Projeto DHnet
Ponto de Cultura
Podcasts
Direitos Humanos
Desejos Humanos
Educao EDH
Cibercidadania
Memria Histrica
Arte e Cultura
Central de Denncias
Banco de Dados
MNDH Brasil
ONGs Direitos Humanos
ABC Militantes DH
Rede Mercosul
Rede Brasil DH
Redes Estaduais
Rede Estadual RN
Mundo Comisses
Brasil Nunca Mais
Brasil Comisses
Estados Comisses
Comits Verdade BR
Comit Verdade RN
Rede Lusfona
Rede Cabo Verde
Rede Guin-Bissau
Rede Moambique

Augustino Pedro Viet 4l202e

Entrevista

Carla Ferreira

O ex-seminarista e atual lder das lutas de defesa dos direitos humanos critica a Igreja institucional, desmascara a Constituinte, apresenta-nos suas inquietaes e prope a revoluo.

A vida militante junto aos refugiados polticos do alm do Prata, as lutas pela Abertura, pela Anistia, pelas Diretas, nas Greves Gerais etc., transformou o interiorano cristo no lder nacional, construtor e herdeiro atual dos movimentos de apoio as lutas dos povos oprimidos, pela terra e contra a violncia. Das Brigadas para a colheita de caf na Nicargua ao apoio ao povo palestino, chileno, paraguaio. Das ocupaes de terra do Bico do Papagaio (PA) Fazenda Anonni (RS), desde o acampamento de Encruzilhada Naralina, s ocupaes dos conjuntos habitacionais em 1987. De Lilian Celiberti e Universindo Dias ao caso Doge e Julio Csar configura-se a histria de lutas dos movimentos de Direitos Humanos que coloca para Augustino a tarefa de continuidade.

Este quartanista de Direito da Unisinos e Presidente do Movimento de Justia e Direitos Humanos (PA), falando com desenvoltura e fumando sem par, ao tratar de poltica e da necessidade de uma soluo revolucionria para a sociedade no deixa de reconhecer-se limitaes e auto atribuir-se tarefas por tratar-se de um ser eminentemente poltico.

Mas a desenvoltura com que fala de assuntos polticos e mesmo de sua insero militante desaparece quando penetramos no plano pessoal, transformando-se numa expresso compenetrada e sucinta. O Tino, como tratado pelos mais prximos, uma espcie de ermito afetivo, com dificuldades para receber e doar afeto, confidencia-nos Plnio Barbosa, seu amigo e companheiro de militncia.

No trabalho junto ao MJDH considerado democrtico e muito bom colega, apesar de desorganizado com a burocracia da casa, pela sua companheira e colega Lurdes Coimbra, a Ude.

O precipcio que separa estas duas condutas, a do plano pblico e privado, tem suas maiores causas na formao de filho de colonos alemes do interior de SC, Monda, que no falava o portugus at os onze anos, e no internato dos padres Jesutas de Florianpolis. Castradora a qualificao atribuda por ele formao que recebeu na famlia e no seminrio Jesuta.

Augustin, entretanto, rompeu nos dois planos de sua vida quando, no final da dcada de setenta, saiu do Estado de Stio que era sua vida no seminrio e veio para Porto Alegre trabalhar com grupos de jovens e combater a ditadura na luta poltica subterrnea que era refugiar os perseguidos polticos do Cone Sul. Inicialmente ele trabalhava como funcionrio do MJDH, que havia sido fundado h pouco por setores de oposio ao regime militar.

Este ano, encerrando os preparativos para assumir definitiva a plenamente, em Braslia, o Movimento Nacional de Defesa dos Direitos Humanos; que dever ter sede prpria em agosto e congrega todas as entidades autnomas de Direitos Humanos do pas, ele tem muitas preocupaes, critica a Constituinte, fala dos mtodos de represso atuais e das diferenas do trabalho poltico desenvolvido durante a ditadura e agora na Nova Repblica.

Augustino, qual o balano que fazes do processo constituinte, agora que se aproxima a promulgao da nova Carta?

A nova carta ilegtima. Porque o processo de elaborao desde o incio, quando a sociedade reivindicava uma Constituinte livre, soberana e exclusiva e lhe foi negada, foi ilegtima. Depois 105 emendas populares, em milhes de s, foram desprezadas, pois delas somente quatro foram consideradas. Eu, quando estive nas comisses do Congresso, vi enormes pilhas de sugestes individuais de pessoas que queriam participar, e nada foi feito nesse sentido. A Constituinte foi aparelhada pelos grupos econmicos, financeiros e latifundirios. Por toda esta excluso ela s pode ser ilegtima.

E voc esperava um resultado diferente do alcanado?

Sabamos que o poder econmico iria se organizar. Realmente no podamos esperar outra coisa.

