ABC
Antecedentes Histricos dos Direitos Humanos
Mundo
Marcos e Razes Histricas
dos Direitos Humanos DHnet 5t1l3c
As Lutas de Classes em Frana de
1848 a 1850
Karl
Marx, 1 de Novembro de 1850
Introduo
de Friedrich Engels edio
de 1895[N88] 1am40
Primeira Edio: Publicado
(com cortes) na revista Die Neue Zeit,
Bd. 2, N. 27 e 28, 1894-1895, e no livro
de Karl Marx Die Klassenkmpfe in Frankreich
1848 bis 1850, Berlin 1895.
Esta edio: Publicado
segundo o texto completo das provas tipogrficas
do texto original, cotejado com o manuscrito.
Traduzido do alemo.
O
trabalho que aqui reeditamos foi a primeira tentativa
de Marx para explicar um fragmento da histria
contempornea por meio do seu modo materialista
de [a] conceber a partir da situao
econmica dada. No Manifesto
Comunista a teoria tinha sido aplicada
em linhas muito gerais a toda a histria
moderna. Nos artigos de Marx e meus da Neue
Rheinische Zeitung[N71]
fora a referida teoria aplicada constantemente
para a interpretao de acontecimentos
polticos do momento. Aqui pelo contrrio,
tratou-se de demonstrar a conexo causal
interna de acontecimentos ocorridos ao longo de
um desenvolvimento de vrios anos to
crtico quanto tpico para toda
a Europa, de reconduzir, portanto, no sentido
do autor, os acontecimentos polticos a
efeitos de causas em ltima instncia
econmicas.
Na apreciao de acontecimentos
e de sries de acontecimentos da histria
do dia-a-dia nunca estaremos em condies
de recuar at s ltimas
causas econmicas. Mesmo ainda hoje, quando
a respectiva imprensa especializada fornece material
to abundante, seria impossvel,
at na Inglaterra, seguir o curso da indstria
e do comrcio no mercado mundial e as mudanas
que dia aps dia so introduzidas
nos mtodos de produo,
de modo a que, em qualquer momento, se possa fazer
o balano geral destes factores multiplamente
imbricados e em permanente mudana, factores
dos quais os mais importantes actuam na maioria
dos casos durante muito tempo s ocultas
antes de, repentinamente, se fazerem valer com
violncia superfcie. A
clara viso de conjunto sobre a histria
econmica de uma dado perodo nunca
lhe simultnea, s posteriormente
se conquista, aps realizados a recolha
e o exame do material. A estatstica
aqui um meio auxiliar necessrio, e segue
sempre atrs coxeando. No respeitante
histria contempornea corrente seremos
por isso demasiadas vezes obrigados a tratar esse
factor, o mais decisivo de todos, como constante,
a situao econmica encontrada
no comeo do perodo em causa como
dada e imutvel para todo o perodo,
ou apenas a tomar em considerao
aquelas transformaes dessa situao
que derivam dos prprios acontecimentos
manifestamente patentes e que, por conseguinte,
igualmente se manifestam com clareza
luz do dia. Por tal motivo, o mtodo materialista
ter demasiadas vezes de se limitar a reduzir
os conflitos polticos a lutas de interesses
das classes sociais e fraces de
classes presentes, dadas pelo desenvolvimento
econmico, e a demonstrar que cada um dos
partidos polticos a expresso
poltica mais ou menos adequada dessas
mesmas classes ou fraces de classes.
evidente que este inevitvel descurar das
transformaes simultneas
da situao econmica, a
verdadeira base de todos os processos a examinar,
tem de ser uma fonte de erros. Mas todas as condies
de uma exposio de conjunto da
histria do dia-a-dia contm em si
inevitavelmente fontes de erros; o que, porm,
no impede ningum de escrever a
histria do dia-a-dia.
Quando Marx empreendeu este trabalho, a fonte
de erros mencionada era ainda mais inevitvel.
Durante o tempo da Revoluo de
1848/49 era puramente impossvel seguir
as alteraes econmicas
que simultaneamente se produziam, ou at
mesmo manter delas uma viso de conjunto.
O mesmo aconteceu durante os primeiros meses de
exlio em Londres, no Outono e no Inverno
de 1849/50. Mas foi precisamente nessa altura
que Marx iniciou o trabalho. E, apesar deste desfavor
das circunstncias, o conhecimento exacto
de que dispunha, tanto da situao
econmica da Frana antes da revoluo
de Fevereiro como da histria poltica
deste pas a partir de ento, possibilitou-lhe
fazer uma exposio dos acontecimentos
que, de um modo desde ento inalcanado,
revela a conexo interna existente entre
eles e que, alm disso, resistiu brilhantemente
prova a que, por duas vezes, o prprio
Marx a submeteu.
A primeira prova ocorreu quando, a partir da Primavera
de 1850, Marx voltou a ter vagar para os estudos
econmicos e empreendeu, em primeiro lugar,
a histria econmica dos ltimos
dez anos. Por este meio tornou-se-lhe completamente
claro a partir dos prprios factos o que
at ento havia concludo
meio aprioristicamente a partir de material cheio
de lacunas: que a crise do comrcio mundial
de 1847 fora a verdadeira me das revolues
de Fevereiro e Maro, e que a prosperidade
industrial que, pouco a pouco, voltara a manifestar-se
desde meados de 1848 e atingira o seu apogeu em
1849 e 1850, tinha sido a fora vivificante
da de novo reforada reaco
europeia. E isso foi decisivo. Enquanto nos trs
primeiros artigos(1*)
(aparecidos nos nmeros de Janeiro, Fevereiro
e Maro da Neue Rheinische Zeitung.
Politisch-konomische Revue[N89],
Hamburg 1850) pera ainda a expectativa de
um prximo novo ascenso da energia revolucionria,
no ltimo volume duplo (Maio a Outubro)
publicado no Outono de 1850 o quadro histrico
que Marx e eu demos rompe de uma vez para sempre
com essas iluses: "Uma nova revoluo
s possvel na sequncia
de uma nova crise. , porm, to
certa como esta."(2*)
Isto foi tambm a nica alterao
essencial que foi necessrio introduzir.
Na interpretao dos acontecimentos
dada nos captulos anteriores, nas conexes
causais a estabelecidas, no havia
absolutamente nada a alterar, conforme demonstra
o prosseguimento da narrativa de 10 de Maro
at ao Outono de 1850 contida nesse mesmo
quadro. Por conseguinte, introduzi essa continuao
na presente reedio como captulo
quarto.
A segunda prova foi ainda mais difcil.
Logo a seguir ao golpe de Estado de Louis
Bonaparte de 2 de Dezembro de 1851 Marx refundiu
a histria da Frana desde Fevereiro
de 1848 at esse acontecimento que encerrava
provisoriamente o perodo da revoluo
(O 18 de Brumrio de Louis Bonaparte, terceira
edio, Hamburg, Meissner 1885(3*)).
Nesta brochura o perodo exposto no nosso
escrito de novo tratado, embora mais
resumidamente. Compare-se esta segunda exposio,
luz do acontecimento decisivo que havia
de dar-se um ano mais tarde, com a nossa e verificar-se-
que o autor muito pouco teve de alterar.
O que d ainda ao nosso escrito um significado
muito especial a circunstncia
de que ele que, pela primeira vez, enuncia
a frmula na qual a unanimidade geral dos
partidos operrios de todos os pases
do mundo condensa em breves palavras a sua reivindicao
da nova configurao econmica:
a apropriao dos meios de produo
pela sociedade. No segundo captulo, a
propsito do "direito ao trabalho",
que considerado "a primeira frmula
canhestra em que se condensavam as exigncias
revolucionrias do proletariado",
afirma-se: "...mas por detrs do direito
ao trabalho est o poder sobre o capital,
por detrs do poder sobre o capital a
apropriao dos meios de produo,
a sua submisso classe operria
associada, portanto a abolio [Aufhebung]
do trabalho assalariado e do capital e da sua
relao recproca."(4*)
Eis aqui, portanto — pela
primeira vez — formulado o princpio
por meio do qual o socialismo operrio
moderno se distingue claramente tanto de todos
os diversos matizes do socialismo feudal, burgus,
pequeno-burgus, etc, como tambm
da confusa comunidade de bens do comunismo utpico
e do comunismo operrio espontneo.
