfia”. Com o tempo enxergou nele “inconsistncia, fatuidade, pimponice. Vivia a mexer-se, a falar demais, numa satisfao ruidosa, injustificvel”. Critica-lhe, no discurso, “erros numerosos de sintaxe e de prosdia […] deformando perodos e sapecando verbos”. Da crtica falta de qualidade da sua prosa, Graciliano Ramos transita para o amlgama. Um comentrio infeliz de “Miranda” o convence “de que no nos achvamos diante de um simples charlato. Em quem deveramos confiar? Felizmente aquele se revelava depressa”.
E de amlgama em amlgama, chegou-se calnia. Por exemplo, com o militante Lencio Basbaum, para quem “Miranda” era, desde 1932, quando foi eleito para a nova direo do PCB, um “provocador profissional”, “o famigerado Amrico Maciel Bonfim, aventureiro tpico que, conforme se soube mais tarde, depois do levante de 27 de novembro de 1935, era um agente de polcia”. E essa verso no era s sua, espalhara-se, tomando ares de verdade verificada, por exemplo, na nota de rodap do livro do brasilianista Chilcote.[lxiv]A culpabilizao de “Miranda” servia para justificar,a posteriori,o assassinato de sua companheira, a jovem “Elza”, a “Garota”, ou ocultar esse fato num emaranhado de suspeitas jamais comprovadas.
Mas com o tempo e as novas informaes, sem a paixo das antipatias, o julgamento se moderou. Mesmo a prova cabal de que “Miranda” colaborava com a polcia – uma carta oriunda dos arquivos policiais, supostamente dele para o chefe de polcia, Filinto Mller, datada de 11 de julho de 1942 – protestando juras de fidelidade e crticas ao bolchevismo em um estilo mais prprio dos prceres do governo – foi desmistificada pela militante comunista de 93 anos, Sara Becker, contempornea de “Elza”.
Entrevistada em 2009 pelo jornalista Srgio Rodrigues, achou incoerentes os termos utilizados em carta de um ex-militante e notou que a que estava em baixo da carta era de um nome diferente do dele: ele no era “de Bonfim”, e sim Bonfim. “Quem erra o prprio nome">[lxv]
Para a historiadora Marly Vianna: “Antnio Maciel Bonfim foi muito torturado. Adotou, diante da polcia a posio de confirmar tudo aquilo que ela j soubesse e calar o que pudesse fornecer-lhe novos elementos. […] No houve prises por indicao de Miranda, mas havia nomes e endereos em seu arquivo – como, alis, nos de Berger e de Prestes – e pessoas foram presas. […] Foi somente depois de saber do assassinato da companheira que “Miranda”, transformado num trapo humano, ou a colaborar com a polcia. […] Ao ser libertado, com a anistia de 1945, Antnio Maciel Bonfim estava tuberculoso, sem um rim – que perdera nos espancamentos sofridos na priso – e na mais absoluta misria. […] Voltou para a Bahia, onde morreu em Alagoinhas pouco tempo depois”.[lxvi]
A histria que se quis ocultar iniciou quando “Elza” foi solta, em 26 de janeiro de 1936. Segundo ela contava, a polcia lhe dissera que podia visitar “Miranda”, o que ela fez, trazendo para os dirigentes do partido recados dele e papeizinhos com mensagens sobre o que estava acontecendo na priso. Normalmente, “Miranda” deveria estar incomunicvel, mas provavelmente a polcia esperava retirar alguma informao da situao. Desse fato se ou s suspeitas: “Elza”, a “Garota”, como a chamavam nas cartas trocadas entre Prestes e o Secretariado Nacional do partido, trabalhava para a polcia. Os bilhetes no eram de “Miranda”.
Como poderiam ser se ele deveria estar incomunicvel? As quedas, que continuavam, eram atribudas a ela. Caiu uma casa em Copacabana cujo endereo s era conhecido de “Miranda” e mais dois dirigentes: Prestes, que achava que os dirigentes no quebram, concluiu que a “Garota” devia tambm conhecer o endereo. Os militantes soltos resolveram ento tirar “Elza” de circulao, um verdadeiro sequestro, ainda que parecendo alojamento e proteo a algum que no tinha onde morar. Foi levada para a casa de “Tampinha” (Adelino Decola dos Santos), que era do Secretariado Nacional, em Deodoro.
