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Nossas filhas e filhos O que fazer logo que voc descobre que seu/sua filha gay, lsbica ou bissexual? Meu/minha filho/a uma pessoa diferente agora? Por que ele/a teve que nos contar? Por que ele/a no me contou antes? Por que meu/minha filho/a gay/lsbica? Por que no me sinto vontade com sua homossexualidade? Ser que deveramos consultar um psiquiatra ou um psiclogo? Ser que ele/ela vai sofrer discriminao, vai enfrentar problemas para encontrar ou manter um emprego, ou at mesmo sofrer agresses fsicas? Como posso conciliar este fato com minha religio? E em relao ao HIV/AIDS? Existe algum aspecto jurdico especial em relao ao/ meu/minha filho/a? Ns aceitamos a situao, mas por que ele/ela tem que "ostentar" sua homossexualidade? Ser que meu/minha filho/a ter uma famlia? Como vamos contar para a famlia e os amigos? O que os vizinhos vo dizer? De que forma posso apoiar meu/minha filho/a? Aprenderei a lidar com a orientao sexual de meu/minha filho/a? Se o seu filho ou filha homossexual, ele/a est em boa companhia Definio 2f52r

• Heterossexual: refere-se a pessoas cujos sentimentos sexuais e afetivos so na maioria dirigidos a pessoas do sexo oposto;
  
• Homossexual ou gay ou lsbica: refere-se a pessoas cujos sentimentos sexuais e afetivos so na maioria dirigidos a pessoas do mesmo sexo;
  
• Homofobia: refere-se incompreenso, ignorncia e ao medo que a sociedade expressa em relao aos gays, s lsbicas e aos bissexuais;
  
• Lsbicas: refere-se s mulheres que so homossexuais;
  
• Bissexuais ou bi: refere-se a pessoas cujos sentimentos sexuais e afetivos so dirigidos a pessoas de ambos os sexos;
  
• "Se assumir": refere-se ao processo de revelar-se (ou ser revelado) gay, lsbica ou bissexual)
  
  O que fazer logo que voc descobre que seu/sua filha gay, lsbica ou bissexual?
  
  A maioria dos pais no est preparada para ouvir as palavras "Me, Pai. Sou gay."
  Esta cartilha, elaborada pela Parents, Families and Friends of Lesbian and Gay (PFLAG), uma organizao composta por pais, famlias e amigos de gays, lsbicas e bissexuais, pretende ajud-lo/a a entender a sexualidade de seu/sua filha/a e o que isso significa para voc e para o seu relacionamento com ele/ela.
  
  Podemos afirmar com toda a convico que voc no est sozinho/a. De acordo com algumas estatsticas, uma entre dez pessoas no mundo homossexual. Portanto, em cada quatro famlias existe uma em que algum de seus membros gay, lsbica ou bissexual. Alm disso, a maioria das famlias tem pelo menos um gay, lsbica ou bissexual em seu crculo familiar.
  
  Isso quer dizer que tem muita gente com quem voc pode conversar. Com base em nossa experincia, podemos dizer que conversar sobre o assunto realmente ajuda. Existem tambm muitos livros e grupos de apoio que podem ajud-lo/a a seguir em frente.
  
  A segunda coisa que podemos dizer que - se voc quiser - voc poder sair dessa fase com um relacionamento mais forte e estreito do que nunca com o seu/sua filho/a. Esse foi o nosso caso. Mas o caminho a ser percorrido muitas vezes difcil.
  
  Alguns pais conseguem tirar a notcia de letra. Mas muitos am por um processo doloroso acompanhado por sentimentos como choque, negao, raiva, culpa e de perda. Portanto, se so esses os seus sentimentos, saiba que eles so compreensveis em uma sociedade que trata gays, lsbicas e bissexuais do jeito que trata.
  
  No se condene pelos seus sentimentos. Mas, se voc ama seu/sua filha, voc deve a ele/a - e a si mesmo - o compromisso de seguir em direo aceitao, compreenso e apoio.
  
  Embora voc possa sentir como se tivesse perdido seu/sua filho/a, voc no perdeu. Ele/a a mesma pessoa que era ontem. A nica coisa que voc perdeu foi a imagem que voc tinha desse/a filho/a e o conhecimento que voc achava que tinha. Essa perda pode ser muito difcil, mas aquela imagem pode ser substituda por um conhecimento mais claro de seu/sua filho/a
  
  Se o seu/sua filho/a jovem, chegar a um entendimento pode ser crucial. Adolescentes gays, lsbicos e bissexuais que so excludos por seus pais apresentam uma incidncia comparativamente alta de suicdio, alcoolismo e uso de drogas. Alguns adolescentes se protegem criando a maior distncia possvel entre eles e seus pais.
  