Se, mais tarde, Marx alargou a frmula
apropriao tambm
dos meios de troca, este alargamento, que de resto
depois do Manifesto
Comunista se entendia por si, enunciou
apenas um corolrio da tese principal.
Recentemente algumas doutas pessoas em Inglaterra
acrescentaram que os "meios de repartio"
deviam ser tambm transferidos para a sociedade.
Seria, contudo, difcil a esses senhores
dizer-nos quais os meios de repartio
econmicos diferentes dos meios de produo
e troca; a no ser que por eles se entenda
os meios polticos de repartio:
os impostos, a assistncia pobreza,
incluindo a floresta da Saxnia[N90]
e outras doaes.
Mas, em primeiro lugar, estes meios de repartio
j esto hoje em dia em poder da
colectividade, seja ela o Estado ou o municpio,
e, em segundo lugar, o que ns queremos
precisamente aboli-los.
*** 5n5y3b
Quando a revoluo de Fevereiro
rebentou, todos ns, no respeitante s
nossas representaes das condies
e do curso dos movimentos revolucionrios,
nos encontrvamos sob o fascnio
da experincia histrica anterior,
nomeadamente a da Frana. E era precisamente
desta experincia, que tinha dominado toda
a histria europeia desde 1789, que de
novo partia o sinal para a revoluo
geral. Era, portanto, bvio e inevitvel
que as nossas ideias sobre a natureza e o curso
da revoluo "social"
proclamada em Paris em Fevereiro de 1848, a revoluo
do proletariado, estivessem fortemente tingidas
pelas recordaes dos modelos de
1789-1830. E, finalmente, quando o levantamento
de Paris encontrou o seu eco nas sublevaes
vitoriosas de Viena, Milo e Berlim; quando
toda a Europa at fronteira russa
era arrastada para o movimento; quando em Junho
se travou em Paris a primeira grande batalha pela
dominao entre o proletariado e
a burguesia; quando a prpria vitria
da sua classe abalou de tal modo a burguesia de
todos os pases que ela voltou a refugiar-se
nos braos da reaco monrquico-feudal
que acabava de ser derrubada — no
podia haver para ns qualquer dvida,
dadas as circunstncias de ento,
que a grande luta decisiva havia comeado,
que tinha de ser travada num nico perodo
revolucionrio longo e cheio de vicissitudes,
mas que s podia terminar com a vitria
definitiva do proletariado.
Depois das derrotas de 1849, de modo nenhum partilhmos
as iluses da democracia vulgar agrupada
in partibus[N91]
em torno dos futuros governos
provisrios. Aquela contava com uma vitria
prxima e de uma vez por todas decisiva
do "povo" sobre os "opressores".
Ns, com uma longa luta, depois de eliminados
os "opressores", entre os elementos
opostos que se ocultavam precisamente no seio
desse mesmo "povo". A democracia vulgar
esperava de hoje para amanh a renovada
ecloso. Ns j no Outono
de 1850 declarvamos que, pelo menos, a
primeira fase do perodo revolucionrio
j estava concluda e que nada havia
a esperar at irrupo
de uma nova crise econmica mundial. Por
essa razo fomos tambm proscritos
como traidores revoluo
pelas mesmas pessoas que, depois, quase sem excepo,
fizeram as pazes com Bismarck
— na medida em que Bismarck
achou que valia a pena.
Porm, a histria tambm
no nos deu razo e demonstrou que
os nossos pontos de vista dessa altura eram uma
iluso. E foi ainda mais alm: no
s destruiu o nosso erro de ento
como revolucionou totalmente as condies
em que o proletariado tem de lutar. O modo de
luta de 1848 est hoje ultraado em
todos os aspectos. E este um ponto que
merece ser examinado mais de perto nesta oportunidade.
Todas as revolues at hoje
resultaram no desalojamento de uma determinada
dominao de classe por outra; todavia,
todas as classes que at agora dominaram
eram pequenas minorias face massa popular
dominada. Uma minoria dominante era assim derrubada,
uma outra minoria empunhava no seu lugar o leme
do Estado e modelava as instituies
estatais segundo os seus interesses. Esta ltima
era sempre o grupo minoritrio capacitado
e vocacionado para a dominao pelo
nvel do desenvolvimento econmico,
e precisamente por isso, e s por isso,
acontecia que na transformao [Umwlzung]
a maioria dominada ou participava a favor daquele
ou aceitava tranquilamente a transformao.
Mas, se abstrairmos do contedo concreto
de cada caso, a forma comum de todas as revolues
era elas serem revolues de minorias.
Mesmo quando a maioria cooperava — cientemente
ou no — isso acontecia apenas ao
servio de uma minoria. Deste modo porm,
ou tambm pela atitude iva e sem insistncia
da maioria, essa minoria alcanava a aparncia
de ser a representante de todo o povo.
Em regra, depois do primeiro grande xito
a minoria vitoriosa dividia-se. Uma parte estava
satisfeita com o alcanado; a outra queria
ir ainda mais alm, punha novas exigncias
que, pelo menos em parte, iam tambm no
interesse real ou aparente da grande multido
do povo. Essas exigncias mais radicais
eram tambm realizadas em casos isolados.
Muitas vezes, porm, s o eram momentaneamente,
o partido mais moderado alcanava de novo
a supremacia e aquilo que ultimamente fora conseguido
voltava de novo a perder-se no todo ou em parte;
ento, os vencidos declaravam-se trados
ou atiravam para o acaso as culpas da derrota.
Na realidade, porm, a coisa o mais das
vezes ava-se assim: as conquistas da primeira
vitria s eram asseguradas pela
segunda vitria do partido mais radical;
uma vez alcanado isto, e com isto o momentaneamente
necessrio, os radicais e os seus xitos
desapareciam de novo da cena.
Todas as revolues dos tempos modernos,
a comear pela grande revoluo
inglesa do sculo dezassete, mostraram
estes traos que pareciam inseparveis
de toda a luta revolucionria. Pareciam
tambm aplicveis s lutas
do proletariado pela sua emancipao.
Tanto mais aplicveis quanto certo
que precisamente em 1848 se podiam contar as pessoas
que apenas em alguma medida entendiam em que direco
se devia procurar essa emancipao.
Mesmo em Paris, as prprias massas proletrias
desconheciam absolutamente qual o caminho a tomar
depois da vitria. E, contudo, o movimento
existia, instintivo, espontneo, irreprimvel.
No seria esta precisamente a situao
em que uma revoluo tinha de triunfar,
dirigida, na verdade, por uma minoria, mas desta
vez no no interesse da minoria, mas no
interesse mais verdadeiro da maioria? Se em todos
os perodos revolucionrios mais
longos as grandes massas populares podiam ser
conquistadas com facilidade por meras imposturas
plausveis das minorias que empurram para
diante, como haviam elas de ser menos veis
a ideias que eram o reflexo mais prprio
da sua situao econmica,
que outra coisa no eram seno a
expresso clara e intendvel das
suas necessidades, necessidades que elas prprias
ainda no entendiam e que apenas comeavam
a sentir de modo indefinido? Na verdade, esta
disposio revolucionria
das massas dera quase sempre lugar, e na maior
parte das vezes muito rapidamente, a um cansao
ou mesmo a uma viragem em sentido contrrio,
logo que a iluso se esfumava e o desencanto
surgia. Aqui, porm, no se tratava
de imposturas, mas sim da realizao
dos interesses mais verdadeiros da prpria
grande maioria, interesses que, anteriormente,
de modo nenhum estavam claros para essa grande
maioria, mas que em breve haviam de ficar suficientemente
claros para ela no curso da realizao
prtica, por meio de evidncia convincente.
