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Companheiros trados 36h66

Edson Neves Quaresma (11/12/1936 5/12/1970)

Yoshitane Fugimori (19/5/1944 5/12/1970)

Pela verso oficial, Edson Neves Quaresma, nascido no Rio Grande do Sul, foi morto ao resistir priso, juntamente com Yoshitane Fugimore, na Praa Santa Rita de Cssia, em So Paulo, s 12h do dia 5 de dezembro de 1970. No entanto, apesar de ser um conhecido militante revolucionrio (ex-sargento da Marinha, expulso em 1964, e procurado desde ento), o seu corpo foi enterrado com nome falso e somente deu entrada no IML s 16h daquele dia.

A relatora dos dois casos na Comisso Especial, Suzana Keniger Lisba, explica o contexto em que se deram as mortes, associando-as ao trabalho do agente infiltrado na VPR, cabo Anselmo:

Quaresma era na poca o contato mais permanente de Anselmo. Voltara de Cuba para criar condies para o retorno do amigo. Ocultar sua morte era questo fundamental para o prosseguimento, com tranquilidade, do trabalho de infiltrao. O ex-cabo iniciava, ao que parece, sua atuao no Brasil. Matar Fugimori um dos dirigentes da organizao nascido em Mirandpolis, no Estado de So Paulo, e tcnico em eletrnica representava eliminar um dos empecilhos para que o ex-cabo pudesse, mais facilmente, chegar direo e ao controle da VPR.

A relatora cita uma anotao em ficha encontrada nos arquivos do Dops de So Paulo referindo-se da seguinte forma a Fugimori: executado em 5/12/70.

Ela, contudo, contesta a verso oficial:

Como em tantos outros casos examinados por esta Comisso Especial, Fugimori no morreu executado no tiroteio, conforme atesta a verso oficial, mas sim dentro do rgo de extermnio de presos polticos a Operao Bandeirantes, o que est comprovado pelo laudo do perito Celso Nenev.

Quanto a Quaresma, a relatora cita a requisio de exame tambm encontrada nos arquivos do Dops:

Hoje, por volta das 12h ao ser preso por policiais da Oban e do Dops, resistiu priso, mantendo com os policiais cerrado tiroteio, no transcorrer do qual foi atingido por um tiro e veio a falecer. OBS. Fotografar o corpo de frente e de perfil, bem como tirar cinco jogos de suas impresses.

A relatora comenta:

Tais fotos, at hoje, no foram localizadas. Pergunto: Por qu? Certamente por terem ficado por demais visveis as atrocidades que o levaram morte.

Suzana Keniger Lisba prossegue em seu parecer:

O laudo de necropsia (folhas 27 a 29), assinado pelos conhecidos mdicos-legistas da represso poltica, afirma que (Quaresma) recebeu cinco tiros, sendo quatro na cabea e um pelas costas, na regio dorso-lombar.

Este ltimo no foi fatal e, provavelmente, foi aquele que o imobilizou.

Desses quatro tiros, um deles foi na regio auricular direita. Nenhum tiro em membros superiores e inferiores. praticamente impossvel que, num tiroteio, uma pessoa seja atingida tantas vezes na cabea.

Ou ento, se tivssemos as fotos para exame, como no caso de Fugimori, veramos que Edson Quaresma teria sido baleado queima-roupa ou recebido os tiros depois de ter tido sua garganta esmagada pelas botas de um agente assassino.

Ao quarto quesito, se a morte foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio insidioso ou cruel, a resposta dos mdicos-legistas prejudicado.

Na ficha do IML, a causa mortis assim registrada: ferimento craniano por projteis de arma de fogo, choque traumtico. No verso, com anotao de 14/7/71, a anotao: Env. Cpia p/ II Exrcito Quartel General, at. Of. N 01/71, dat. De 14/7/71. de recebimento, infelizmente, ilegvel.

A relatora afirma:

evidente que o Quartel General do II Exrcito e, portanto, todos os rgos de represso, sabiam quem era o mulato Celso Silva Alves e ocultaram sua morte para proteger seu grande trunfo o ex-cabo Anselmo.

O relatrio da Marinha, elaborado pedido do ministro Maurcio Corra, afirma:

Foi morto ao reagir priso, na Praa Santa Rita de Cssia/SP, com outro companheiro no dia 5/12/70 s 12h. o fato foi divulgado com seu nome falso: Celso Silva Alves.

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Certeza de identidade 1g45w

Na verdade, Quaresma deveria integrar a lista dos desaparecidos polticos, no fosse a certeza da Comisso Nacional de Familiares quanto sua verdadeira identidade poca da morte. Os critrios para elaborao da lista de desaparecidos no obedeceram, como do conhecimento desta Comisso Especial, ao rigor previsto na Lei 9.140/95.

As mortes de Quaresma e Fugimori, ocorridas pouco tempo aps a chegada ao Brasil do ex-cabo Anselmo, certamente, foram decretadas para que no representassem um obstculo para o o de Anselmo ao comando da VPR.