  Se o seu filho ou filha "se assumiu" voluntariamente, voc provavelmente j tem meio caminho andado. A deciso de seu/sua filho/a de se abrir e ser honesto/a com voc sobre algo que muitos em nossa sociedade condena exigiu uma grande dose de coragem. E tambm demonstra muito amor, confiana e lealdade.
  
  Agora depende de voc conciliar a sua coragem, dedicao, confiana e amor com a de seu/sua filho/a.
  
  
  
  Meu filho uma pessoa diferente agora?
  
  Ns achamos que conhecemos e entendemos nossos filhos desde o dia de seu nascimento. Ns temos certeza absoluta de que sabemos o que se a nas suas cabeas.
  
  Assim, quando um/a filho/a chega em casa com uma revelao to importante como "eu sou gay" ou "eu sou lsbica" e ns nem tnhamos desconfiado - ou, se sabamos, escondamos isso de ns mesmos - nossa reao de choque e desnorteamento.
  
  Desde o momento em que um/a filho/a nasce, ns temos um sonho, uma viso do que esse/a filho/a ser, dever ser, poder ser. Esse um sonho que nasce da sua prpria histria, do que voc mesmo desejava ser quando crescesse, e especialmente da cultura sua volta. Apesar do fato de que gays e lsbicas so uma parcela significativa da populao, a sociedade de uma forma geral ainda nos prepara para ter apenas sonhos heterossexuais em relao aos nossos filhos.
  
  O choque e o desnorteamento que voc sente fazem parte de uma espcie de processo de dor. Voc perdeu algo: o sonho que voc alimentou para seu/sua filho/a. Voc tambm perdeu a iluso de que podia ler os pensamentos de seu/sua filho/a, quando na verdade no podia.
  
  claro que, quando voc pra para pensar nisso, esse um processo que acontece com todos os filhos, sejam eles heterossexuais ou homossexuais. Eles sempre esto nos surpreendendo. Eles no casam com as pessoas que ns escolheramos, no tm o emprego que ns teramos escolhido, no moram onde gostaramos que eles morassem. Porm, na nossa sociedade, estamos mais preparados para lidar com essas circunstncias do que com a orientao sexual "no-tradicional" de um/a filho/a.
  
  Repita sempre para voc mesmo que seu/sua filho/a no mudou. Ele/a a mesma pessoa que sempre foi antes de voc conhecer sua opo sexual. seu sonho, suas expectativas, suas vises que podem ter que mudar se voc realmente quiser conhecer e amar seu/sua filho/a.
  
  
  
  Por que ele/a teve que nos contar?
  
  Alguns pais acham que ficariam mais felizes se no soubessem a verdade. Eles comeam a pensar na fase anterior ao momento da revelao como uma poca sem problemas - esquecendo a inexplicvel e desconcertante distncia que geralmente sentiam existir entre eles e seus filhos naquela poca.
  
  s vezes, tentamos negar o que est acontecendo - rejeitando o que estamos escutando (" s uma fase: voc vai superar isso"), isolando-os ("Se voc escolher esta forma de vida, no quero ouvir falar sobre isso"); ou no registrando o impacto do que estamos ouvindo ("Est tudo bem, querido, e o que voc vai querer para o jantar?"). Todas essas reaes so naturais.
  
  Contudo, se voc nunca chegasse a conhecer a verdadeira orientao sexual de seu/sua filho/a, voc no o/a conheceria em sua totalidade. Grande parte da sua vida permaneceria sendo um segredo para voc.
  
  importante aceitar e entender a orientao sexual de seu/sua filho/a porque a homossexualidade no uma fase.
  
  Embora seja possvel que as pessoas em um perodo experimentando sua sexualidade, algum que chegou ao ponto de contar aos pais que gay ou lsbica, geralmente no est ando por uma fase. Em geral, ele ou ela j levou um bom tempo pensando, na tentativa de entender e reconhecer sua orientao sexual.
  
  Ento se voc est pensando, "Ser que ele/a tem certeza?", a resposta quase sempre 'sim'. Uma pessoa que conta ao pai ou me que acha que gay/lsbica teve que superar muitos esteretipos negativos e se expor a muitos riscos para querer dar esse o leviana ou prematuramente.
  
  O fato de que seu filho ou filha assumiu para voc sua verdadeira orientao sexual um sinal de amor e necessidade de seu apoio. Essa atitude exigiu muita coragem, e mostra o desejo muito forte de um relacionamento aberto e honesto com voc - um relacionamento que lhe possibilite amar seu/sua filho/a pelo que ele/a e no pelo que voc gostaria que ele/a fosse.
  

Por que ele/a no me contou antes?