E se, como se demonstra no terceiro artigo de
Marx, na Primavera de 1850, o desenvolvimento
da repblica burguesa, surgida da revoluo
"social" de 1848, concentrara a dominao
efectiva nas mos da grande burguesia —
que alm do mais tinha sentimentos monrquicos
—, e, em contrapartida, agrupara em torno
do proletariado todas as outras classes da sociedade,
tanto camponeses como pequenos burgueses, de tal
modo que, durante e a seguir vitria
comum, no tinham de ser elas o factor
decisivo mas sim o proletariado que aprendera
com a experincia — no estariam
ento dadas todas as perspectivas para
a transformao da revoluo
da minoria na revoluo da maioria?
A ns e a todos quantos pensvamos
de modo semelhante a histria no
deu razo. Mostrou claramente que nessa
altura o nvel do desenvolvimento econmico
de modo algum estava amadurecido para a eliminao
da produo capitalista. Demonstrou
isto por meio da revoluo econmica
que alastrava por todo o continente desde 1848
e fizera a grande indstria ganhar pela
primeira vez foros de cidadania em Frana,
na ustria, na Hungria, na Polnia
e ultimamente na Rssia, e, alm
disso, tornara a Alemanha num pas industrial
de primeira categoria. E tudo isto sobre fundamentos
capitalistas que, em 1848, ainda tinham grande
capacidade de expanso. Mas foi precisamente
esta revoluo industrial que, pela
primeira vez, por toda a parte, trouxe luz s
relaes entre as classes. Foi ela
que eliminou uma quantidade de formas intermdias
que provinham do perodo manufactureiro
e, na Europa Oriental, mesmo do artesanato corporativo,
e que criou uma verdadeira burguesia e um verdadeiro
proletariado da grande indstria ao mesmo
tempo que os fazia ar ao primeiro plano do
desenvolvimento social. E isto que leva
a luta destas duas grandes classes que, em 1848,
fora da Inglaterra se limitava a Paris e, no mximo,
a alguns grandes centros industriais, a estender-se
por toda a Europa e a atingir uma intensidade
ainda impensvel em 1848. Nessa altura,
os numerosos e confusos evangelhos das diferentes
seitas com as suas panaceias; hoje, uma
s teoria universalmente reconhecida, transparentemente
clara, a teoria de Marx, que formula com preciso
os fins ltimos da luta. Nessa altura,
as massas separadas e distintas por localidade
e nacionalidade, ligadas nicamente pelo
sofrimento comum, no desenvolvidas, oscilando
perplexas entre o entusiasmo e o desespero; hoje
um nico grande exrcito
internacional de socialistas, avanando
sem cessar, crescendo dia a dia em nmero,
organizao, disciplina, discernimento
e certeza na vitria. Mas o facto de que
mesmo este poderoso exrcito do proletariado
no tenha ainda alcanado o objectivo,
esteja ainda longe de alcanar a vitria
com um nico e grande golpe, se
veja obrigado a progredir lentamente de posio
para posio, numa luta dura e tenaz,
demonstra de uma vez para sempre como em 1848
era impossvel conseguir-se a transformao
social por meio de um simples ataque de surpresa.
Uma burguesia dividida em dois sectores dinstico-monrquicos[N92],
mas exigindo acima de tudo sossego e segurana
para as suas transaces financeiras;
um proletariado que se lhe opunha e que, embora
vencido, a ameaava e concitava em torno
de si um nmero cada vez maior de pequenos
burgueses e de camponeses; a contnua ameaa
de uma exploso violenta que, apesar de
tudo, no oferecia qualquer perspectiva
de uma soluo definitiva —
eis, pois, a situao que vinha
mesmo a calhar para o golpe de Estado de Louis
Bonaparte, o terceiro e pseudo-democrtico
pretendente. Assim, este, no dia 2 de Dezembro
de 1851, servindo-se do exrcito, ps
fim tensa situao e assegurou
Europa a tranquilidade interna para,
em troca, lhe oferecer uma nova era de guerras[N93].
O perodo das revolues
a partir de baixo estava por agora terminado;
seguiu-se-lhe um perodo de revolues
a partir de cima.
O revs imperialista(5*)
de 1851 foi mais uma prova da imaturidade das
aspiraes proletrias desse
tempo. Mas esse mesmo revs iria criar
as condies em que elas teriam
de amadurecer. O sossego interno assegurou o pleno
desenvolvimento do novo ascenso industrial; a
necessidade de dar uma ocupao
ao exrcito e de desviar as correntes revolucionrias
para o exterior deu origem s guerras em
que Bonaparte,
sob o pretexto de fazer valer o "princpio
da nacionalidade"[N94]
procurou proceder a anexaes em
favor da Frana. O seu imitador Bismarck
adoptou essa mesma poltica para a Prssia.
Fez o seu golpe de Estado, a sua revoluo
a partir de cima em 1866 contra a Confederao
Germnica[N95]
e a ustria, e no menos contra
a Konfliktskammer(6*)
da Prssia. Porm, a Europa era
demasiado pequena para dois Bonapartes e, assim,
quis a ironia da histria que Bismarck
derrubasse Bonaparte
e que o rei Guilherme
da Prssia instaurasse no s
o Imprio pequeno-alemo[N96]
como tambm a Repblica sa.
Isto teve como resultado geral na Europa, contudo,
a autonomia e a unificao interna
das grandes naes, com excepo
da Polnia. verdade que isto se
deu no interior de limites relativamente modestos,
embora fossem, no entanto, suficientemente vastos
para que o processo de desenvolvimento da classe
operria j no encontrasse
nas complicaes nacionais um estorvo
essencial. Os coveiros da revoluo
de 1848 aram a seus executores testamentrios.
E ao lado deles erguia-se j ameaador
o herdeiro de 1848, o proletariado, na Internacional.
Depois da guerra de 1870/71 Bonaparte desaparece
de cena e fica completa a misso de Bismarck,
podendo este agora regressar ao seu lugar de vulgar
Junker[N61].
Todavia a Comuna
de Paris que encerra este perodo.
A prfida tentativa de Thiers
de roubar Guarda Nacional[N97]
de Paris os seus canhes deu origem a uma
sublevao vitoriosa. Mais uma vez
se provava que em Paris j no era
possvel outra revoluo
que no proletria. Depois da vitria,
o poder caiu por si mesmo, sem discusso,
nas mos do proletariado. E, de novo se
mostrou como era ainda ento impossvel,
vinte anos depois desse tempo descrito na nossa
obra, esta dominao da classe operria.
Por um lado, a Frana deixou Paris entregue
a si mesma e observou como ela sangrava sob as
balas de Mac-Mahon.
Por outro lado, a Comuna
consumia-se na luta estril dos dois partidos
que a dividiam: o dos blanquistas
(maioria) e o dos proudhonianos
(minoria), no sabendo nenhum deles o que
devia fazer. E, assim, a vitria dada de
presente em 1871 foi to estril
quanto o ataque de surpresa de 1848.
Havia quem acreditasse que, com a Comuna
de Paris, se enterrara definitivamente o proletariado
combativo. Contudo, bem pelo contrrio,
a partir da Comuna
e da guerra franco-alem que ele conhece
o seu mais poderoso ascenso. A completa revoluo
em toda a arte da guerra levada a cabo pela incorporao
de toda a populao capaz de pegar
em armas em exrcitos cujos efectivos s
por milhes se podiam contar e, bem assim,
as armas de fogo, os projcteis e os explosivos
de uma potncia at ento
inaudita, pam por um lado bruscamente termo
s guerras do perodo bonapartista
e asseguraram um desenvolvimento industrial pacfico
ao tornar impossvel qualquer outra guerra
que no fosse uma guerra mundial de inaudita
crueldade e de desfecho absolutamente imprevisvel.