Quaresma e Anselmo eram companheiros de muitos anos. O primeiro foi, inclusive, designado para voltar de Cuba e preparar o retorno ao Brasil do segundo. Foi assim, utilizando sua relao com Quaresma, que Anselmo conseguiu os contatos que lhe possibilitaram chegar a Fugimori e at ao capito Lamarca.

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Suzana Keniger Lisba juntou ao processo as declaraes de Jos Anselmo dos Santos, o ex-cabo Anselmo, localizadas no arquivo do Dops/SP:

Em junho ou julho de 1970, vieram Jos Maria e Quaresma, deviam preparar as condies para receber-nos. Em setembro, deveramos vir eu e Evaldo. Mas Evaldo ficou retido, por um ato indisciplinar que desconheo qual seja. Foi enviado sozinho. Traria uma mensagem cifrada de apresentao para Carlos Lamarca e ele deveria dar-me tarefas para desempenhar, explicar o funcionamento da organizao etc. (...) Cada dia 15, s 15h, e dia 20 s 20h, Quaresma estaria esperando em frente ao cinema Metro. Cheguei ao Brasil dia 15 de setembro de 1970. (...) No dia 15 de setembro, encontrei Quaresma, que me disse que no havia nenhum aparelho, nenhum apoio. (...) Neste tempo, creio que meados de novembro, recebi de Quaresma, com quem me encontrava uma vez por semana, o aviso de que devia seguir viagem para avistar-me com Lamarca. s cinco horas da manh, encontrei-me com Quaresma, na Rua Domingos de Morais, em frente ao cinema San Remo. Fomos para o Jabaquara, onde nos encontramos com Fugimori (...)

Fiquem em contato, uma vez por semana, com Quaresma. ei a datilografar (com uma mquina que me foi dada por Quaresma e que deve estar no escritrio de Ivan (Edgar Duarte), uma semiporttil, sem tampa) o relatrio sobre Cuba (...)

Corria o ms de novembro, quando se deu a morte de Toledo, da ALN, e pelos documentos publicados soubemos que Palhano estava chegando. Efetivamente, Quaresma recebeu-o e fez-me contatar com ele em fins de novembro (...)

Em outro depoimento, este datado de 4 de junho de 1971, Anselmo reafirma:

(...) que chegou ao Brasil em 15 de setembro de 1970, tendo desembarcado no Aeroporto de Campinas. Que foi para So Pedro da Aldeia, tendo em vista que somente no dia 30 de setembro teria ponto com Quaresma em So Paulo, quando encontrou Quaresma (... que Quaresma apresentou-o a Yoshitane Fugimori (...) que em So Paulo ficou em contato com Quaresma e, aps a chegada de Palhano, tambm com este (...).

Em entrevista publicada em Isto, de 28/3/1984, Anselmo informa tambm seus contatos com Quaresma e Fugimori. Perguntado se teria sido o responsvel pela morte dos dois, como muitos crem, afirma:

No, no verdade. Eu tive contato com o Yoshitane Fugimori e com Edson Quaresma, mais com Quaresma. (...)

Perguntado sobre quem teria matado Quaresma e Fugimori, Anselmo responde:

De ler nos jornais, deve ter sido a equipe do Dr. Fleury.

A relatora continua:

Evidentemente, cabo Anselmo no quis assumir sua responsabilidade na morte de um amigo de tantos anos. No havia motivo para que o fizesse, j que nunca se disps a resgatar a verdadeira histria, quando se tornou, mais do que infiltrado, um agente dos rgos de segurana. Mas elimin-lo, ao que parece, foi uma de suas tarefas primeiras, bem como a Jos Maria Ferreira de Arajo, constante da lista oficial de desaparecidos.

Todos os contatos de Anselmo foram premeditadamente assassinados, suas mortes foram cuidadosamente planejadas a fim de no levantar suspeitas e, na maior parte das vezes, culpados foram eleitos para serem os responsveis por essas mortes, at que seu trabalho de infiltrao foi, finalmente, desmascarado, em 1973, quando patrocinou o massacre da Chcara de So Bento.

As reais circunstncias das mortes de Quaresma e Fugimori ficam para um outro momento, j que os principais arquivos da represso ainda no foram abertos. H, certamente, outras fotos, outros fatos elucidativos.

Certo que a verso oficial dos rgos de segurana falsa, contestada pelo depoimento do ex-preso poltico Ivan Seixas, pelo laudo do perito Celso Nenev e pelo traioeiro trabalho de Jos Anselmo dos Santos.

E a relatora d o seu voto:

Yoshitane Fugimori e Edson Quaresma foram mortos sob a responsabilidade do Estado. Quaresma, depois de ferido, teve sua garganta esmagada, e Fugimori, alm de ter sido atingido aps rendido, veio a falecer dentro da Operao Bandeirantes.

Voto pelo enquadramento dos nomes dos dois militantes dentro dos preceitos da Lei 9.140/95.

Os dois casos foram acolhidos pela Comisso Especial: o de Quaresma por 4 x 3, sendo vencidos os votos dos generais Oswaldo Gomes, Paulo Gonet Branca e Joo Grandino Rodas; e o de Fugimori por 6 x 1, tendo general votado mais uma vez pelo indeferimento.

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