Pode ser difcil para voc aceitar que seu/sua filho/a provavelmente levou meses, talvez anos, pensando em sua homossexualidade e que s agora est lhe contando. fcil interpretar isso como falta de confiana, amor, ou como um reflexo de sua atitude enquanto pai ou me. E doloroso perceber que voc no conhece seu/sua filho to bem como pensou que conhecia, e que foi excludo de uma grande parte da sua vida.

At certo ponto, isso verdade em todos as relaes entre pais e filhos, sejam eles heterossexuais ou homossexuais. medida que os filhos se tornam adultos, acontece uma separao natural entre eles e seus pais. Seu/sua filho/a vai chegar a concluses que voc no chegaria, e o far sem consultar voc.

Mas, nesse caso, consultar voc ainda mais difcil porque a concluso qual seu/sua filho/a chegou muito importante e, em muitos casos, inesperada. Voc pode ter ficado longe dos pensamentos dele ou dela por muito tempo.

possvel que gays e lsbicas escondam a sua orientao sexual de seus pais por muito tempo, porque eles precisaram desse tempo para entender o que eles mesmos estavam sentindo. Em outras palavras, gays, lsbicas e bissexuais geralmente sabem, desde muito cedo, que eles se sentem "diferentes", mas pode levar anos para que eles possam dar um nome a esses sentimentos.

Como ns ainda vivemos em uma sociedade que no entende, ou que teme, os gays e as lsbicas, eles precisam de muito tempo para reconhecer sua sexualidade. Muito freqentemente, os prprios gays e lsbicas internalizaram sentimentos autodepreciativos ou de insegurana a respeito da sua identidade sexual. Pode levar algum tempo para que uma pessoa reflita sobre o assunto e acumule a coragem necessria para conversar sobre isso com seu pai ou sua me. Mesmo que voc ache que o relacionamento entre voc e seu/sua filho/a era tal que eles deveriam saber que poderiam contar qualquer coisa para voc, lembre-se que o tratamento dado por nossa cultura homossexualidade diz: "no pergunte, no fale".

Assim, mesmo que voc sofra por no ter podido ajudar durante esse perodo difcil, ou mesmo se voc acredita que o resultado poderia ser diferente se voc tivesse se envolvido mais cedo, entenda que seu/sua filho/a provavelmente no poderia ter lhe contado antes. O mais importante que, ao fazer isso agora, ele/a est lhe convidando para um relacionamento mais aberto e honesto.



Por que meu/minha filho/a gay/lsbica?

Os pais geralmente fazem essa pergunta por uma srie de motivos: eles podem estar sofrendo por causa da perda da imagem que tinham do/a filho/a, eles acham que fizeram algo errado, acham que algum "levou" seu/sua filho/a para a homossexualidade, ou se perguntam se existe uma causa biolgica para a homossexualidade.

Alguns pais reagem com choque, negao ou raiva notcia de que seu/sua filho/a homossexual. Uma reao perguntar-se: "Como ele/a pode fazer isso comigo?" Esta no uma reao racional, mas uma reao humana dor.

Ns comparamos essa reao ao processo de sofrimento pela perda: nesse momento voc est chorando pela imagem perdida de seu/sua filho/a. medida que voc elabora seus sentimentos, voc pode descobrir que a nica coisa que ele/a "fez" com voc foi confiar que seu relacionamento poderia crescer depois que voc soubesse a verdade sobre ele/a.

possvel que voc pense que seu/sua filho/a foi levado para a homossexualidade por outra pessoa. A idia de que os homossexuais "desencaminham" as pessoas muito comum. A verdade que ningum "fez" de seu filho um gay nem de sua filha uma lsbica. mais provvel que ele ou ela tenha se sentido "diferente" por muito tempo - nenhuma pessoa ou grupo de pessoas "converteu" seu/sua filho/a.

Outros pais acham que o comportamento deles, enquanto pais, causaram tal identidade sexual no/a seu/sua filho/a. Por muitos anos, a psicologia e a psiquiatria divulgaram suas teorias de que a homossexualidade era causada pelos tipos de personalidade dos pais - a mulher dominante, o homem fraco - ou pela ausncia de modelos sociais do mesmo sexo. Essas teorias, no entanto, no so mais aceitas dentro da psicologia ou da psiquiatria e faz parte do trabalho da PFLAG apagar esses mitos e concepes errneas da nossa cultura popular.

Gays e lsbicas vm de todos tipos de famlia. Alguns tm mes dominantes, enquanto outros tm pais dominantes. Gays, lsbicas e bissexuais podem ser filhos nicos, caulas, intermedirios ou primognitos. Eles podem ter ou no irmos homossexuais. Muitos vm do que nossa sociedade consideraria uma famlia "modelo".