Por outro lado, provocaram um aumento em progresso
geomtrica das despesas com o exrcito
fazendo com que os impostos atingissem um nvel
exorbitante e que as classes mais pobres do povo
assem para os braos do socialismo.
A anexao da Alscia-Lorena,
causa prxima da louca concorrncia
em matria de armamentos, poderia atirar
chauvinisticamente a burguesia sa e a alem
uma contra a outra; todavia, para os operrios
de ambos os pases ela constituiu um novo
lao de unio. E o aniversrio
da Comuna
de Paris foi o primeiro dia de festa universal
de todo o proletariado.
Conforme Marx tinha previsto, a guerra de 1870/71
e a derrota da Comuna
deslocaram por momentos o centro de gravidade
do movimento operrio europeu da Frana
para a Alemanha. Em Frana, claro
que eram necessrios vrios anos
para que se recuperasse da sangria de Maio de
1871. Na Alemanha, pelo contrrio, onde
a indstria se desenvolvia rapidamente
como uma planta de estufa devido alm do
mais aos abenoados milhares de milhes
ses[N98],
a social-democracia crescia ainda muito mais rpida
e persistentemente. Graas ao discernimento
com que os operrios alemes utilizaram
o sufrgio universal introduzido em 1866,
o crescimento assombroso do partido surge abertamente
aos olhos de todo o mundo em nmeros indiscutveis.
Em 1871, 102 000; em 1874, 352 000; em 1877, 493
000 votos sociais-democratas. Seguiu-se o reconhecimento
deste progresso por parte das altas esferas do
poder na forma da lei anti-socialista[N99].
Como consequncia, o partido ficou momentaneamente
fragmentado e o nmero de votos baixou
em 1881 para 312 000. Todavia, isso depressa foi
superado. Assim, sob presso da lei de
excepo, sem imprensa, sem organizao
exterior, sem direito de associao
e de reunio, comeou um perodo
de rpida expanso: em 1884, 550
000; em 1887, 763 000; em 1890, 1 427 000. E a
ficou paralisada a mo do Estado. A lei
anti-socialista desapareceu, o nmero de
votos socialistas aumentou para 1 787 000, mais
de um quarto do total de votos expressos. O governo
e as classes dominantes tinham esgotado todos
os seus meios — sem proveito, sem finalidade,
sem xito. As provas palpveis da
sua impotncia, que as autoridades, desde
os vigilantes nocturnos at ao Chanceler
do Reich, tiveram que engolir — e isto da
parte dos operrios desprezados! —,
estas provas contavam-se aos milhes. O
Estado gastara todo o seu latim, os trabalhadores
comeavam agora a fazer ouvir o seu.
Deste modo, os operrios alemes
tinham prestado um segundo grande servio
sua causa, alm do primeiro que
residia na sua simples existncia como Partido
Socialista, o partido mais forte, mais disciplinado
e que mais rapidamente crescia. Tinham fornecido
aos seus camaradas de todos os pases uma
nova arma, uma das mais cortantes, mostrando-lhes
como se utiliza o sufrgio universal.
O sufrgio universal existia em Frana
h j muito tempo, mas tinha-se
desacreditado devido ao emprego abusivo que o
governo bonapartista fizera dele. Depois da Comuna
no havia partido operrio que o
utilizasse. Tambm em Espanha ele existia
desde a Repblica, mas em Espanha a absteno
fora sempre a regra de todos os partidos srios
da oposio. Tambm na Sua
as experincias com o sufrgio universal
no eram de modo algum encorajadoras para
um partido operrio. Os operrios
revolucionrios dos pases latinos
tinham-se habituado a ver no sufrgio universal
uma ratoeira, um instrumento de logro utilizado
pelo governo. Na Alemanha, porm, as coisas
eram diferentes. J o Manifesto
Comunista tinha proclamado a luta pelo
direito de voto, pela democracia, uma das primeiras
e mais importantes tarefas do proletariado militante,
e Lassalle
retomara este ponto. Quando Bismarck
se viu obrigado a introduzir o direito de voto[N100]
como nico meio de interessar
as massas populares pelos seus planos, os nossos
operrios tomaram imediatamente a coisa
a srio e enviaram August
Bebel para o primeiro Reichstag Constituinte.
E, desde esse dia, tm utilizado o direito
de voto de um modo que lhes tem sido til
de mil maneiras e servido de modelo aos operrios
de todos os pases. Para utilizar as palavras
do programa marxista francs, transformaram
o direito de voto, de moyen de duperie qu'il
a t jusquici, en instrument d'mancipation
— de um meio de logro que tinha sido at
aqui, em instrumento de emancipao[N101].
E se o sufrgio universal no tivesse
oferecido qualquer outro ganho alm de
nos permitir, de trs em trs anos,
contar quantos somos; de, pelo aumento do nmero
de votos inesperadamente rpido e regularmente
constatado, aumentar em igual medida a certeza
da vitria dos operrios e o pavor
dos seus adversrios, tornando-se assim
no nosso melhor meio de propaganda; a de nos informar
com preciso sobre as nossas prprias
foras assim como sobre as de todos os
partidos adversrios e, desse modo, nos
fornecer uma medida sem paralelo para as propores
da nossa aco e nos podermos precaver
contra a timidez e a temeridade inoportunas; se
fosse esta a nica vantagem do sufrgio
universal isso j era mais que suficiente.
Mas tem muitas outras. Na agitao
da campanha eleitoral, forneceu-nos um meio mpar
de entrarmos em o com as massas populares
onde elas ainda se encontram distantes de ns
e de obrigar todos os partidos a defender perante
todo o povo as suas concepes e
aces face aos nossos ataques;
alm disso, abriu aos nossos representantes
uma tribuna no Reichstag, de onde podiam
dirigir-se aos seus adversrios no Parlamento
e s massas fora dele com uma autoridade
e uma liberdade totalmente diferentes das que
se tem na imprensa e nos comcios. De que
serviu ao governo e burguesia a sua lei
anti-socialista, se a agitao durante
a campanha eleitoral e os discursos socialistas
no Reichstag nela abriam brechas continuamente?
Com esta utilizao vitoriosa do
sufrgio universal entrara em aco
um modo de luta totalmente novo do proletariado,
modo de luta esse que rapidamente se desenvolveu.
Viu-se que as instituies estatais
em que a dominao da burguesia
se organiza ainda oferecem mais possibilidades
atravs das quais a classe operria
pode lutar contra essas mesmas instituies
estatais. Assim, participou-se nas eleies
para as Dietas provinciais, para os conselhos
municipais, para os tribunais de artesos,
disputou-se burguesia cada lugar quando
para o preencher se fazia ouvir uma parte suficiente
do proletariado. E, desse modo, aconteceu que
tanto a burguesia como o governo vieram a ter
mais medo da aco legal do que
da ilegal do partido operrio, a recear
mais os xitos eleitorais do que os da rebelio.
De facto, tambm aqui as condies
de luta se tinham alterado essencialmente. A rebelio
de velho estilo, a luta de ruas com barricadas,
que at 1848 tinha sido decisiva em toda
a parte, tornou-se consideravelmente antiquada.
Mas no tenhamos iluses: uma efectiva
vitria da rebelio sobre a tropa
na luta de ruas, uma vitria como a que
um exrcito obtm sobre outro, s
muito raramente ocorre. Mas os insurrectos tambm
raramente a pretendiam. Para eles tratava-se apenas
de desgastar as tropas por meio de influncias
morais que na luta entre os exrcitos de
dois pases em guerra ou no entram
em jogo ou o fazem apenas num grau muito reduzido.