Seguiu-se a frentica troca de cartas e bilhetes sobre a “Garota”. De um lado, os membros do Secretariado Nacional – “Martins” (Honrio de Freitas Guimares), “Bangu” (Lauro Reginaldo da Rocha), “Abbora” (Eduardo Xavier) e “Tampinha”, excludo da direo “Brito” (Jos Lago Morales), que ficara indignado com os procedimentos que se anunciavam. De outro Prestes, na casa do Meier, onde tambm estavam Olga e os Stuchevski. Eles queriam ter uma prova de que “Elza” trabalhava para a polcia e tentaram confundi-la para que se trasse, o que no aconteceu. Houve vacilao em certo momento, mas a conclamao firmeza prpria de todo comunista, evocada por Prestes, e o apelo a deixar de lado sentimentalismos de qualquer ordem resolveu a questo.
Afinal, nos primeiros dias de maro, com a presena e a ajuda manual de todos os j citados, membros do Secretariado Nacional, e mais “Gaguinho” (Manuel Severiano Cavalcanti), “Elza” foi estrangulada por “Cabeo” (Francisco Natividade de Lira) com uma corda de varal. Enterraram o corpo no quintal da casa. Diz a historiadora Marly Vianna: “Nem sequer estavam convencidos da culpabilidade da moa”.[lxvii]Reza a pequena histria que “Abbora” no aguentou a brutalidade da cena e, em um canto, ps-se a vomitar.[lxviii]
Quando o conjunto das cartas trocadas sobre o caso “Garota” caiu nas mos da polcia, o sentido delas e o fato em si no ficaram claros. Mas em 1940 os membros do Secretariado Nacional foram presos e barbaramente torturados. O assassinato de “Elza” e o local onde seu corpo foi enterrado foram descobertos e o sensacionalismo ganhou as pginas dos jornais.[lxix]Foi nessa poca que ficou esclarecido tambm outro crime dos comunistas, atribudo por eles polcia. Em 1934, no Rio de Janeiro, havia grande agitao e comearam a aparecer cadveres em decomposio na floresta da Gvea, de “numerosos elementos proletrios”, conforme os comunistas.
Um dos corpos encontrados, crivado de balas, em 26 de outubro, era o do estudante Tobias Warchavsky, da Juventude Comunista. Era filho de imigrantes judeus, considerado um comunista radical e com grande talento para desenhar. A morte dele foi denunciada pelos comunistas como obra do governo varguista.[lxx]Mas em 1940 foi esclarecido que o autor era o PCB, que o tinha considerado um espio. O executor foi o mesmo “Cabeo” (Francisco Natividade de Lira), mas “Martins” (Honrio de Freitas Guimares) foi considerado o responsvel e condenado a 30 anos.[lxxi]
Um boletim do PCB, de dezembro de 1940, condenava os trotskistas por explorarem a “farsa” desses julgamentos, afirmando que Prestes e os seis comunistas tinham sido condenados por crimes que, na verdade, tinham sido cometidos pela polcia.[lxxii]No era essa a opinio de Stela Blagoeva, a blgara do Departamento de Quadros da Internacional Comunista. No final de 1936, tomando conhecimento por “Abbora” (Eduardo Xavier), recm-chegado a Moscou, que alm de Elza, o partido havia assassinado Warchavsky, deu-lhe um conselho: no era correto liquidar provocadores e atribuir esse mrito polcia.[lxxiii]A liquidao era uma glria que devia ser assumida com orgulho. Eis como se fez uma histria costurada com inverdades, mas que, muito tempo depois, acabaram por sair luz do dia.
*Angela Mendes de Almeida professora de Histria na PUC-SP. Autora, entre outros livros, deDo partido nico ao stalinismo (Alameda). [https://amzn.to/3SuChJB]
Notas
[i]Marly de Almeida Gomes Vianna,Revolucionrios de 35 – Sonho e realidade.So Paulo, Companhia das Letras, 1992; Paulo Srgio Pinhero,Estatgias da iluso. A revoluo mundial e o Brasil (1922-1935).So Paulo, Companhia das Letras, 1991.
[ii]Michael Lwy (org.),O marxismo na Amrica Latina. Uma antologia de 1909 aos dias atuais.So Paulo, Editora Fundao Perseu Abramo, 2000, p. 127.