Muitos pais se perguntam se existe uma razo gentica ou biolgica para a homossexualidade. Embora existam alguns estudos sobre homossexualidade e gentica, at o momento no existem concluses sobre a "causa" da homossexualidade. Na ausncia de dados, ns gostaramos que voc refletisse em por que importante para voc saber o porqu.

Ser que o apoio ou amor que voc vai dar ao/ seu/sua filho/a vai depender de voc ser capaz de definir uma causa? Ns pedimos aos heterossexuais que nos expliquem sua sexualidade? Lembre-se que existem gays, lsbicas e bissexuais em todas as posies sociais, religies, nacionalidades e origens tnicas. Assim, homossexuais, da mesma forma que heterossexuais, so muito diferentes uns dos outros e chegaram sua sexualidade por diferentes caminhos. Embora seja normal sentir curiosidade sobre a razo da homossexualidade, no realmente importante saber porque seu/sua filho/a gay ou lsbica para lhe dar apoio e amor.



Por que no me sinto vontade com sua homossexualidade?

A ambivalncia que voc pode sentir um produto da nossa cultura. A homofobia na sociedade penetrante demais para ser banida da nossa conscincia com facilidade. Enquanto houver homofobia, qualquer homossexual e qualquer pai ou me de um gay ou de uma lsbica ter alguns medos e preocupaes bastante legtimos e reais.

Muitos pais podem se confrontar com outra fonte de culpa. Pais que vem a si mesmos como "liberais", que acreditam que esto livres de preconceito sexual - mesmo aqueles que tm amigos gays - ficam algumas vezes surpresos em reconhecer que no se sentem vontade quando o/a filho/a deles que gay/lsbica. Esses pais no s tm que lutar contra seus medos arraigados da homossexualidade, como tambm carregam o peso de achar que no deveriam estar se sentindo da forma como esto.

Pode ser de grande valia voc se concentrar em preocupaes reais: o que seu/sua filho/a mais precisa que voc faa nesse momento? Tente no concentrar sua ateno na culpa. A culpa no se apoia em base nenhuma, nem constri nada para voc ou para seu/sua filho/a.



Ser que deveramos consultar um psiquiatra ou um psiclogo?

No faz sentido consultar um terapeuta na esperana de mudar a orientao sexual de seu/sua filho/a. A homossexualidade no uma doena para ser "curada". A homossexualidade uma forma natural de ser.

Como a homossexualidade no "escolhida", voc no pode fazer seu/sua filho/a "mudar de idia". A Associao Americana de Psicologia e a Associao Mdica Americana definiram como antitico at mesmo tentar mudar a orientao sexual de um homossexual. Em 1997, a Associao Americana de Psicologia mais uma vez advertiu publicamente contra a chamada "terapia reparadora", tambm conhecida como terapia de converso.

Mas existem situaes em que pode ser til consultar terapeutas que tenham experincia com questes familiares e orientao sexual. Talvez voc queira conversar com algum sobre seus prprios sentimentos e sobre como trabalh-los. Talvez voc ache que voc e seu/sua filho/a precisem de ajuda para se comunicarem mais claramente durante esse perodo. Ou talvez voc reconhea que seu/sua filho/a est infeliz e precisa de ajuda para se aceitar e desenvolver sua auto-estima.

Mais uma vez, gays e lsbicas am por dificuldades para aceitarem a si mesmos e sua identidade sexual. Nessas circunstncias, a auto-rejeio pode ser um estado emocional perigoso.

Em todos esses casos, voc tem um leque de opes e recursos. Um terapeuta pode lhe oferecer confidencialidade e, at certo ponto, o anonimato que voc pode achar que precisa num primeiro momento.

H muitas outras opes de ajuda, informao e aconselhamento, alm de, ou em vez de, terapia. Ns encorajamos voc a explorar suas opes e a usar os recursos que se adaptam melhor a voc e sua famlia.

Ser que ele/ela vai sofrer discriminao, vai enfrentar problemas para encontrar ou manter um emprego, ou at mesmo sofrer agresses fsicas?

Todas estas coisas so possveis, dependendo de onde seu/sua filho/a mora, que tipo de trabalho faz - mas as posturas em relao homossexualidade j comearam a mudar e agora esto mudando relativamente rpido. Existem muitos lugares onde seu/sua filho/a pode morar e trabalhar, mantendo-se relativamente livre de discriminao.

Infelizmente, mudanas sociais sempre so lentas - basta lembrar quanto tempo este pas levou para permitir o voto feminino.