Se isso resulta, a tropa recusa-se a obedecer
ou os comandantes perdem a cabea e a revolta
vence. Se isso no resulta, mesmo quando
a tropa est em desvantagem numrica,
a superioridade do melhor equipamento e instruo,
da unidade de direco, da utilizao
planeada das foras armadas e da disciplina,
afirma-se como factor decisivo. O mximo
que uma insurreio pode alcanar
numa aco verdadeiramente tctica
o levantamento e defesa de uma s
barricada de acordo com as regras da arte. Apoio
mtuo, constituio e emprego
de reservas, numa palavra, a cooperao
e ligao dos diferentes destacamentos
que so indispensveis para a defesa
de um bairro, para j no falar
em toda uma grande cidade, tornam-se extremamente
deficientes e na maior parte dos casos no
se conseguem alcanar. A concentrao
de foras num ponto decisivo coisa
que est desde logo excluda. Deste
modo, a defesa iva a forma de luta
predominante. O ataque assumir aqui e
alm, mas s excepcionalmente, a
forma de surtidas e assaltos ocasionais aos flancos,
limitando-se em regra ocupao
das posies abandonadas pelas tropas
em retirada. Acrescente-se que do lado da tropa
se dispe de canhes e de tropa
de engenharia completamente equipada e treinada,
meios de combate esses que, na maior parte dos
casos, faltam por completo aos insurrectos. No
ira, pois, que mesmo as lutas de barricadas
travadas com o maior herosmo — Paris,
Junho de 1848, Viena, Outubro de 1848, Dresden,
Maio de 1849 — terminassem com a derrota
da insurreio, logo que os chefes
atacantes, sem estorvos de ordem poltica,
actuaram segundo pontos de vista puramente militares
e os seus soldados permaneceram fiis.
Os inmeros xitos dos insurrectos
at 1848 so devidos a causas muito
variadas. Em Paris, em Julho de 1830 e Fevereiro
de 1848, como na maior parte das lutas de rua
em Espanha, havia entre os insurrectos e a tropa
uma milcia civil que ou se punha directamente
do lado da rebelio ou tomava uma atitude
tbia e indecisa que levava as tropas a
vacilar, e, alm disso, fornecia armas
rebelio. Onde esta milcia
se colocava logo contra a rebelio, esta
estava perdida, como aconteceu em Paris em Junho
de 1848. Em Berlim, em 1848, o povo venceu devido
em parte aos reforos chegados durante
a noite e a manh do dia 19 [de Maro],
em parte ao esgotamento e deficiente
alimentao das tropas e, em parte
ainda, em consequncia da paralisia do comando.
Todavia, em todos os casos onde se conseguiu a
vitria foi porque as tropas no
obedeceram, porque faltou capacidade de deciso
aos comandantes ou porque estes tinham as mos
atadas.
Mesmo no perodo clssico das lutas
de ruas, a barricada tinha portanto um efeito
mais moral do que material. Era um meio de abalar
a firmeza da tropa. Se se aguentava at
se conseguir este objectivo, alcanava-se
a vitria; se no, era a derrota.
E este o aspecto principal que preciso
ter em conta mesmo quando se estuda as possibilidades
das lutas de rua que eventualmente venham a ter
lugar.
Estas possibilidades eram j em 1849 bastante
ms. Por toda a parte a burguesia se tinha
ado para o lado dos governos. A "cultura
e a propriedade" saudavam e obsequiavam os
soldados que marchavam contra as insurreies.
A barricada tinha perdido o seu encanto; o soldado
j no via atrs dela o "povo",
mas sim rebeldes, agitadores, saqueadores, partilhadores
[Teiler], escria da sociedade; os oficiais,
com o correr do tempo, tinham aprendido novas
tcticas da luta de ruas e j no
marchavam sempre em frente e a peito descoberto
para o improvisado parapeito, mas antes deslocavam-se
por entre os jardins, os ptios e as casas.
E isto, com alguma percia, dava resultado
em noventa por cento dos casos.
Desde essa altura muitas coisas se tm modificado
e tudo a favor da tropa. Se as grandes cidades
se tornaram consideravelmente maiores, os exrcitos
aumentaram ainda mais. Desde 1848, Paris e Berlim
aumentaram menos que quatro vezes; as suas guarnies,
contudo, cresceram mais do que isso. Devido ao
caminho-de-ferro estas guarnies
podem mais do que duplicar-se em 24 horas e em
48 horas atingir as propores de
um exrcito gigantesco. O armamento deste
nmero enormemente reforado de
tropas torna-se incomparavelmente mais eficaz.
Em 1848 havia a espingarda de percusso
e retrocarga; hoje existe a espingarda de repetio
de reduzido calibre que alcana quatro
vezes mais longe, dez vezes mais precisa
e dez vezes mais rpida do que aquela.
Dantes havia os projcteis esfricos
macios e as balas de artilharia de efeito
relativamente fraco; hoje espoletas de percusso
das quais uma basta para fazer voar em pedaos
a melhor das barricadas. Dantes havia a picareta
dos sapadores para deitar abaixo as paredes mestras;
hoje os cartuchos de dinamite.
Do lado dos insurrectos, pelo contrrio,
pioraram todas as condies. Dificilmente
se dar de novo uma insurreio
com a qual todas as camadas do povo simpatizem;
na luta de classes nunca se agruparo provavelmente
em torno do proletariado todas as camadas mdias
de um modo to exclusivo que o partido
da reaco congregado em redor da
burguesia quase desaparea comparativamente.
O "povo" aparecer, pois, sempre
dividido e, assim, faltar uma poderosa
alavanca, que em 1848 to eficaz se mostrou.
Se vierem para o lado dos insurrectos mais soldados
com o servio cumprido, mais difcil
se tornar ainda o seu armamento. As espingardas
de caa e de luxo dos armeiros —
mesmo quando no so inutilizadas
antes pela polcia ao retirar-lhes uma
parte do co — no podem nem
de longe comparar-se mesmo na luta a curta distncia
espingarda de repetio
dos soldados. At 1848 era possvel
fabricar as munies de que se precisasse
com plvora e chumbo; hoje os cartuchos
so diferentes de arma para arma. Apenas
num ponto so iguais em toda a parte: no
facto de serem um produto elaborado da grande
indstria que, portanto, j no
pode ser fabricado ex tempore(7*)
; por conseguinte, a
maior parte das armas so inteis
desde que se no disponha das munies
adequadas para elas. Finalmente, os bairros das
grandes cidades, construdos desde 1848,
esto dispostos em ruas compridas, direitas
e largas, feitas como para a utilizao
dos novos canhes e espingardas. O revolucionrio
teria de ser louco para escolher as novas zonas
operrias situadas na parte norte e oriental
de Berlim para uma luta de barricadas.
Quer isto dizer que no futuro a luta de ruas deixar
de ter importncia? De modo nenhum. Significa
apenas que desde 1848 as condies
se tornaram muito mais desfavorveis para
os combatentes civis, muito mais favorveis
para a tropa. Por conseguinte, uma futura luta
de ruas s poder triunfar se esta
situao desvantajosa for compensada
por outros factores. Portanto, ocorrer
menos no princpio de uma grande revoluo
do que no decurso da mesma e ter que ser
levada a cabo com maiores foras. Estas,
porm, ho-de preferir a luta aberta
tctica iva da barricada como
aconteceu em toda a grande Revoluo
sa, em 4 de Setembro e em 31 de Outubro
de 1870, em Paris[N102].
Compreende agora o leitor por que que
os poderes dominantes querem pura e simplesmente
levar-nos para l onde a espingarda dispara
e o sabre talha? Por que que hoje nos
acusam de cobardia por no querermos ir
sem mais nem menos para a rua onde sabemos de
antemo que a derrota nos espera? Por que
que nos suplicam to insistentemente
que sirvamos de carne para canho?
Esses senhores desperdiam totalmente em
vo as suas splicas e os seus desafios.
