Potiguariana
Digital
Experincias
de Educao Popular
De P no Cho Tambm
se Aprende a Ler
Memria Histrica
Potiguar 54559
Apresentao
Texto
de Moacyr de Ges
De
P no Cho | 40
Horas de Angicos | Movimento
de Natal | CEBs
no ES | Potiguariana
Djalma
Maranho
Djalma
Maranho (1915-1971). Nasceu em
Natal (Rio Grande do Norte, Brasil), filho
de Luiz Igncio de Albuquerque Maranho
e Salom de Carvalho Maranho. Viveu entre
os irmos Natrcia, Cndida, Luiz e Clvis.
1.Vida Pblica - Professor
de Educao Fsica do Colgio Estadual do
Ateneu Norte-rio-grandense, jornalista e
esportista. Fundador e diretor de jornais.
Na poltica, militou no Partido Comunista
at o incio dos anos quarenta, depois,
reorganizou as foras populares herdadas
de Caf Filho e, finalmente, constitui seu
prprio partido, nas legendas do Partido
Trabalhista Nacional (PTN) e, posteriormente,
do Partido Socialista Brasileiro (PSB),
constituindo-se, nos anos sessenta, na terceira
fora - poltica do Rio Grande do Norte
e na primeira que no era fundada na oligarquia
latifundiria da Estado.
Foi eleito Deputado Estadual (1954) e assumiu,
como primeiro suplente, a Cmara Federal
(1959-1960). Por duas vezes exerceu o cargo
de Prefeito de Natal: a primeira, na segunda
metade dos anos 50, por nomeao do governador
Dinarte Mariz (em decorrncia da aliana
UDN-cafestas); a segunda, em 1960
na primeira eleio direta para a municipalidade
da Capital, com 64% dos votos vlidos, integrando
uma frente poltica de centro-esquerda chamada
Cruzada da Esperana, tendo Aluzio Alves
como candidato a governador do Rio Grande
do Norte.
Pelo golpe de Estado de abril de 1964 foi
deposto da prefeitura, cassado seu mandato,
e esteve preso em quartis do Exrcito em
Natal, na ilha de Fernando de Noronha e
no Recife. Libertado por ordem do Habeas
Corpus do Supremo Tribunal Federal em dezembro
de 1964, aps publicar um manifesto na imprensa
do Rio de Janeiro (O (General Fome est
nas Ruas), asilou-se na Embaixada do Uruguai.
Morreu no exlio, em Montevidu, em 30 de
julho de 1971, aos 56 anos de idade. Seus
restos mortais repousam no cemitrio do
Alecrim.
Em sua prtica poltica, Djalma Maranho
manteve coerente posio poltica aos postulados
nacionalistas, da seus discursos de denncia
ao imperialismo e guerra fria e de apoio
aos no-alinhados; lutou pela formao de
um governo popular e democrtico, da seu
apoio s Reformas de Base do Presidente
Joo Goulart, ao pluralismo poltico,
reforma agrria, Revoluo Cubana e de
denncia aos golpistas que, no Brasil de
1954 64, conspiraram contra a constituio
de 1946 na pregao da derrubada do Estado
de Direito. Foi casado com Dona Dria Maranho
e deixou um filho, Marcos.
2. O
sonho. - Na Amrica Latina dos
anos sessenta, o sonho de erradicao do
analfabetismo voltou, com mais fora, a
repovoar a cabea de lideranas polticas
comprometidas com classes subordinadas e
um melhor futuro. At agora, somente Fidel,
com a sua revoluo Cubana, conseguiu o
objetivo. No Brasil, Paulo Freire criou
um mtodo de alfabetizao em 40 horas (1962)
e Djalma Maranho jogou todo o peso de sua
istrao no mesmo caminho, desde de
1961. O Golpe de 1964 interrompeu esses
processos e essas duas lideranas, com centenas
de outras, conheceram o exlio e a priso.
Djalma Maranho deixou a herana de
competente no planejamento e execuo; honesto
no trato de dinheiro pblico; lcido e independente
quando das opes tomadas. Todavia, a lembrana
que mais permanece na memria popular
a Campanha De P no Cho tambm se Aprende
a Ler, isto , sua luta para a erradicao
do analfabetismo.
A Campanha De P no Cho tambm se Aprende
a Ler, na verdade, foi alm de uma proposta
alfabetizadora e alcanou o nvel de uma
poltica educacional, esta aliada revalorizao
da cultura e dos autos populares e iniciao
profissional. Hoje, na distncia do tempo,
d para perceber nessa poltica cultural
alguns traos do pensamento de Gramsci e
a formulao de seu intelectual orgnico.
Na istrao
do Prefeito Djalma Maranho, a escola pblica
municipal foi fruto de duas vertentes: o
saber acadmico, historicamente acumulado,
de seus professores e tcnicos, e as propostas
do movimento popular vitorioso das urnas
de outubro de 1960, estas, organizadas pelos
Comits Nacionalistas que continuaram funcionando
aps a posse, em novembro. Esta especificidade
da escola municipal nesse momento, em Natal,
faz emergir no ensino oficial do municpio
a Educao Popular.
De
P no Cho venceu quatro desafios
comuns a escola brasileira: - 1) onde no
havia escolas de alvenaria, construiu Acampamentos
Escolares; - 2) como no havia professores
diplomados, qualificou os seus prprios
recursos humanos; - 3) face ao material
didtico alienado, redigiu seus prprios
textos educacionais; - 4) a sala de aula
jamais foi largada prpria sorte: o acompanhamento
tcnico-pedaggico se fez na proporo de
um supervisor para vinte professores.
Em termos estatsticos
(e quando a populao de Natal era de 160.000
mil habitantes), em trs anos, De P
no Cho alcanou uma matrcula acumulada
de 34 mil alunos; criou um centro de formao
de professores; desdobrou-se na Campanha
De P no Cho tambm se Aprende uma Profisso;
qualificou 500 monitores e 32 orientadores/supervisores;
obteve ndices de aprovao escolar que
foram de 60%, em 1`961, a 85%, em 1963;
e o custo-aluno mdio anual foi de menos
de dois dlares.
Rio de Janeiro,
21 de outubro de 1997.
^
Subir
|