Os progressos geralmente so seguidos de recuos. At que um nmero ainda maior de pessoas e organizaes se tornem defensoras dos direitos dos homossexuais, at que a homofobia tenha sido erradicada da nossa sociedade, seu/sua filho/a enfrentar alguns desafios significativos.



Como posso conciliar este fato com minha religio?

Para alguns pais, talvez esta seja a questo mais difcil de se enfrentar. Para outros este problema no existe.

verdade que a maioria das religies continua a condenar a homossexualidade. Contudo, mesmo dentro dessas religies, existem lderes respeitados que acreditam que a posio de condenao da sua igreja irracional.

Em 1997, os bispos catlicos dos Estados Unidos distriburam uma declarao pastoral estimulando os pais a amar e apoiar seus filhos homossexuais. No esboo das novas diretrizes pastorais, feito em 1994, os bispos episcopais dos Estados Unidos escreveram "Assim como para os heterossexuais, a experincia de um amor inabalvel pode ser tambm para os homossexuais, uma experincia de Deus."

Muitas religies importantes assumem atualmente uma posio oficial de apoio aos direitos dos homossexuais. Outras j foram alm. A Igreja Metodista, por exemplo, criou uma rede de congregaes que aceitam homossexuais. A Igreja Unida de Cristo adotou, desde 1991, uma poltica interna de que a orientao sexual no deve ser uma barreira ordenao. O rgo legislativo da Igreja Episcopal declarou que os homossexuais tm direitos iguais aos das outras pessoas dentro dessa igreja.

Voc ainda ouvir pessoas que citam a Bblia para defender o seu preconceito contra homossexuais. Mas existem outros estudiosos da Bblia que contestam qualquer interpretao anti-gay dos textos bblicos.



E em relao ao HIV/AIDS?

Embora no incio a AIDS tenha se disseminado mais rapidamente entre homens gays e bissexuais e entre usurios de drogas que compartilhavam seringas, atualmente todas as pessoas e grupos sociais enfrentam a ameaa do vrus da AIDS.

Portanto, todo pai e me precisa pensar na AIDS - seja seu filho gay ou heterossexual. preciso que voc se certifique de que seu/sua filho/a entende de que forma a AIDS transmitida e que saiba como se proteger.

Com os adolescentes iniciando a vida sexual cada vez mais cedo, e com a AIDS ainda se disseminando, nenhum pai ou me pode ignorar esse perigo, nem imaginar que seu/sua filho/a est protegido/a.

Se seu/sua filho/a soropositivo ou tem AIDS, ele/a precisa mais que nunca de seu apoio. Voc e ele/a precisam saber que no esto sozinhos. Existem muitas organizaes regionais e nacionais que podem ajudar com assistncia mdica, psicolgica e fsica. O relacionamento entre voc e seu/sua filho/a pode se tornar ainda mais ntimo, mas voc e sua famlia tero que aprender a se ajustar s circunstncias fsicas e emocionais relacionadas ao novo estado de sade de seu/sua filho/a.



Existe algum aspecto jurdico especial em relao ao meu filho?

No Brasil no existe nenhuma lei que criminalize ou condene a homossexualidade. Pelo contrrio, h 73 Leis Orgnicas de Municpios (inclusive a do Rio) e trs Constituies Estaduais (Santa Catarina, Sergipe e Mato Grosso) que probem discriminar por orientao sexual. legal ser gay, lsbica, bissexual ou travesti. Se seu filho sofreu alguma discriminao tendo como base a sua orientao sexual, constitua um advogado ou, se voc no tiver recursos, procure a Defensoria Pblica de sua cidade ou a Ordem dos Advogados do Brasil.



Ns aceitamos a situao, mas por que ele tem que "ostentar" sua homossexualidade?

Gays, lsbicas e bissexuais so s vezes acusados de "ostentar" sua sexualidade porque demonstram afeto em pblico, usam camisetas e rios com smbolos gays e/ou participam de paradas gays.

Numa sociedade em que ainda se presume que todas as pessoas so heterossexuais, "se assumir" a nica forma que gays, lsbicas e bissexuais tm para revelar sua orientao sexual. E isso muitas vezes considerado uma forma positiva de evitar a invisibilidade social que pode levar a uma homofobia introjetada ou a falta de auto-estima.

Talvez voc se sinta pouco vontade com as demonstraes pblicas de afeto entre seu/sua filho/a e o/a parceiro/a dele/a. Tenha em mente que todos os casais - hetero ou homossexuais - freqentemente demonstram afeto em pblico porque amam e apreciam seus parceiros.



Mas pare um pouco e pense: ser que voc to crtico com heterossexuais que demonstram publicamente sua afeio?

