Jornal
de Natal, 30.07.01 pg. 9 (1 caderno) 1g60z
1g2312
Monitoramento
da violncia necessita de
apoio do governo do Estado e da UFRN 5t344h
Paulo
Augusto 1w5l4e
O
mapeamento da violncia registrada no Rio Grande do Norte poder
tornar-se uma atividade comum no Estado, contando com a
possibilidade de medidas para preveno e reduo de sua incidncia,
com a formao de um banco de dados que o Centro de Direitos
Humanos e Memria Popular planeja implementar, em parceria com a
universidade e os rgos da istrao pblica.
Na
semana ada, o vice-prefeito de Recife, Luciano Rosas Siqueira
(PC do B) esteve em Natal demonstrando como funciona o trabalho de
mapeamento na capital pernambucana, a partir de um trabalho
conjunto com diversas secretarias do municpio.
A
partir da verificao de que a maior incidncia de bitos no
Recife se d por homicdios, fato registrado principalmente
entre adolescentes e jovens adultos, entre 15 e 29 anos, seguido
de altas taxas de violncia infligida criana e mulher, a
Prefeitura do Recife criou o Comit de Promoo de Direitos
Humanos e Preveno Violncia, com o objetivo de tecer
diretamente sobre as fontes dessas incidncias.
Segundo
o vice-prefeito Luciano Siqueira, o comit tem como funo
primordial articular, mobilizar, sugerir e apoiar projetos de
promoo social desenvolvidos pelas secretarias municipais,
integrando as aes para uma poltica de promoo e garantia
dos direitos humanos e preveno violncia.
De
acordo com o coordenador do Centro de Direitos Humanos, economista
Roberto Monte, a questo dos Mapas da Violncia est sendo
discutida no Brasil inteiro.
Agora
voc tem que contextualizar esses mapas da violncia. Ele
acontece num contexto de construo de sistemas nacionais de
proteo aos direitos humanos. Ou seja, trata-se de um subsdio
que vai nortear os programas estaduais de Direitos Humanos, os
conselhos estaduais, as ONGs. Na verdade, voc tem que
raciocinar isso como um paradigma. E eu vejo que, com a entrada
dos mapas da violncia, a partir de agora se comea a ter
efetivamente a participao nessa discusso da academia e de
pesquisadores, diz Roberto, indicando a necessidade do trabalho
conjunto com a universidade e rgos estaduais que j trabalham
com a questo.
Porque
no mapa da violncia, para voc entrar, tem que ter
perquisadores. Qualquer tipo de mapa da violncia tem que ter por
trs um grande aparato. Essa luta pelos direitos humanos at
agora sempre foi uma luta de pessoas e de grupos. A partir de
agora, eu acho que a coisa pode ficar mais ampla. A sociedade,
enquanto estrutura, como os prprios aparelhos do Estado, tm
que, a partir de agora, efetivamente, participar desse tipo de
coisa, porque, com um mapa da violncia, pode-se definir polticas
pblicas. E grupos, como uma ONG, por exemplo, no fazem poltica
pblica. Ele pode at influir.
Com
o trabalho a ser realizado, ampliando as atividades que j so
feitas pelo Centro de Direitos Humanos, no monitoramento das ocorrncias
de violncia no Estado, a-se a querer entender a gnese da
violncia, aprofundando suas causas e seus efeitos.
como algum que faz uma pesquisa do Ibope. Ou o tipo de pesquisa
para saber a evoluo de candidato A, candidato B, seu nvel de
rejeio. Com isso, convidamos o vice-prefeito de Recife,
Luciano Rosas Siqueira, para ele expor para a gente o que isto,
j que os nossos dados, em geral, so muito fora do nordeste. A
gente sempre fala de Rio, so Paulo, e precisamos falar de coisas
que esto acontecendo aqui perto. A gente pegou um dia desses um
mapa da violncia que aconteceu aonde? Em Osasco, So Paulo.
Quer dizer, o mapa da violncia que acontece em outros Estados
da Federao, j que um tipo de preocupao que est
pipocando no Brasil inteiro.
Segundo
Roberto Monte, em breve o RN contar com a Rede Estadual de
Direitos Humanos, voltada para pensar e agir os direitos humanos,
em todo o territrio potiguar.
Podemos
dar como exemplo todas as ocorrncias que se verificaram
recentemente em Macau. E a partir de agora a gente est querendo
Ter essa viso estadual, com a participao de atores locais.
Hoje tem as prprias Comisses de Justia e Paz que no
funcionam muito a contento. Queremos dar uma nova roupagem para
esse tipo de necessidade. H um trabalho localizado na regio
Oeste, no Serid, na regio Salineira e, a partir de agora, pode
haver a possibilidade de Ter efetivamente uma rede estadual. Temos
um projeto de, dentro da rede, agregar ncleos locais, de bairro.
De modo que voc est em Macau, e acontece aquela confuso
todinha, e est todo mundo l. que se precisa Ter um dreno,
com uma nucleao da luta pelos direitos humanos, partindo de
alguns atores e de alguns instrumentais. Ento, esse mapeamento
vai aparecer em funo disso.
No
Recife, o trabalho de mapeamento da violncia, realizado pelo
Comit de Promoo de Direitos Humanos e Preveno Violncia,
criado atravs do decreto 18.815/01, em abril ltimo, priorizou
inicialmente as mortes por homicdio, violncia criana e
adolescente e mulher. Para tanto, partiu para a caracterizao
dos bairros mais violentos, classificando os tipos de violncia
que mais se destacam. No mapeamento, devero ser levados em conta
dados como sexo, cor, vtima, infrator e idade, entre outros.
O
trabalho inicial, feito com apoio de dados do Sistema de Informaes
de Mortalidade (SIM), do Datasus do Ministrio da Sade, com
estudo de trs categorias indicadoras de situao de violncia:
bitos, por acidentes de transporte, como indicativos da violncia
cotidiana nas ruas e nos mbitos de convivncia; bitos por
homicdios e outras violncias que acabam em morte; e suicdios,
como indicadores de violncia e leses auto-infligidas.
Na
trabalho do Comit, formado por representantes das secretarias de
Assuntos Jurdicos, Polticas Sociais, Planejamento, Servios Pblicos,
sade, Educao, tendo como coordenador o vice-prefeito,
procura-se articular a populao atravs de seminrios nas
seis regies poltico-istrativas do Recife.
Para
maior dinamismo e resultados satisfatrios, foi proposta uma
articulao junto ao governo do Estado e s prefeituras dos
municpios que compem a regio Metropolitana, para desenvolver
uma poltica conjunta de preveno violncia e promoo
dos Direitos Humanos.
Os
estudos que servem de base ao trabalho revelam que a mortalidade
entre os jovens no s aumentou como est mudando sua configurao,
a partir do que se denomina como novos padres de mortalidade.
O
relatrio afirma que as epidemias e doenas infecciosas que eram
as principais causas de morte entre os jovens, h cinco ou seis dcadas,
foram substitudas, progressivamente, pelas denominadas causas
externas de mortalidade, principalmente os acidentes de trnsito
e os homicdios. Os dados do SIM permitem verificar esta forte
tendncia. Em 1980, as causas externas j eram responsveis
por mais da metade (52,9%) do total de morte de jovens do pas.
Em 1996, mais de 2/3 dos jovens (67,4%) morreram por essas causas
externas e, fundamentalmente, por homicdios e outras violncias
semelhantes, sublinha o documento.
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