[iii]Margarete Buber-Neumann,La rvolution mondiale. Histoire du Komintern (1919-1943) raconte par lun de ses principals tmoins.Tournai: Castermann, 1972, pp. 191, 193, 202.
[iv]Fernando Morais,Olga. A vida de Olga Benario Prestes, judia comunista entregue a Hitler pelo governo Vargas.So Paulo, Editora Alfa-Omega, 1985, p. 68.
[v]Boris Volodarsky,Stalin’s Agent – The life and death of Alexander Orlov.Oxford: University Press, 2015, p. 595.
[vi]Margarete Buber-Neumann,La rvolution mondiale…, op. cit., pp. 100, 211-213.
[vii]Ossip K. Flechtheim, Le parti communiste allemand sous la Rpublique de Weimar.Paris: Maspero, 1972. pp. 132, 167, 185, 312, 314.
[viii]Dictionnaire Biographique des Kominterniens. Belgique, , Luxemburg, Suisse.Collection Maitron, Les ditions de l’Atelier.
[ix]Jan Valtin,Sans patrie ni frontires.Paris: JCLatts, 1975, pp. 141,183-184, 187-189, 194, 228.
[x]Fernando Morais, op. cit., pp. 71-73.
[xi]Ibid., p. 68.
[xii]William Waak,Camaradas: nos arquivos secretos de Moscou. A histria secreta de revoluo brasileira de 1935.So Paulo, Companhia das Letras, 1993, pp. 105-106.
[xiii]Boris Volodarsky,Stalin’s Agent …,op. cit., pp. 513-514.
[xiv]William Waak, op. cit., pp. 77, 105-106, 154; R. S. Rose e Gordon D. Scott, Johnny.A vida do espio que delatou a rebelio comunista de 1935. Rio de Janeiro, Record, 2010, p. 292. Na historiografia brasileira e inglesa o nome escrito sem o h.
[xv]William Waak, op. cit., pp.172-173.
[xvi]Ibid., pp. 154, 290
[xvii]Fernando Morais, op. cit., pp. 37 e 56-57.
[xviii]William Waak, op. cit., pp. 174, 215.
[xix]Daniel Aaro Reis,Lus Carlos Prestes. Um revolucionrio entre dois mundos.So Paulo, Companhia das Letras, 2014, pp. 183-184.
[xx]Marly de Almeida Gomes Vianna, op. cit., pp. 217-218.
[xxi]Daniel Aaro Reis, op. cit., pp. 184-185.
[xxii]Marly de Almeida Gomes Vianna, op. cit., pp. 258-259, 267.
[xxiii]Fernand Morais, op. cit., p. 175.
[xxiv]Marly de Almeida Gomes Vianna, op. cit., 217, 270, 300.
[xxv]Ibid., pp. 277, 280-281.
[xxvi]John W. F. Dulles, Ocomunismo no Brasil.Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1985, p.19.
[xxvii]William Waak, op. cit., pp. 244, 254.
[xxviii]Marly de Almeida Gomes Vianna, op. cit., pp. 139, 285; William Waak, op. cit., 176, 247, 251.
[xxix]Daniel Aaro Reis, op. cit., p.191; William Waak, op. cit., p. 300.
[xxx]Margarete Buber-Neumann,La rvolution mondiale…, op. cit., p. 353.
[xxxi]Anita Leocdia Prestes,Olga Benario Prestes – Uma comunista nos arquivos da Gestapo.So Paulo, Boitempo, 2017, pp. 75-78; Rochelle G. Saidel,As judias do Campo de Concentrao de Ravensbrck. So Paulo, Edusp, 2009, pp. 44, 62.
[xxxii]Citado por John W. F. Dulles,op. cit., pp.97-101.
[xxxiii]William Waak, op. cit., p. 343.
[xxxiv]Jonh W. F. Dulles,op. cit., p. 19.
[xxxv]William Waak, op. cit., pp. 273-277, 282.
[xxxvi]Ibid., pp. 248-250, cf. relatrio especfico de “Martins” (Honrio de Freitas Guimares); Jonh W. F. Dulles,op. cit., p. 17.
[xxxvii]William Waak, op. cit., pp. 135-136, a partir de relatrio de “Martins”; John W. F. Dulles, op. cit., p.18.
[xxxviii]Willaim Waak, op. cit., p. 258.