Lembre-se que "ostentar a homossexualidade" pode ser apenas uma forma natural e relaxada de se comportar em pblico. possvel ainda que afirmar sua sexualidade, ora usando uma camiseta ou participando de um evento pblico, seja uma deciso poltica. Em culturas em que a homossexualidade ignorada ou ridicularizada, uma pessoa que deixa publicamente clara sua sexualidade pode estar fazendo um ato pblico de auto-afirmao.

Se voc se preocupa com possveis reaes negativas qualquer comportamento que possa identificar seu/sua filho/a como homossexual, tenha em mente que muitos gays e lsbicas vo censurar seu prprio comportamento porque eles tambm tm medo. Mas o seu/sua filho/a que tem de tomar a deciso de se expor ou no.



Ser que meu/minha filho/a ter uma famlia?

Casais de gays e lsbicas com parceiros permanentes assumem os mesmos compromissos e possuem o mesmo sentido de famlia que heterossexuais casados. Muitos homens gays e mulheres lsbicas realizam cerimnias para celebrar formalmente seu relacionamento na companhia de amigos e parentes.

Vrios governos da Europa e dos Estados Unidos aram a reconhecer cnjuges do mesmo sexo. Um nmero cada vez maior de empresas nos Estados Unidos - entre elas IBM e American Express - oferece benefcios sociais e cobertura de sade tambm aos "cnjuges domsticos".

E, cada vez mais, casais de gays e lsbicas esto se tornando pais e mes. Algumas lsbicas fazem inseminao artificial para conceber uma criana que elas possam criar com sua companheira.

Alguns gays e lsbicas que se assumiram depois de terem tido relacionamentos heterossexuais esto criando os filhos que resultaram desses relacionamentos com seus companheiros atuais. Alm disso, existem cada vez mais casais gays que adotam crianas.



Como vamos contar para a famlia e os amigos?

Assim como se assumir difcil para gays e lsbicas, o processo igualmente difcil para os pais. Muitos iro preferir esconder a situao. Os pais que ainda esto lutando para aceitar a orientao sexual de seus filhos geralmente se preocupam com a possibilidade de outras pessoas descobrirem. Voc provavelmente ter agora que driblar perguntas como "Ele tem uma namorada?" ou "E a, quando que ela vai casar?".

Muitos pais descobriram que seus medos eram muito piores que a realidade. Alguns evitaram anos a fio contar para seus prprios pais - os avs de seus filhos -, somente para no ouvir eles dizerem: 'Ns j sabamos disso h muito tempo".

Nosso conselho para voc o mesmo que damos para gays e lsbicas. Leia mais a respeito da nova postura dentro dos crculos mdico, psiquitrico, religioso, profissional e poltico. Existe ainda uma grande quantidade de "autoridades" que voc pode citar como aliados na luta pelos direitos iguais para os gays.

Leia a lista de lsbicas e gays famosos que deram contribuies importantes ao nosso mundo. Lembre-se que, como muitos gays escondem ou esconderam sua orientao sexual, esta somente uma pequena frao dos nomes que voc pode citar. E isso tambm significa que voc provavelmente j conhece muitos gays.

Pratique o que voc vai dizer da mesma forma que voc ensaiaria um discurso ou as respostas a serem dadas em uma entrevista de trabalho. Pratique como voc faria para ter uma atitude firme ou para enfrentar qualquer coisa nova que lhe deixa com medo ou nervoso/a.

Um pai contou que costumava ir ao banheiro, trancar a porta e repetir com orgulho as seguintes palavras: "Eu tenho uma filha lsbica". E ajudava. Mas voc tm que realmente praticar.

Converse com pessoas que entendem suas preocupaes. Os membros dos grupos de defesa dos direitos humanos dos homossexuais podem lhe ajudar, discutindo as experincias que eles viveram.

Pode ser que voc oua alguns comentrios negativos ou, no mnimo indelicados, de parentes, amigos ou colegas. Mas voc provavelmente vai descobrir que esses comentrios so menos numerosos que voc temia.

Lembre-se que seu/sua filho/a j percorreu esse caminho antes. Talvez ele/a mesmo possa lhe ajudar nesse sentido.

Lembre-se tambm que as pessoas com quem voc conversar a respeito da sexualidade de seu/sua filho/a devem ser escolhidas juntamente com ele/a.

O que os vizinhos vo dizer?

Essa pode ser uma preocupao muito real, especialmente para famlias que se consideram parte de uma comunidade muito unida ou em regies em que as religies fundamentalistas so muito fortes.

Contudo, lsbicas, gays e bissexuais vm de famlias de todas os cantos do planeta, de todas as culturas, religies, grupo tnicos e profisses.