No somos assim to estpidos.
como se na prxima guerra exigissem
ao seu inimigo que se colocasse em linha como
no tempo do velho Fritz(8*)
ou em colunas de divises inteiras
la(9*)
Wagram e Waterloo[N103]
e alm disso com a espingarda de pederneira
na mo. Mas se as condies
da guerra entre naes se modificaram,
tambm para a luta de classes no
se modificaram menos. O tempo dos ataques de surpresa,
das revolues levadas a cabo por
pequenas minorias conscientes frente
das massas inconscientes, j ou. Sempre
que se trata de uma transformao
completa da organizao social so
as prprias massas que devem estar metidas
nela, tm de ter compreendido j
o que est em causa, por que que
do o sangue e a vida. Isto foi o que a
histria dos ltimos cinquenta anos
nos ensinou. Mas para que as massas entendam o
que h a fazer necessrio
um longo e perseverante trabalho; e esse trabalho
precisamente o que agora estamos realizando
e com um xito que leva os nossos adversrios
ao desespero.
Tambm nos pases latinos se compreende
cada vez mais que necessrio rever
a velha tctica. Por toda a parte se imitou
o exemplo alemo do emprego do direito
de voto, da conquista de todos os lugares que
nos so veis, por toda a parte
ou para segundo plano o ataque sem preparao.
Em Frana, onde desde h mais de
cem anos o terreno est minado por revoluo
atrs de revoluo, onde
no existe um nico partido que
no tenha no seu activo conspiraes,
insurreies e todas as outras aces
revolucionrias; em Frana, onde,
em consequncia disso, o exrcito
de modo nenhum seguro para o governo
e onde as condies para um golpe
de mo insurreccional so muito
mais favorveis do que na Alemanha —
mesmo em Frana os socialistas percebem
cada vez melhor que no lhes possvel
uma vitria duradoura a no ser
que antecipadamente ganhem para si a grande massa
do povo, isto , neste caso os camponeses.
Tambm aqui se reconhece que a tarefa imediata
do partido um lento trabalho de propaganda
e de actividade parlamentar. Os xitos no
se fizeram esperar. No s se conquistou
toda uma srie de conselhos municipais,
como tambm nas Cmaras h
50 socialistas que j derrubaram trs
ministrios e um presidente da Repblica.
Na Blgica, no ano ado os operrios
conquistaram o direito de voto e venceram num
quarto dos crculos eleitorais. Na Sua,
na Itlia, na Dinamarca, mesmo na Bulgria
e na Romnia, os socialistas esto
representados no Parlamento. Na ustria,
todos os partidos so unnimes em
afirmar que a nossa entrada para o Reichsrat
no nos poder ser vedada por muito
mais tempo. No subsistem dvidas
que entraremos; a nica coisa que est
em discusso por que porta. E
at na Rssia, quando se rene
o clebre Zemski Sobor, essa Assembleia
Nacional contra a qual o jovem Nicolau
resiste to sem xito, at
a podemos ter a certeza de que viremos
a estar representados.
evidente que os nossos camaradas estrangeiros
no renunciam ao seu direito revoluo.
O direito revoluo
sem dvida o nico "direito"
realmente "histrico",
o nico em que assentam todos os Estados
modernos sem excepo, incluindo
Mecklenburg, cuja revoluo da nobreza
terminou em 1755 com o "pacto sucessrio"
["Erbvergleich"], essa gloriosa
carta do feudalismo[N104]
ainda hoje vigente. O direito
revoluo est to
incontestavelmente reconhecido pela conscincia
universal que at o general von Boguslawski
faz derivar unicamente desse direito do povo o
direito ao golpe de Estado que reivindica para
o seu imperador.
Mas, acontea o que acontecer noutros pases,
a social-democracia alem tem um lugar
especial e consequentemente, pelo menos para j,
tambm uma tarefa especial. Os dois milhes
de eleitores que envia s urnas, juntamente
com os jovens e as mulheres que, no votando,
se encontram por detrs deles, constituem
a massa mais numerosa, mais compacta, a "fora
de choque" decisiva do exrcito proletrio
internacional. Essa massa lana j
hoje nas urnas um quarto dos votos expressos;
e, como demonstram as eleies suplementares
para o Reichstag, as eleies para
as dietas dos diferentes Estados, as eleies
para os conselhos municipais e as eleies
para os tribunais de artesos, ela cresce
sem cessar. O seu crescimento d-se to
espontaneamente, to constantemente, to
imparavelmente e, ao mesmo tempo, to tranquilamente
como um processo da natureza. Todas as intervenes
do governo provaram nada conseguir contra ele.
J podemos contar com 2 1/4 milhes
de eleitores. Se isto continuar assim, conquistaremos
at ao fim do sculo a maior parte
das camadas mdias da sociedade, tanto
os pequenos burgueses como os pequenos camponeses,
e transformar-nos-emos na fora decisiva
do pas perante a qual todas as outras
foras, quer queiram ou no, tero
de se inclinar. Manter ininterruptamente este
crescimento at que de si mesmo se torne
mais forte que o sistema de governo actual, no
desgastar em lutas de vanguarda esta fora
de choque que dia a dia se refora, mas
sim mant-la intacta at ao dia da
deciso, a nossa principal tarefa.
Existe apenas um meio que poderia levar a que
o constante aumento das foras de combate
socialistas na Alemanha fosse momentaneamente
detido e at retrocedesse durante algum
tempo: um confronto em grande escala com a tropa,
uma sangria como em 1871 em Paris. A longo prazo,
acabaria por se recompor. Para fazer desaparecer
do mundo a tiro um partido que se conta por milhes
no chegam todas as espingardas de repetio
da Europa e da Amrica. Mas o desenvolvimento
normal seria travado, a fora de choque
no estaria talvez operacional no momento
crtico, a luta decisiva seria retardada,
prolongada e seria acompanhada de pesados sacrifcios.
A ironia da histria universal pe
tudo de cabea para baixo. Ns,
os "revolucionrios", os "subversivos",
prosperamos muito melhor com os meios legais do
que com os ilegais e a subverso. Os partidos
da ordem, como eles se intitulam, afundam-se com
a legalidade que eles prprios criaram.
Exclamam desesperados com Odilon
Barrot: La legalit nous tue,
a legalidade mata-nos, enquanto ns, com
essa legalidade, revigoramos os nossos msculos
e ganhamos cores nas faces e parecemos ter vida
eterna. E se ns no formos loucos
a ponto de lhes fazermos o favor de nos deixarmos
arrastar para a luta de rua, no lhes restar
outra sada seno serem eles prprios
a romper esta legalidade to fatal para
eles.
Por agora elaboram novas leis contra a subverso.
De novo tudo de cabea para baixo. Estes
fanticos da anti-subverso de hoje
no so eles prprios os
subversivos de ontem? Teremos sido ns
quem provocou a guerra civil de 1866? Fomos ns
quem expulsou o rei de Hannover, o prncipe
eleitor de Hessen e o duque de Nassau dos territrios
que por herana legitimamente lhes pertenciam
e anexou esses mesmos territrios? E esses
subversivos da Confederao Germnica
e de trs coroas por graa de Deus
ainda se queixam da subverso? Quis
tulerit Gracchos de seditione querentes?(10*)
Quem poderia permitir aos adoradores
de Bismarck
injuriar a subverso?
Ainda que consigam impor os seus projectos de
lei contra a subverso, que os tornem ainda
mais severos, que transformem todo o cdigo
penal em borracha, nada conseguiro seno
dar uma nova prova da sua impotncia. Para
atacarem seriamente a social-democracia tero
de lanar mo de medidas totalmente
diferentes. S podero levar a melhor
sobre a subverso social-democrata, a qual
neste momento vive de respeitar as leis, pela
subverso dos partidos da ordem, a qual
no pode viver sem violar a lei. Herr
Rssler,
o burocrata prussiano, e Herr von Boguslawski,
o general prussiano, indicaram-lhes o nico
caminho pelo qual ainda se pode talvez levar a
melhor sobre os operrios, que agora j
no se deixam atrair para a luta de ruas.