[xxxix]Marly de Almeida Gomes Vianna, op. cit., pp. 293, 297.
[xl]William Waak, op. cit., p. 276.
[xli]Marky de Almeida Gomes Vianna, op. cit., p. 299.
[xlii]William Waak, op. cit., pp. 307, 321.
[xliii]Robert Levine,O regime de Vargas, editado em 1980, citado por ibid., p. 366.
[xliv]Ibid., p. 277.
[xlv]Dainis Karepovs, “Mentiras e mortes,”Teoria e debate, 30 de agosto de 2011 –https://teoriaedebate.org.br/estante/johnny-a-vida-do-espiao-que-delatou-a-rebeliao-comunista-de-1935/.
[xlvi]R. S. Rose e Gordon D. Scott,Johnny.A vida do espio que delatou a rebelio comunista de 1935. Rio de Janeiro, Record, 2010.
[xlvii]Cf. Keith Jeffery,MI6: The History of the Secret Intelligence Service (1909-1949)London, 2010, citado por Boris Volodarsky,Stalin’s Agent…, op. cit., pp. 192, 594.
[xlviii]R. S. Rose e G. D. Scott, op. cit., pp. 21, 22 e 23.
[xlix]Ibid., pp. 154, 166, 226, 496, n.19.
[l]Boris Volodarsky,Stalin’s Agent …, op. cit., p. 192.
[li]R. S. Rose e G. D. Scott, op. cit., pp. 139, 150, 221, 241, 245, 247, 248, 251.
[lii]Boris Volodarsky,Stalin’s Agent…, op. cit.,p. 193.
[liii]R. S. Rose e G. D. Scott, op. cit., pp 251, 278-9, 284.
[liv]Ibid., pp . 147, 210, 285, 291-294, 519.
[lv]Ibid., pp. 297-298, 302.
[lvi]William Waak, op. cit., pp. 329, 331-332.
[lvii]Boris, Volodarsky,El caso Orlov…, op. cit., pp. 206-207.
[lviii]Pierre Brou,Histria da Internacional Comunista (1919-1943).2 tomos. So Paulo: Sundermann, 2007. t. 2, p.1336.
[lix]R. S. Rose e Gordon D. Scott, op. cit., pp. 351-354.
[lx]Srgio Rodrigues,Elza, a Garota – A histria da jovem comunista que o partido matou. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2009, pp. 8-10; Lencio Martins Rodrigues, “Sindicalismo e classe operria (1930-1964)” in:Histria Geral da Civilizao Brasileira – III O Brasil Republicano – 3 – Sociedade e poltica.So Paulo, Difel, 1986, p.379.
[lxi]Marly de Almeida Gomes Vianna, op. cit., pp. 287, 292, 300.
[lxii]Raimundo Nonato Pereira Moreira, Thiago Machado de Lima, Letcia Santos Silva, Iraclli da Cruz Alves e Cludia Ellen Guimares de Oliveira, “O clebre Miranda: aventuras e desventuras de um militante comunista entre a histria e a memria”.Prxis–Revista eletrnica de histria e cultura.http://revistas.unijorge.edu.br/praxis/2011/pdf/62_oCelebreMiranda.pdf.
[lxiii]Citados por Srgio Rodrigues, op. cit., p. 73.
[lxiv]Lencio Basbaum,Histria sincera da Repblica – vol. 3 De 1930 a 1976.So Paulo, Alfa-Omega, 1975-1976, pp. 75-76; Ronald H. Chilcote,Partido Comunista Brasileiro – Conflito e integrao.Rio de Janeiro, Graal, 1982, p. 79, n. 59.
[lxv]Srgio Rodrigues, op. cit., pp. 112-114.
[lxvi]Marly de Almeida Gomes Vianna, op. cit., pp. 288, 297-298.
[lxvii]Ibid., p. 297.
[lxviii]Fernando Morais, op. cit., p. 160.
[lxix]John W. F. Dulles, op. cit., pp. 200-204.
[lxx]Cludio Figueiredo, Entre sem bater – A vida de Apparcio Torelly, o Baro de Itarar. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2012, p. 233.
[lxxi]John W. F. Dulles, op. cit., pp. 205, 207, 209.
[lxxii]Citado por ibid., p. 209.
[lxxiii]W. Waak, op. cit., pp. 319, 324, 332.
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