Uma me dizia que acreditava ser a nica me de lsbica do interior de Minas. Ento, quando comeou a falar sobre o assunto, outros pais comearam a aparecer. Hoje, toda vez que algum se aproxima dela dizendo que precisa conversar, ela j sabe o assunto.

bem possvel que voc encontre reaes difceis de aceitar, e que seu/sua filho/a enfrente situaes de preconceito.



De que forma posso apoiar meu filho?

Como pai ou me, voc tem que cuidar de si mesmo/a e de seu/sua filho/a. Os grupos de defesa dos direitos humanos dos homossexuais esto prontos para ajudar voc superar suas necessidades pessoais para que voc possa ser um pai ou uma me ainda melhor.

Ler este texto o primeiro o para apoiar seu/sua filho/a - voc demonstrou estar aberto/a a informaes novas e esperamos que agora voc esteja mais bem informado/a.

Apoiar seu/sua filho/a deve ser agora uma extenso natural do amparo que voc d como pai ou me: ns precisamos conversar, escutar e aprender juntos.

Cada filho/a precisa de coisas diferentes dos seus pais. Cabe a voc aprender a se comunicar com ele/a sobre as necessidades que ele/a tem e sobre questes relacionadas sua sexualidade.

Alguns pais e mes acham que se tornam mais capazes de compreender e apoiar seu/sua filho/a identificando as semelhanas e diferenas com sua prpria experincia de vida. Em alguns casos, talvez seja til conversar sobre como voc lidou com incidentes dolorosos em sua vida.

Em outros casos, porm, voc tem que reconhecer que a discriminao sexual uma experincia dolorosa e incomparvel.

Nesse sentido, voc pode apoiar seu/sua filho/a aprendendo o mximo que for possvel sobre a homossexualidade e ajudando a trazer esta discusso mais tona em nossa sociedade. o silncio que permite a sobrevivncia do preconceito e da discriminao.



Aprenderei a lidar com a orientao sexual de meu filho?

Um psiquiatra respondeu a essa pergunta da seguinte forma: "Depois que a maioria das pessoas se ajustar realidade da orientao sexual de seu/sua filho/a, elas descobriro que existe um mundo completamente novo sua frente. Primeiramente elas am a conhecer um lado de seu/sua filho/a que nunca tinham conhecido. Agora elas fazem parte da vida desse/a filho/a. Em geral, elas se tornam mais unidas. E os pais comeam a conhecer a comunidade gay e a entender que essas pessoas so iguais a todas as outras."

Uma outra forma de responder a esta pergunta deixar alguns pais e mes falarem sobre suas experincias:
"Eu cheguei a um ponto em que eu me sentia triste e pensava no que que eu ia responder quando algum me perguntasse: 'Como vai Carlos?' Foi a que a resposta veio minha mente: Carlos est bem, eu que no estou. E depois de ter chegado nesse ponto, tudo ficou mais fcil... quando conheci os amigos de Carlos, descobri que eles so pessoas maravilhosas e percebi que ele parte de um grupo genial. Ento, qual o problema? O problema da sociedade. Foi a que eu entendi que tnhamos superado a pior parte." Me de gay

"Acho que o ponto decisivo para mim foi quando eu li mais sobre o assunto e vi que a maioria dos jovens que conseguem aceitar sua sexualidade sente-se mais tranqila, mais feliz e segura. E claro que era isso que eu queria para meu filho e eu certamente no queria ser aquilo que o impediria que ele chegasse a esse estgio." Pai de gay

"Eu ei trs meses tendo crises de choro. Mas sempre tivemos um relacionamento muito bom, e isso nunca mudou. Ns nunca tivemos um momento de dvida sobre nosso amor por ele e ns dois afirmamos na mesma hora que o amvamos. E desde ento nosso relacionamento com nosso filho tem ficado cada vez mais forte, pois estamos unidos simplesmente por sabermos tudo que ele tem que enfrentar na nossa sociedade." Me de gay

"Conversar sobre homossexualidade realmente muito importante; saber que voc no est sozinho e que outras pessoas aram pela mesma experincia e esto lidando com isso de uma forma positiva. E o benefcio que voc desenvolve um bom relacionamento com seu filho. Os pais querem cuidar de seus filhos. Em termos gerais, eles no querem ser isolados de seus filhos." Me de lsbica

"Eu preciso contar para vocs, existem tantas coisas positivas agora. Voc comea a reconhecer como seu filho incrvel por compartilhar isso com voc e querer que voc seja parte da vida dele... [Preste ateno na] confiana que ele depositou em suas mos e quanta coragem ele precisou para fazer isso." Pai de lsbica