A Nova Repblica apresenta exigncias diferentes das da ditadura no trabalho poltico que desenvolves?

Sim, num todo. Comecei a militar trabalhando com pessoas diretamente atingidas pela represso militar. Eram refugiados Argentinos, Uruguaios, Chilenos, geralmente lideranas sindicais e partidrias, que se fiam uma espcie de represso que chamamos de seletiva, dirigida aos lderes dos movimentos. Ajudei a tomar depoimento de mais de 400 pessoas. A caracterstica principal deste perodo era a constante ameaa a integridade fsica que soframos por parte dos rgos de represso brasileiros. O que muda de l para c, com a abertura democrtica, que a represso se generaliza. Hoje dirigida a sociedade em geral.

Como assim?

Junto a populao de baixa renda utiliza-se a tortura e todos os seus mtodos, mesmo em crimes comuns. Em relao aos que se rebelam contra a ordem utiliza-se a prpria lei. Raramente encontra-se hoje um lder sindical ou do movimento popular que no esteja sendo processado.

E por que fizeste esta opo de vida?

Primeiramente o que me motivou para a militncia foi uma conscincia de dever religioso, de carter humanista. Hoje no ito mais por motivao puramente humanista. Tenho conscincia que minha militncia deve ser dirigida de modo a contribuir ao processo revolucionrio. A estratgia coloca para hoje a ttica de acmulo de foras.

A tua atividade informada pelo Marxismo?

Por tudo o que permanece atual do Marxismo, pelo constante resgate histrico das lutas das classes trabalhadoras, dos processos revolucionrios e pelo debate com foras polticas, como partidos e grupos.

Voc filiado a algum partido?

Sim, ao Partido dos Trabalhadores.

Voc deve conhecer muita gente. E amigos, voc tem muitos?

No, meu crculo no muito largo. bastante . Refiro-me a pessoas as quais partilho minhas intimidades, problemas pessoais. (Responde meio a contragosto e tentando disfarar).

Alguns amigos pessoais seus queixam-se de que voc muito introvertido. Voc tem alguma explicao especial para ser assim?

A prpria formao que recebi. Tive uma educao de linha muito moralista e repressora. Alm da famlia vivi em regime de internato dos padres Jesutas, que podem ter uma orientao educacional formal bastante aprofundada no que lhes interessa, mas no plano pessoal completamente castradora.

Qual a tua relao atual com a Igreja?

Acho que consegui desmoronar todos os dogmas e heresias. Tudo o que era sagrado para uma vida de f cega e sacramental que nos foi incutida. Hoje no mantenho nenhuma prtica religiosa. Agora, acho que existem importantes internos a Igreja, que fora do campo institucional, junto a sociedade, pretende levar um trabalho transformador. Ainda que no concorde com sua viso considero-os muito importantes.

Isto implica sua relao com Frei Leonardo Boff e a atividade de Secretrio Executivo do Movimento Nacional de Defesa dos Direitos Humanos?

Relaciono-me com Boff assim como com outros da linha da Teologia da Libertao, mas assumir o MJDH significa um acmulo poltico. Veja, estou ligado ao MJDH h dez anos. Ajudei a constru-lo e o fiz com muito carinho. importante que depositemos efetivamente no que construmos. Deix-lo, entretanto, um verdadeiro treino de desapego. O Movimento Nacional, ainda que uma extenso do trabalho que desenvolve aqui, aponta perspectivas de auto-formao e qualificao militante ainda maiores. Isto me gera anseios, medo at. Mas esta uma opo consciente.

O que importante para voc neste momento?

Buscar uma reciclagem. H dez anos vivo num praticismo que exige de mim uma parada para uma reciclagem, que vai desde o plano pessoal at o intelectual.

Voc gostaria de registrar algo mais?

... Uma preocupao. O momento atual no aponta sada a curto prazo para a sociedade e isso um pouco angustiante. Precisamos trabalhar muito para conseguir apontar caminhos capazes de acelerar este processo de transformao.

Desde 1995 dhnet-br.diariodetocantins.com Copyleft - Telefones: 055 84 3211.5428 e 9977.8702 WhatsApp
Skype:direitoshumanos Email: [email protected] Facebook: DHnetDh
Busca DHnet Google
Not
Loja DHnet
DHnet 18 anos - 1995-2013
Linha do Tempo
Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
Sistema Nacional de Direitos Humanos
Sistemas Estaduais de Direitos Humanos
Sistemas Municipais de Direitos Humanos
Hist
MNDH
Militantes Brasileiros de Direitos Humanos
Projeto Brasil Nunca Mais
Direito a Mem
Banco de Dados  Base de Dados Direitos Humanos
Tecido Cultural Ponto de Cultura Rio Grande do Norte
1935 Multim