Ruptura da Constituio, ditadura,
regresso ao absolutismo, regis voluntas suprema
lex!(11*).
Portanto, coragem meus senhores, deixem-se de
conversas e arregacem as mangas!
Mas no se esqueam que o Imprio
Germnico, com todos os pequenos Estados
e, em geral, todos os Estados modernos,
produto de um contrato. Em primeiro lugar,
do contrato dos prncipes entre si; em
segundo lugar, dos prncipes com o povo.
Se uma das partes quebrar o contrato, todo o contrato
fica sem efeito, deixando, por conseguinte, a
outra parte de estar vinculada. Como em 1866 Bismarck
to brilhantemente nos mostrou. Se, portanto,
os senhores violarem a Constituio
do Reich, a social-democracia ficar livre
e poder fazer ou no fazer a vosso
respeito o que muito bem entender. Mas o que ela
ento far — isso
coisa que muito dificilmente lhes diremos hoje.
Faz hoje quase 1600 anos que no Imprio
Romano actuava tambm um perigoso partido
subversivo. Esse partido minava a religio
e todos os fundamentos do Estado; negava sem rodeios
que a vontade do imperador fosse a lei suprema;
era um partido sem ptria, internacional,
estendia-se por todo o Imprio desde a
Glia sia e mesmo para
l das fronteiras imperiais. Durante muito
tempo minara s escondidas, sob a terra.
Todavia, j h muito tempo que se
considerava suficientemente forte para aparecer
luz do dia. Esse partido subversivo,
que era conhecido pelo nome de cristos,
tinha tambm uma forte representao
no exrcito; legies inteiras eram
crists. Quando lhes ordenavam que estivessem
presentes nas cerimnias sacrificiais da
igreja oficial, para a prestarem as honneurs(12*),
esses soldados subversivos levavam o seu atrevimento
to longe que, como protesto, punham no
capacete uns distintivos especiais: cruzes. Mesmo
os vulgares castigos dos quartis pelos
seus superiores no surtiam qualquer efeito.
O imperador Diocleciano
j no podia assistir tranquilamente
ao minar da ordem, da obedincia e da disciplina
dentro do seu exrcito. Interveio energicamente
porque ainda era tempo para isso. Emitiu uma lei
contra os socialistas, queria dizer, uma lei contra
os cristos. Foram proibidas as reunies
de subversivos, os locais de reunio encerrados
ou demolidos, os smbolos cristos,
cruzes, etc, proibidos, como na Saxnia
os lenos vermelhos. Os cristos
foram declarados incapacitados para ocuparem cargos
pblicos, e nem sequer podiam ser cabos.
Como nessa altura no se dispunha de juizes
to bem amestrados no respeitante
"considerao da pessoa"
como o pressupe o projecto de lei contra
a subverso[N105]
do senhor Herrn von Kller, proibiu-se
sem mais rodeios os cristos de defender
os seus direitos perante o tribunal. Mas at
esta lei de excepo no
teve xito. Os cristos arrancaram-na
dos muros, escarnecendo dela, e diz-se mesmo que
deitaram fogo ao palcio, em Nicomdia,
nas barbas do imperador. Este vingou-se com a
grande perseguio aos cristos
do ano 303 da nossa era. Foi a ltima no
seu gnero. E foi to eficaz que
dezassete anos mais tarde o exrcito era
composto predominantemente por cristos
e o autocrata de todo o Imprio Romano
que se lhe seguiu, Constantino,
chamado pelos padres o Grande, proclamou o cristianismo
religio de Estado.
Londres,
6 de Maro de 1895
Friedrich Engels
continua>>>
Incio
da pgina
Notas
de rodap:
(1*)
Ver o presente tomo, pp. 209-295. (Nota da edio
portuguesa.) (retornar ao texto)
(2*)
Ver o presente tomo, p. 299. (Nota da edio
portuguesa.) (retornar ao texto)
(3*)
Ver o presente tomo, pp. 417-512. (Nota da edio
portuguesa.) (retornar ao texto)
](4*)
Ver o presente tomo, pp. 240-241. (Nota da edio
portuguesa.) (retornar ao texto)
(5*)
Isto : o regresso ao Imprio. (Nota
da edio portuguesa.) (retornar
ao texto)
(6*)
Isto : a Cmara da Prssia
que entrou em seguida em conflito com o governo.
(retornar ao texto)
(7*)
Em latim no texto: imediatamente, improvisadamente.
(Nota da edio portuguesa.) (retornar
ao texto)
(8*)
Fredrico II. (retornar ao texto)
(9*)
Em francs no texto: maneira de.
(Nota da edio portuguesa.) (retornar
ao texto)
(10*)
Em latim no texto: Quem tolerar que os
Gracos se queixem de uma sedio?
(Juvenal, Stira II). (Nota da edio
portuguesa.) (retornar ao texto)
(11*)
Em latim no texto: a vontade do rei a
lei suprema! (Nota da edio portuguesa.)
(retornar ao texto)
(12*)
Em francs no texto: honras. (Nota da edio
portuguesa.) (retornar ao texto)
Notas
de fim de tomo:
[N61]
No original ingls squirearchy
(equivalente ao alemo Junkertum):
no sentido , latifundirios aristocratas
da Prssia oriental; no sentido lato, classe
dos latifundirios alemes. (retornar
ao texto)
[N71]
Neue Rheinische Zeitung. Organ der Demokratie
(Nova Gazeta Renana. rgo
da Democracia): jornal que se publicou em Colnia
sob a direco de Marx de 1 de Junho
de 1848 a 19 de Maio de 1849; Engels fazia parte
da redaco. (retornar
ao texto)
[N88]
A Introduo ao trabalho de K. Marx
As Lutas de Classes em Frana de 1848
a 1850 foi escrita por Engels para a edio
em separado do trabalho, publicada em Berlim em
1895.
Depois de mostrar a importncia da anlise
do curso e das lies da revoluo
de 1848-1849, feita no trabalho de Marx, Engels
dedica uma parte importante da sua introduo
generalizao da experincia
posterior da luta de classe do proletariado, particularmente
na Alemanha. Engels sublinha no seu trabalho a
necessidade da utilizao revolucionria
de todos os mtodos legais com vista
preparao do proletariado para
a revoluo socialista, da hbil
combinao da luta pela democracia
com a luta pela revoluo socialista,
da submisso da primeira tarefa
segunda. Na sua introduo Engels
fundamenta de novo a tese angular do marxismo
sobre a escolha dos mtodos tcticos
e das formas de luta de acordo com a situao
histrica concreta, sobre a necessidade
de substituir as formas pacficas, preferveis
para o proletariado, de actividade revolucionria
por formas no pacificas, no caso de as
classes dominantes reaccionrias recorrerem
violncia.
Ao publicar a introduo, a Direco
do Partido Social-Democrata da Alemanha pediu
com insistncia a Engels que suavizasse
o tom, demasiado revolucionrio na opinio
da Direco, do trabalho, e lhe
desse uma forma mais cautelosa. Engels criticou
a posio vacilante da direco
do Partido, o seu desejo de "agir exclusivamente
no quadro da legalidade". No entanto, obrigado
a ter em conta as opinies da Direco,
Engels acedeu a omitir nas provas tipogrficas
uma srie de agens e a modificar algumas
formulaes. Nesta edio
publica-se o texto integral da introduo.
Ao mesmo tempo, certos dirigentes da social-democracia
tentaram, com base neste trabalho, apresentar
Engels como partidrio da via exclusivamente
pacfica, em quaisquer circunstncias,
de agem do poder para a classe operria,
como se Engels fosse um paladino da "legalidade
a todo o custo". Profundamente indignado,
Engels insistiu em que a sua introduo
fosse publicada na revista Neue Zeil.