"A maioria de ns como um trevo de trs folhas- bastante comuns, ningum presta muita ateno na gente -, mas de vez em quando encontramos um trevo de quatro folhas - uma descoberta rara e maravilhosa. Eu lembro que, quando era criana, eu ava horas procurando por este trevo de quatro folhas. De vez em quando eu achava um e o guardava dentro de um livro ou entre folhas de papel encerado. Este trevo era como um tesouro para mim, algo que eu queria cuidar e proteger. Minha filha como um desses trevos de quatro folhas; acontece que ela tem uma orientao sexual diferente da minha. Ela um tesouro para mim, algum que eu quero proteger. Um trevo de quatro folhas no anormal, apenas raro e diferente dos outros. Eu nunca pensaria em arrancar uma das folhas para que ele se parecesse com um trevo de trs folhas." Me de lsbica



Se o seu filho ou filha homossexual, ele/a est em boa companhia:

Caio Fernando Abreu (escritor) Edward Albee (dramaturgo) Alexandre, o Grande (Imperador) Pedro Almodovar (cineasta)
Mrio de Andrade (poeta) Francis Bacon (pintor) Joan Baez (cantora e compositora) Josephine Baker (atriz e cantora)
James Baldwin (escritor) Djuna Barnes (escritora e jornalista) Roland Barthes (filsofo e ensasta) Michael Bennett (coregrafo)
Sandra Bernhardt (comediante) Elizabeth Bishop (poeta) David Bowie (cantor e compositor) William Burroughs (escritor)
Lord Byron (poeta) John Cage (msico) Jlio Csar (estadista, general e imperador romano) Willa Cather (escritora)
Cazuza (cantor e compositor) Montgomery Cliff (ator) Jean Cocteau (romancista, dramaturgo e poeta) Colette (escritora)
Aaron Copland (compositor) Jos Celso Martinez Corria (diretor e ator) George Cukor (cineasta) Merce Cunningham (coregrafo)
James Dean (ator) Emily Dickinson (poeta) Cssia Eller (cantora) Brian Epstein (empresrio dos Beatles)
Melissa Etheridge (cantora e compositora) Rupert Everett (ator) Laura Finocchiaro (cantora e compositora) Harvey Fierstein (dramaturgo, Errol Flynn (ator)
E.M. Foster (escritor) Michel Foucauld (filsofo) Frederico o Grande (Imperador) Greta Gabro (atriz)
Jean Paul Gautier (estilista) David Geffen (produtor musical) Ellen de Generis (atriz) Jean Genet (escritor e dramaturgo)
Sir John Gielgud (ator) Allen Ginsberg (poeta) Radclyff Hall (escritora) Rock Hudson (ator)
Henry James (escritor) Elton John (cantor e compositor) Frieda Kahlo (pintora) Tony Kushner (dramaturgo)
David LaChapelle (fotgrafo) Luiz Carlos Lacerda (cineasta) k.d. lang (cantora e compositora) Vange Leonel (cantora e compositora)
Leonlson (artista) Frederico Garcia Lorca (poeta) Madame Sat (transformista) Ney Matogrosso (cantor)
Burle Marx (paisagista) W. Somerset Maugham (escritor) George Michael (cantor e compositor) Michelangelo (artista)
Yukio Mishima (escritor) Luiz Mott (escritor e antroplogo) Martina Navratilova (campe de tnis) Florence Nightingale (fundadora da enfermagem moderna)
Georgia O'Keefe (pintora) Sir Lawrence Olivier (ator) Camille Paglia (escritora) Phranc (cantora)
Plato (filsofo) Marcel Proust (escritor) Eleanor Roosevelt (Primeira Dama) RuPaul (cantora)
Renato Russo (cantor e compositor) Safo (poeta) Eugene Sandow (fisiculturista) Franz Schubert (compositor)
Bessie Smith (cantora) Lota de Macedo Soares (urbanista) Scrates (filsofo) Jimmy Sommerville (cantor)
Madame de Stael (escritora) Gertrude Stein (escritor) Peter Tchaikovsky (compositor) Joo Silvrio Trevisan (escritor)
Rudolf Valentino (ator) Gore Vidal (escritor) Leonardo da Vinci (artista) Andy Warhol (pintor)
Walt Whitman (escritor) Oscar Wilde (escritor, poeta e dramaturgo) Tennessee Williams (dramaturgo) Virginia Woolf (escritora)
Wu (Imperador Chins) Ziembinsky (diretor de teatro).



Traduo livre do original "Our Daughters And Sons", elaborado pela PFLAG - Federation of Parents of Lesbians and Gays, a partir de adaptao de Marcelo Cerqueira publicada no site do Grupo Gay da Bahia (www.ggb.org.br)

Nota do tradutor: a deciso de empregar ambos os gneros - que por vezes pode truncar o texto - tem a finalidade de colocar no mesmo patamar homossexuais masculinos e femininos.