Coleo Memria das Lutas Populares no RN Coleo Memria Histrica Emmanuel Bezerra dos Santos - Volume IV 3a5u45

Emmanuel Bezerra dos Santos, heri do povo brasileiro

Edival Nunes Caj

Emmanuel Bezerra dos Santos foi, sem dvida alguma, o maior e mais consequente dos lderes dos estudantes do Rio Grande do Norte nos turbulentos anos 60. Era um organizador nato, quase que por instinto, por hbito revolucionrio. E ele o demonstrou brilhantemente por onde ou.

Foi o principal organizador do Grmio do Atheneu, do Diretrio Acadmico da Faculdade de sociologia da Fundao Jos Augusto, foi eleito presidente da Casa do Estudante do Rio Grande do Norte e coordenador da bancada dos delegados potiguares ao XXX Congresso da Unio Nacional dos Estudantes (UNE), em 1968, na cidade de Ibina (SP), onde caiu todo o congresso pela ao repressiva da polcia poltica daquele famigerado regime fascista. Foi poeta e agitador cultural. Fez tudo isto diante da represso e das leis de exceo da ditadura proibindo a reorganizao dos DAs, Grmios e demais entidades estudantis e seus congressos.

O acirramento da luta de classes e o crescente desenvolvimento da resistncia popular levou a ditadura do capital e dos generais ao desespero, com a eata dos 100 mil em julho de 1968 no Rio de Janeiro, criando decretos draconianos e destacamentos de agentes do Estado para a eliminao fsica de seus opositores, a ponto de dar inveja ao regime nazifascista de Hitler, com a criao do AI-5, o 477, o DOI-CODi e os constantes desaparecimentos polticos.

Na tentativa de impedir a sua derrubada, o governo militar decidiu prender Emmanuel Bezerra e outros milhares de dirigentes do movimento de massa em Natal e em todos os estados do Brasil.

Ao sair da priso no final de 1969, Emmanuel se dedicou fervorosamente ao trabalho clandestino de organizao do seu partido, o Partido Comunista Revolucionrio (PCR), e de preparao das condies para a resistncia armada quele regime e a conquista de um Governo Popular-Revolucionrio para a construo de uma nova sociedade, a sociedade socialista.

Mas foi como um abnegado e disciplinado organizador comunista que Emmanuel mais se destacou na direo do PCR, tanto no Rio Grande do Norte como em Alagoas (de 1970 a 1973). Naqueles difceis anos, em que ns ramos obrigados a desenvolver a luta na mais severa clandestinidade, ele o fez com extrema sabedoria, estudou os seis volumes de O Capital de Karl Marx e formou toda uma gerao de novos comunistas revolucionrios. No Comit Central, cumpriu de forma exemplar todas as tarefas que lhe foram designadas, inclusive, a ltima da sua vida: representar a direo do Partido nas discusses com as organizaes revolucionrias no Chile e na Argentina, deixando nelas a imagem de um verdadeiro dirigente do movimento revolucionrio.

J de volta para o Brasil, Emmanuel, cheio de satisfao, prpria daqueles que cumpriram o seu justo dever, foi covardemente seqestrado pela “Operao Condor”, organizao criminosa formada por agentes dos governos fascistas do Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile e Bolvia com o objetivo de eliminar seus opositores polticos.

Emmanuel foi entregue ao DOI-CODI do 2 Exrcito em So Paulo, rgo que reunia os mais sdicos torturadores do pas, sob o comando do coronel do Exrcito Carlos Brilhante Ulstra e do facnora delegado Srgio Paranhos Fleury - especialistas em torturas, estupros, assassinatos e na ocultao de cadveres de centenas de dirigentes revolucionrios.

E para o espanto e a indignao dos torturadores, impotentes em obter informaes sobre o PCR, depois das sesses de choques eltricos, do pau-de-arara, da cadeira do drago, Emmanuel nada cedeu; desesperados, partiram para a aplicao do colar da morte, que consiste no uso da ponta de sabre quente cravando at ao osso em torno do pescoo no estilo de um colar e a amputao do seu umbigo com tesoura.

Mas eles no tiveram a satisfao de saber sequer em que cidade do Brasil Emmanuel estava residindo, seu aparelho domiciliar ficou intacto.

Emmanuel derrotou moralmente seus carrascos na trincheira de combate mais adversa aos revolucionrios, onde a luta mais desigual: nas cmaras de tortura da burguesia.

A sua gigantesca formao poltica, ideolgica e a sua f inquebrantvel no PCR e na classe operria impediram que a polcia adentrasse na sua organizao. Assim, ns, sobreviventes dos combates desiguais com o fascismo e mirando-nos na fora do seu exemplo – assim como no de Manoel Lisboa, de Amaro Luiz de Carvalho, de Manoel Aleixo e de Amaro Flix Pereira -, reorganizamos o seu partido, resguardamos seus princpios e trabalhamos diuturnamente para a vitria da revoluo socialista, bandeira pela qual voc, camarada Emmanuel, dedicou a sua vida. Por isto, lutamos todos os dias e nos esforamos para sermos sempre dignos do seu herico exemplo de vida.

De nada adiantou a tentativa de caluniar a herica histria da sua titnica resistncia s cruis torturas, assim como a do seu mais fraternal e indmito camarada, Manoel Lisboa de Moura.

Emmanuel, este documentrio resgata exatamente a histria no da sua morte, mas da sua imortalidade.

Edival Nunes Caj - socilogo, ex-preso poltico, membro do CC do PCR e integrante da coordenao do Comit Memria, Verdade e Justia de Pernambuco.