No entanto, tambm aqui ela foi publicada
com os mesmos cortes que o autor tivera que fazer
na referida edio em separado.
Mas mesmo com os cortes a introduo
conserva inteiramente o seu carcter revolucionrio.
O texto integral da introduo de
Engels foi publicado pela primeira vez na URSS
em 1930, no livro de K. Marx As Lutas de Classes
em Frana de 1848 a 1850. (retornar
ao texto)
[N89]
Neue Rheinische Zeitung. Politisch-konomische
Revue (Nova Gazeta Renana. Revista Poltico-Econmica):
revista fundada por Marx e Engels em 1849 e por
ele editada at Novembro de 1850; rgo
terico e poltico da Liga
dos Comunistas. Imprimia-se em Hamburgo. Saram
seis nmeros. Deixou de existir devido
s perseguies policiais
na Alemanha e falta de meios materiais.
(retornar ao texto)
[N90]
Trata-se das dotaes governamentais
que Engels designa ironicamente com o nome de
uma propriedade de Bismarck
na floresta da Saxnia, perto de Hamburgo,
e que lhe foi oferecida por Guilherme
I. (retornar ao texto)
[N91]
In partibus infidelium (literalmente:
no pas dos infiis): adio
ao ttulo dos bispos catlicos designados
para cargos puramente nominais em pases
no cristos. Esta expresso
encontra-se frequentemente em Marx e Engels aplicada
a diferentes governos emigrados, formados no estrangeiro
sem ter minimamente em conta a situao
real no pais. (retornar ao texto)
[N92]
Trata-se dos dois partidos monrquicos
da burguesia sa na primeira metade do sculo
XIX: os legitimistas (ver a nota 59) e os orleanistas.
Orleanistas: partidrios dos duques de
Orlees, ramo secundrio da dinastia
dos Bourbons, que se mantiveram no poder desde
a revoluo de Julho de 1830 at
serem derrubados pela revoluo
de 1848; representavam os interesses da aristocracia
financeira e da grande burguesia.
No perodo da Segunda Repblica
(1848-1851) ambos os agrupamentos monrquicos
constituram o ncleo do "partido
da ordem", partido conservador unificado.
(retornar ao texto)
[N93]
Sob Napoleo
III a Frana participou na guerra da
Crimeia (1854-1855), entrou em guerra com a ustria
por causa da Itlia (1859), participou,
juntamente com a Inglaterra, nas guerras contra
a China (1856-1858 e 1860), iniciou a conquista
da Indochina (1860-1861), organizou a interveno
armada na Sria (1860-1861) e no Mxico
(1862-1867), e, finalmente, entrou em guerra contra
a Prssia (1870-1871). (retornar
ao texto)
[N94]
F. Engels emprega um termo que se tornou a expresso
de um dos princpios da poltica
externa dos crculos dirigentes do Segundo
Imprio bonapartista (1852-1870). O chamado
"princpio da nacionalidade"
foi amplamente utilizado pelas classes dirigentes
dos grandes Estados como disfarce ideolgico
dos seus planos de conquista e das suas aventuras
em poltica externa. Nada tendo de comum
com o reconhecimento do direito dos povos
autodeterminao, o "princpio
da nacionalidade" visava atiar as
discrdias nacionais e transformar o movimento
nacional, particularmente os movimentos dos povos
pequenos, em instrumento da poltica contra-revolucionria
dos grandes Estados em luta entre si. (retornar
ao texto)
[N95]
A Confederao Germnica,
criada em 8 de Junho de 1815 no Congresso de Viena,
constitua uma unio dos Estados
alemes absolutstas-feudais e consolidou
o fraccionamento poltico e econmico
da Alemanha. (retornar ao texto)
[N96]
Em resultado da vitria sobre a Frana
durante a guerra franco-prussiana (1870-1871)
surgiu o Imprio Alemo, do qual
foi, no entanto, excluda a ustria.
Da as expresses "Imprio
pequeno-alemo" e "Pequena Alemanha",
A derrota de Napoleo
III deu um impulso revoluo
em Frana, que derrubou Lus Bonaparte
e levou instaurao da
repblica em 4 de Setembro de 1870. (retornar
ao texto)
[N97]
Guarda Nacional: milcia voluntria
civil armada, com comandos eleitos, que existiu
em Frana e em alguns outros Estados da
Europa ocidental. Foi criada pela primeira vez
em Frana em 1789, no incio da
revoluo burguesa; existiu com
intervalos at 1871. Em 1870-1871, a Guarda
Nacional de Paris, para a qual entraram, nas condies
da guerra franco-prussiana, amplas massas democratas,
desempenhou um grande papel revolucionrio.
Criado em Fevereiro de 1871, o Comit Central
da Guarda Nacional encabeou a insurreio
proletria de 18 de Maro de 1871
e no perodo inicial da Comuna
de Paris de 1871 exerceu (at 28 de
Maro) as funes de primeiro
governo proletrio da histria.
Depois do esmagamento da Comuna
de Paris a Guarda Nacional foi dissolvida.
(retornar ao texto)
[N98]
Depois da sua derrota na guerra franco-prussiana
de 1870-1871, a Frana pagou Alemanha
uma indemnizao de cinco mil milhes
de francos. (retornar ao texto)
[N99]
A lei anti-socialista foi promulgada na Alemanha
em 21 de Outubro de 1878. Segundo esta lei eram
proibidas todas as organizaes
do partido social-democrata, as organizaes
operrias de massas, a imprensa operria,
era confiscada a literatura socialista e os sociais-democratas
eram reprimidos. Sob a presso do movimento
operrio de massas a lei foi abolida em
1 de Outubro de 1890. (retornar
ao texto)
[N100]
O sufrgio universal foi introduzido por
Bismarck
em 1866 para as eleies para o
Reichstag da Alemanha do Norte, e em
1871 para as eleies para o Reichstag
do Imprio Germnico unificado. (retornar
ao texto)
[N101]
Engels cita a introduo terica
escrita por Marx para o programa do Partido Operrio
Francs, adoptado no Congresso do Havre
em 1880. (retornar ao texto)
[N102]
Em 4 de Setembro de 1870, graas
interveno revolucionria
das massas populares, foi derrubado em Frana
o governo de Lus
Bonaparte e proclamada a repblica.
Em 31 de Outubro de 1870 teve lugar uma tentativa
falhada dos blanquistas
de realizar uma insurreio contra
o Governo de Defesa Nacional. (retornar
ao texto)
[N103]
A batalha de Wagram decorreu em 5 e 6 de Julho
de 1809 durante a guerra austro-sa de
1809. Nesta
batalha as tropas sas, sob o comando de
Napoleo
I, infligiram uma derrota ao exrcito
austraco do arquiduque Carlos.
A batalha de Waterloo (Blgica) teve lugar
em 18 de Junho de 1815. O exrcito de Napoleo
foi derrotado. A batalha de Waterloo desempenhou
um papel decisivo na campanha de 1815, determinando
a vitria definitiva da coligao
antinapolenica das potncias europeias
e a queda do imprio de Napoleo
I. (retornar ao texto)
[N104]
Engels refere-se prolongada luta entre
o poder ducal e a nobreza nos ducados de Mecklenburg-Schwerin
e Mecklenburg-Strelitz, que terminou com a ,
em Rostock em 1755, de um tratado constitucional
sobre os direitos hereditrios da nobreza.
O tratado confirmou os seus foros e privilgios
anteriores, consolidou o seu papel dirigente nas
dietas organizadas na base dos
estados sociais; libertou de impostos metade das
suas terras; fixou o volume dos impostos sobre
o comrcio e o artesanato e tambm
a parte de ambos nos gastos do Estado. (retornar
ao texto)
[N105]
Em 5 de Dezembro de 1894 foi apresentado ao Reichstag
alemo o projecto de uma nova lei contra
os socialistas. Este projecto foi rejeitado em
11 de Maio de 1895. (retornar
ao texto)
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